Casamança: Trabalhando com comunidade local para fornecer água

05-06-2013 Entrevista

Em áreas rurais, a água costuma ser escassa, de baixa qualidade e difícil de coletar, especialmente durante os conflitos. Este ano, o programa de Água e Habitat do CICV completa 30 anos e queremos mostrar o que temos feito para garantir o acesso a esse recurso vital usando tecnologias e soluções sustentáveis.

No Sudoeste do Senegal, a população sofre com os efeitos combinados de uma longa seca e do conflito armado. Obter água é um desafio diário para essas comunidades que precisam da agricultura para sobreviver.

A infraestrutura foi danificada ou destruída. Existem minas antipessoal. É difícil ou impossível para os deslocados regressarem às suas casas ou acessarem serviços básicos. Grande parte da água é salobra e a higiene, precária. O engenheiro de água e habitat do CICV, Luc Soenen, explica os desafios enfrentados pelas comunidades de Casamança e do outro lado da fronteira na Guiné-Bissau. O CICV já conseguiu melhorar as condições de higiene e o acesso à água potável para 40 mil pessoas na região.
 

Quais são as condições de higiene e do acesso à água em Casamança?

De modo geral, a população está sem água. Mas isso pode ser melhorado, em especial em relação à água potável. E principalmente nas áreas rurais afetadas pelo conflito. Alguns pontos de distribuição e residências foram abandonados a mais de um ano. 

Precisam ser consertados ou reconstruídos quando seus proprietários voltarem.
 

As necessidades são ainda mais prementes no outro lado da fronteira, no norte da Guiné- Bissau. Muitas pessoas do Senegal fugiram dos combates pela fronteira. A Guiné- Bissau, porém, já era pobre, sem condições de higiene e, em muitos casos, com propagação da cólera.
 

O CICV é uma das poucas agências humanitárias que operam nos zonas do conflito. O que estão fazendo com relação a esta situação?

Em primeiro lugar, estamos construindo e consertando os pontos de distribuição de água. Com a ajuda dos nossos agrônomos, ajudamos as pessoas a contrabalançar a salinidade com a instalação de tanques de água para irrigação, em especial no cultivo do arroz. Também fornecemos água aos que mantêm hortas. Tudo isso ajuda a incrementar a produção agrícola, que, por sua vez, aumenta a segurança econômica e alimentar.
 

Entregamos dinheiro e ajuda especializada para a construção e reconstrução das casas. Por último, instalamos latrinas para as famílias onde as condições de higiene são mais críticas, em particular no norte da Guiné-Bissau. Todos os projetos atendem às necessidades e expectativas da população local. Como consequência, são eficazes e bem recebidos. Cerca de 20 mil pessoas de cada lado da fronteira são beneficiadas pelas atividades, perfazendo um total de 40 mil pessoas.
 

Vocês também estão trabalhando em escolas. Por quê?

Ensinamos os alunos das escolas as normas básicas de higiene, como lavar as mãos. Também lhes mostramos como tratar da água e cuidar dos pontos de distribuição. Até recentemente, trabalhamos nas áreas rurais de Casamança. Agora, nos concentramos na Guiné-Bissau e uma área especialmente pobre de Ziguinchor em Casamança.
 

Quais são as dificuldades que o CICV enfrenta no seu trabalho diário?

As principais dificuldades estão relacionadas à segurança e acesso às áreas onde vivem as pessoas que necessitam nossa ajuda. As minas antipessoais tornam nossos movimentos especialmente perigosos em algumas regiões de Casamança. Já há alguns meses, não podemos entrar em certas áreas, pois não temos os acordos necessários com as facções correspondentes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança. Nesses lugares, trabalhamos estreitamente com a Sociedade Nacional da Cruz Vermelha que pode operar no terreno. Ela nos ajuda a avaliar as necessidades da população local.
 

Como vocês conseguem a participação comunitária na gestão dos projetos?

É essencial que as comunidades locais possam gerir elas mesmas as instalações. Trabalhamos com a companhia local de água para apoiar a formação de técnicos e a criação de comitês de gestão dos pontos de distribuição de água.
 

Observamos que as pessoas não tinham como manter as instalações muitos ambiciosas por falta de recursos, know-how ou simplesmente tempo. Desse modo, a maioria dos nossos projetos leva em consideração não só as necessidades dos moradores, mas também suas capacidades. Optamos, com frequência, por bombas manuais porque elas têm custos operacionais mais baixos.
 

Qual é a função da Cruz Vermelha Senegalesa?

A rede de voluntários da Cruz Vermelha Senegalesa a torna nossa parceira natural, em especial, no momento de consicentizar e promover hábitos de higiene e saneamento. Fazemos todo o possível para assegurar que os voluntários assumam esta função depois que sairmos. Também trabalhamos com as autoridades regionais em assuntos da área técnica. A finalidade aqui é a mesma: que possam trabalhar sem o CICV.
 

O CICV possui outras atividades de água e habitat em Senegal?

Trabalhamos em alguns centros de detenção onde planejamos iniciar pequenos projetos para aumentar a conscientização sobre higiene. Junto a nossos colegas da saúde, construímos e consertamos várias instalações sanitárias nos estabelecimentos prisionais.

Foto

Luc Soenen, CICV 

Luc Soenen
© CICV

As mulheres trabalham em suas hortas. 

Biti-Biti, Casamança.
As mulheres trabalham em suas hortas para quais o CICV distribui água, incrementando a produção de alimentos e melhorando as condições econômicas dos moradores.
© CICV / D. Mrazikova

As mulheres coletam água de uma bomba instalada pelo CICV. Algumas das bombas nas áreas rurais afetadas pelos conflitos foram abandonadas por mais de um ano, precisando de conserto. 

Biti-Biti, Casamança.
As mulheres coletam água de uma bomba instalada pelo CICV. Algumas das bombas nas áreas rurais afetadas pelos conflitos foram abandonadas por mais de um ano, precisando de conserto.
© CICV / D. Mrazikova

As crianças tomam água de uma bomba instalada pelo CICV. 

Biti-Biti, Casamança.
As crianças tomam água de uma bomba instalada pelo CICV. A organização instala com frequência bombas manuais e não elétricas porque os custos de funcionamento são mais baixos.
© CICV / D. Mrazikova

As crianças tomam água de uma bomba instalada pelo CICV. 

Biti-Biti, Casamança.
As crianças tomam água de uma bomba instalada pelo CICV. A organização instala com frequência bombas manuais e não elétricas porque os custos de funcionamento são mais baixos.
© CICV / D. Mrazikova