Sudão do Sul: cólera ameaça milhares de vidas durante intensa estação de chuvas

23-07-2014 Relatório de operações

Com a estação das chuvas quase em seu apogeu no Sudão do Sul, o cólera continua espalhando-se no país já castigado pela guerra. Apoiada pelos seus parceiros do Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a Cruz Vermelha do Sudão do Sul esforça-se para evitar que a epidemia se alastre ainda mais nos estados de Eastern Equatioria e Upper Nile.

As condições inadequadas de saneamento e a falta de água potável colocam milhares de pessoas já afetadas pela violência em uma situação de risco ainda maior. “Com milhares de pessoas afetadas e quase 100 mortes já constatadas, a epidemia de cólera que começou em meados de junho aumentou rapidamente. Ela se alastrará com velocidade se medidas imediatas não forem tomadas”, afirmou o engenheiro do CICV, Jonathan Pease, que coordena a resposta da organização em questões relacionadas com abastecimento de água e saneamento.

“A falta de banheiros em muitas áreas e o início da estação das chuvas trazem como consequências que as fezes sejam levadas pela água até os rios; os mesmos de onde as pessoas obtêm água para beber. Isto pode ser fatal”, ele acrescentou.
A resposta conjunta do CICV, da Cruz Vermelha do Sudão do Sul, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e outras Sociedades da Cruz Vermelha difere de um lugar para outro, dependendo de cada situação particular.

Em Torit, o CICV e a Cruz Vermelha do Sudão do Sul criaram um sistema temporário de emergência para o tratamento de água que está fornecendo água potável  para até 40 mil pessoas. A Federação Internacional também está colaborando com soluções para o fornecimento de água segura para combater doenças fatais.

“Quando escutei que o cólera estava matando tantas pessoas, fiquei chocado. Meu povo não merece isso.  Primeiro, as pessoas eram mortas em tiroteios e agora são por uma doença que pode ser facilmente prevenida”, contou Martin Lungur, de 24 anos, um voluntário da Cruz Vermelha do Sudão do Sul, da cidade de Torit.

Em Torit, centenas de voluntários comprometidos como Martin visitam casa por casa, distribuindo sais para reidratação oral e sabão, além de demonstrar quais devem ser os cuidados básicos de higiene e como  usar os tabletes de purificação de água.

“Dizemos às pessoas que lavar as mãos e ferver a água podem salvar suas vidas”, continua Martin. “Lembro-me de um menino de oito anos que estava em uma das casas que visitamos. Ele tinha cólera, mas sua mãe não tinha a menor ideia de como proceder.

Dei-lhe sais para reidratação oral e levei-o ao hospital. Ele sobreviveu. Salvar sua vida foi a coisa mais importante que fiz na minha vida”.

Para transmitir esta informação que pode salvar vidas, o pessoal da Cruz Vermelha do Sudão do Sul também está lançando mão de anúncios em rádios, programas de entrevistas e apresentações em  mercados e outros lugares públicos.

Em Kodok e Lul, onde não há rádios locais, o CICV e a Cruz Vermelha do Sudão do Sul estão instalando sistemas de som portáteis em lugares públicos. Entre estes lugares encontra-se o porto, onde duas organizações instalaram centros de tratamento do cólera, duchas para pés e torneiras para lavar as mãos para as pessoas que chegam e deixam a localidade por barco, a fim de prevenir a propagação desta doença.

Em vários outros condados, a Cruz Vermelha do Sudão do Sul lançou atividades de conscientização nas áreas afetadas por surtos de cólera, trabalhando em conjunto com a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e outras Sociedades da Cruz Vermelha. O CICV está complementando esta resposta em áreas particularmente afetadas pelo conflito armado.

Ao mesmo tempo, o CICV e a Cruz Vermelha do Sudão do Sul também estão:

  • melhorando o sistema de abastecimento de água existente e ampliando as redes para chegar até os centros de tratamento do cólera e os centros de assistência básica à saúde em Kodok;
  • instalando sistemas de tratamento de água em Lul para mais de 6 mil pessoas;
  • montando estações de reidratação oral em lugares chave afetados pelo surto;
  • construindo ao redor de 125 banheiros em lugares públicos importantes tais como escolas e mercados;
  • distribuindo sabão, baldes e galões para o transporte de água.

Desde o início da epidemia em meados de junho, o CICV:

  • forneceu itens de higiene e água tratada com cloro e ampliou o abastecimento de água nas prisões de Juba  e Torit;
  • construiu 300 banheiros no condado de Awerial no estado de Lakes, onde se encontra a maior concentração de pessoas deslocadas do Sudão do Sul, a fim de melhorar as condições de higiene e saneamento como medida preventiva contra o cólera.

Mais informações
Pawel Krzysiek, CICV Juba, tel: +211 912 36 00 38
Jean-Yves Clémenzo, CICV Genebra, tel: +41 22 370 22 71 ou +41 79 217 32 17

Foto

As carroças puxadas por burros são comumente utilizadas para transportar água desde o Rio Keniati. Rio acima, crianças e mulheres são vistas tomando banho e lavando roupa. As pessoas depois tomam desta mesma água, o que pode causar o cólera e outras doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. 

Condado de Torit, Eastern Equatoria, Sudão do Sul, julho de 2014.
As carroças puxadas por burros são comumente utilizadas para transportar água desde o Rio Keniati. Rio acima, crianças e mulheres são vistas tomando banho e lavando roupa. As pessoas depois tomam desta mesma água, o que pode causar o cólera e outras doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada.
/ CC BY-NC-ND / CICV / N. Iqbal / v-p-ss-e-00535

A informação sobre água potável se espalhou rápido por Torit e pelas áreas vizinhas. As carroças puxadas por burros se concentram para buscar o precioso líquido na estação de tratamento de água (ao fundo), instalada em caráter de emergência pelo CICV e pela Cruz Vermelha do Sudão do Sul. A estação pode chegar a fornecer água para até 40 mil pessoas. 

Condado de Torit, Eastern Equatoria, Sudão do Sul, julho de 2014.
A informação sobre água potável se espalhou rápido por Torit e pelas áreas vizinhas. As carroças puxadas por burros se concentram para buscar o precioso líquido na estação de tratamento de água (ao fundo), instalada em caráter de emergência pelo CICV e pela Cruz Vermelha do Sudão do Sul. A estação pode chegar a fornecer água para até 40 mil pessoas.
/ CC BY-NC-ND / CICV / M. Nganga

Voluntários da Cruz Vermelha do Sudão do Sul explicam como usar os tabletes de purificação de água. 

Juba, Sudão do Sul, julho de 2014.
Voluntários da Cruz Vermelha do Sudão do Sul explicam como usar os tabletes de purificação de água.
/ CC BY-NC-ND / CICR / P. Krzysiek / v-p-ss-e-00528

Voluntários da Cruz Vermelha do Sudão do Sul encontraram esta mulher com cólera durante a campanha de conscientização pública que realizaram de porta em porta. Seus dois filhos tinham morrido de cólera uns dias antes. A Cruz Vermelha levou-a para um centro de reidratação oral, de onde ela foi transferida para um hospital. 

Condado de Torit, Eastern Equatoria, Sudão do Sul, julho de 2014.
Voluntários da Cruz Vermelha do Sudão do Sul encontraram esta mulher com cólera durante a campanha de conscientização pública que realizaram de porta em porta. Seus dois filhos tinham morrido de cólera uns dias antes. A Cruz Vermelha levou-a para um centro de reidratação oral, de onde ela foi transferida para um hospital.
© Cruz Vermelha do Sudão do Sul / M. Mayom / v-p-ss-e-00532

Um voluntário da Cruz Vermelha do Sudão do Sul supervisa uma ducha para pés no porto de Kodok. O CICV e a Cruz Vermelha do Sudão do Sul construíram estas duchas, torneiras para lavar as mãos e banheiros nas áreas mais expostas ao cólera, para prevenir a disseminação da doença. 

Kodok, Upper Nile, Sudão do Sul, julho de 2014.
Um voluntário da Cruz Vermelha do Sudão do Sul supervisa uma ducha para pés no porto de Kodok. O CICV e a Cruz Vermelha do Sudão do Sul construíram estas duchas, torneiras para lavar as mãos e banheiros nas áreas mais expostas ao cólera, para prevenir a disseminação da doença.
/ CC BY-NC-ND / CICV / C. Lee