Colômbia: Contaminação por armas

24-04-2013 Reportagem

Muitas vítimas de artefatos explosivos improvisados e resíduos explosivos de guerra são obrigadas a deixarem suas casas, perdem seus meios de subsistência ou suas capacidades físicas para exercer um ofício e tentam sobreviver com profundas sequelas físicas e psicológicas.

Durante 2012, 7.990 moradores de áreas afetadas pela contaminação por armas aprenderam sobre comportamento seguro e direito das vítimas em 317 oficinas realizadas pelo CICV e a Cruz Vermelha Colombiana.

Duzentas vítimas civis receberam assessoria sobre como ter acesso aos serviços do Estado e como obter compensação.
 

A organização prestou apoio a quatro centros de reabilitação que atenderam mais de 30,4 mil pessoas, vitimadas não apenas pelo conflito mas também por todo tipo de acidente. Foram oferecidas reabilitação física, próteses e órteses a 105 vítimas de contaminação por armas. Mediante um diálogo confidencial, a instituição lembrou a todas as partes do conflito sobre os danos causados pela contaminação por armas. Do mesmo modo, o CICV e a Cruz Vermelha Colombiana continuaram cooperando com as instituições que trabalham nas regiões mais contaminadas.

 

Vozes das vítimas

“Meu filho morreu e eu fui ferido”


“Antes que isso acontecesse comigo, eu trabalhava no campo, tinha uma chácara muito boa, trabalhei com minha família durante 23 anos nessa chácara. Nesse dia, fui com um filho passar o gado de um potreiro a outro, o menino saiu correndo e se deparou com um artefato. Tocou nele e ele explodiu, matando-o ali mesmo. Eu fui atingido a uns 20 metros e desmaiei. Ele ficou ali, eu estaba muito ferido, os vizinhos me ajudaram e me levaram a San Vicente. Daí me transferiram a Florencia onde fiquei 29 dias sem saber onde morava. Desde este momento, a situação tem sido muito dura, porque não é tão fácil quando a gente se desloca. Ainda tenho uma cirurgia por fazer. (Héctor Marín Perdomo, morador de uma zona rural de Caquetá)

 

História

Em Medelin, prevenção e capacitação para as comunidades
 

Enfrentamentos armados entre os grupos chamados de “combos”, fronteiras invisíveis que restringem o movimento a poucos quarteirões e limitam o desenvolvimento de atividades cotidianas como estudar ou trabalhar, ameaças contra profissionais de saúde que restringem o direito das pessoas aos serviços de saúde e balas perdidas que matam ou incapacitam dezenas de pessoas todos os anos são apenas algumas das consequências da violência armada que a população de diversas comunas de Medelin sofrem.
 

Para reduzir os riscos e a exposição das comunidades a essas situações, o CICV e a filial de Antioquia da Cruz Vermelha Colombiana realizam ações de prevenção com aulas sobre comportamento seguro em meio urbano e primeiros socorros, no marco do projeto Mais Espaços Humanitários, Mais Alternativas.
 

Através do ensino sobre comportamento seguro, transmite-se às comunidades o conhecimento das medidas básicas de autoproteção que diminuem sua exposição e limitam os efeitos das consequências das situações de violência armada. Com o aprendizado de primeiros socorros, as comunidades adquirem a capacidade de responder de modo eficaz caso alguém fique ferido. O Departamento Administrativo para a Gestão de Risco de Desastres (DAGRD), que capacita as comunidades sobre  fortalecimento comunitário, uniu-se às oficinas. Dessa forma, foram realizadas oficinas nos bairros das comunas 1 e 8, duas das áreas prioritárias para o projeto. Cinquenta integrantes dos Comitês de Emergência dos Bairros (CEB) dessas localidades foram capacitados.
 

Giovanni, morador da comuna 1, foi um dos participantes. Dois anos atrás foi atingido por dois disparos quando, sem saber, cruzou uma “fronteira invisível”. “Quantas vidas não teriam sido salvas se soubéssemos então o que vocês nos ensinaram, e quanto sofrimento haveríamos evitado, inclusive o meu e de minha família”, disse.

Foto

Zona rural do departamento de Cauca. Dona Alba perdeu uma perna ao ser vítima da contaminação por armas enquanto trabalhava. 

Zona rural do departamento de Cauca. Dona Alba perdeu uma perna ao ser vítima da contaminação por armas enquanto trabalhava.
© CICV / E. Tovar