Senegal: melhorar o acesso à saúde em Casamance
26-03-2009 Entrevista
Em 2008, Dr Joël Lagoutte realizou duas missões de avaliação para o CICV em Casamance, no sul do Senegal. Ele conta as repercussões adversas da situação de segurança na saúde da população local e os passos que o CICV dá para melhorar o acesso à assistência médica e o combate à malária e ao HIV/AIDS.
Como o senhor descreveria a situação de saúde em Casamance?
O sistema de saúde está bem desenvolvido. Quase todas as regiões de Casamance têm centros médicos e postos de saúde. Mas o sistema ainda não funciona completamente em todos as partes. A falta de segurança impede o trabalho do pessoal médico, como enfermeiros e as pessoas que realizam os programas de prevenção contra Aids, em algumas áreas da região de Fogny.
Os enfermeiros quase sempre se deparam com o próprio cen tro de saúde sem nenhum material médico, acesso aos registros necessários ou qualquer possibilidade de consultar os colegas. E a situação às vezes impede os pacientes de irem aos centros de saúde.
Por tudo isso, muitas crianças ainda não foram vacinadas adequadamente, mulheres grávidas não recebem os cuidados necessários e é difícil combater a malária. O principal problema é que as pessoas e as mercadorias não podem transitar livremente nessa área.
- Fogny é uma região no norte de Casamance, uma área do Senegal que tem sido destruída pela violência armada desde a década de 80.
- A malária, o HIV/AIDS e as infecções respiratórias são as principais doenças contra as quais a população (entre 50 e 80 mil pessoas) tem que lutar.
O que o CICV está fazendo para resolver esses problemas?
O CICV quer se certificar de que a população tenha acesso tanto aos serviços médicos preventivos quanto a tratamentos médicos cuja qualidade seja igual à do restante do país. Nosso objetivo é assegurar que o sistema de saúde funcione de maneira adequada ou, pelo menos, melhor. Fazemos o papel de intermediário neutro e facilitador. Nossa boa relação com todos daqui, as forças armadas e os grupos armados nos permite transitar na r egião. Podemos, portanto, dar caronas para enfermeiros até as aldeias ou para a farmácia mais próxima e garantir que os remédios fiquem em um lugar fresco ao levar uma geladeira para um centro de saúde.
Igualmente, o CICV conduz três programas de promoção da saúde com as autoridades de saúde: o primeiro tem como objetivo evitar a malária com a distribuição de mosquiteiros; o segundo trata de combater as doenças que causam diarreia – esse programa está especialmente voltado para crianças e lhes ensina a seguir as regras de higiene e beber água própria para o consumo; o terceiro trata de alertar o público sobre os perigos do HIV/AIDS.
O que há de especial na ação do CICV?
Em Casamance, o CICV não precisa levar material médico como na região de Darfur, no Sudão, ou na Somália, por exemplo. O material médico já está lá. Simplesmente temos que facilitar o trânsito de pessoas e mercadorias. Isso se encaixa perfeitamente no mandato do CICV. O que estamos fornecendo não é tão importante quando o fato de estarmos ajudando o sistema a funcionar melhor.
Conheci várias mulheres que diziam que estavam indo para Gambia para vacinar suas crianças – uma viagem cara. Agora, graças à ajuda do CICV, a vacinação acontece nas aldeias onde as crianças moram.