Página arquivada:pode conter informações antigas

República Democrática do Congo: no leste do país, o sofrimento como poucas vezes visto

25-04-2013 Comunicado de imprensa 13/80

Genebra/Kinshasa/Goma (CICV) – "A violência e o sofrimento infligidos sobre a população no leste da República Democrática do Congo (RDC)chegou a um nível raramente visto em duas décadas", declarou Peter Maurer, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), ao concluir uma visita de quatro dias ao país.

"Em meio à quase total indiferença, as pessoas suportam serem tratadas com violência todos os dias. Os civis são alvos diretos de ataques que não poupam sequer as crianças e idosos; muitas pessoas estão sujeitas à violência sexual", disse Maurer em Goma, capital da província de Kivu do Norte.

Em Goma, o presidente do CICV visitou o centro Dom Bosco, que abriga mais de 3 mil crianças em dificuldade, que se tornam ainda mais vulneráveis com a guerra e outras formas de violência. "Algumas delas perderam completamente o contato com as suas famílias em meio ao caos dos confrontos e do deslocamento subsequente", disse Maurer. "Fiquei profundamente emocionado com todas essas tragédias pessoais, como a de Kambale K., de apenas 10 anos, que não tem notícia dos seus pais desde novembro do ano passado".

Maurer também visitou dezenas de pessoas feridas em decorrência do último confronto e que estão sendo tratadas no Hospital Ndosho, em Goma, onde o CICV conta com uma equipe cirúrgica que trabalha desde novembro junto com os profissionais locais. Ele ouviu a história do pequeno Éden K., de oito anos, que foi gravemente feridos em um ataque de foguetes e, como consequência, uma de suas pernas precisou ser amputada.

Muitos estabelecimentos médicos no leste da RDC enfrentam dificuldades para atender os feridos e os doentes, pois carecem de material médico, que por sua vez é quase sempre saqueado, ou porque homens armados invadem os estabelecimentos ou ainda porque a equipe médica não consegue chegar em segurança ao seu local de trabalho.

"As graves violações ao Direito Internacional Humanitário (DIH) devem parar. É responsabilidade de todos em uma posição de influência trabalhar de forma urgente para conseguir um maior respeito ao DIH", declarou Maurer, na esperança de que várias conversas e iniciativas de paz atualmente em curso venham a aliviar o sofrimento e melhorar a situação humanitária no leste de República Democrática do Congo.

"O ressurgimento da tensão entre as comunidades e a fragmentação dos grupos armados estão levando a região cada dia mais ao caos e à violência", acrescentou. A situação de segurança se deteriorou nas províncias de Kivus, em Katanga e em partes de Maniema, que faz fronteira com as Kivus do Norte e do Sul. A situação na província Oriental, sobretudo em Ituri, também continua tensa.

"A imprevisibilidade causa grande preocupação entre as comunidades e entre as pessoas que se esforçam para levar ajuda a elas", disse Maurer. "Nesse contexto, a presença e as atividades dos voluntaries da Cruz Vermelha da RDC são cruciais. Os voluntários, que quase sempre são os primeiros a chegar, têm de lidar com a crueldade e o horror de determinadas situações. O compromisso deles não tem limites".

Em vista do aumento das necessidades humanitárias, o CICV se prepara para mobilizar os doadores com o objetivo de incrementar as atividades no leste do país, em particular na área de assistência médica e cirúrgica para as pessoas feridas durante atos de violência, e as relacionadas com a entrega alimentos, água, e prestação outros serviços básicos para as pessoas deslocadas. A República Democrática do Congo é uma das cinco maiores operações do CICV em termos de orçamento.

Em Kinshasa, Maurer se reuniu com o primeiro ministro, o ministro da Justiça, os presidentes do Senado e da Assembleia Nacional, e os líderes da Cruz Vermelha no país. As discussões se concentravam na situação no leste e nas pessoas detidas nos presídios. "As condições de vida em alguns centros de detenção são catastróficas: a superlotação chega a 700% e a desnutrição é um problema persistente", disse o presidente do CICV, depois de visitar o presídio central de Kinshasa. Ele insistiu na necessidade de se disponibilizarem recursos suficientes para atender as necessidades essenciais dos detidos.

Como parte da sua visita à região, Maurer também foi a Kigali, em Ruanda, onde deverá se reunir com o primeiro ministro e o ministro das Relações Exteriores desse país. Em Ruanda, o CICV trabalha para melhorar as condições de vida dos detidos e para promover o DIH. Além disso, junto com as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha de Ruanda e do Congo, a organização ajuda a restabelecer contato entre familiares que estão do outro lado da fronteira da RDC. Durante as últimas semanas, o CICV forneceu material médico para cuidar das pessoas feridas durante os confrontos na República Democrática do Congo que agora estão em território ruandês.

Mais informações:
Annick Bouvier, CICV Kinshasa, tel: +243 81 700 85 36
Thomas Glass, CICV Goma, tel: +243 81 700 77 86
Emmanuel Kagimbura, CICV Kigali, tel: +250 78830 05 09
Sébastien Carliez, CICV Genebra, tel: +41 22 730 28 81 or +41 79 536 92 37
Marie-Servane Desjonquères, CICV Genebra, tel: +41 22 730 31 60 or +41 79 536 92 58

Foto

República Democrática do Congo. No Centro Dom Bosco, o presidente do CICV, Peter Maurer, conversa com crianças que moram no local e funcionários. O CICV apoia os esforços do centro para que crianças reencontrem suas famílias. 

República Democrática do Congo. No Centro Dom Bosco, o presidente do CICV, Peter Maurer, conversa com crianças que moram no local e funcionários. O CICV apoia os esforços do centro para que crianças reencontrem suas famílias.
© CICV / Thomas Glass