Costa do Marfim: cresce a insegurança

09-03-2011 Entrevista

Esta semana, os combates continuaram em várias partes da capital e do oeste da Costa do Marfim, fazendo novas vítimas e obrigando milhares de pessoas a deixarem suas casas. O delegado-adjunto da delegação regional do CICV em Abidjan, Philippe Beauverd, comenta a situação.

     
©CICV 
   
Philippe Beauverd 
               
©Reuters/Thierry Gouegnon 
   
Angree, Abijan, 1º de março de 2011. Na igreja de São Ambrosio, que oferece um abrigo temporário contra os enfrentamentos, crianças dormem no chão. 
           

  Como é a atual situação em Abidjan?  

A situação é instável e varia de um bairro para outro. Em algumas partes da cidade, a vida continua mais ou menos como de costume, enquanto o subúrbio de Abobo tem sido palco de combates com armas pesadas, provocando vítimas e fuga de milhares de pessoas para Anyama e para outras partes da capital .

Neste momento, ainda existe considerável tensão em alguns bairros e recebemos relatórios de grande número de vítimas. Também observamos o aumento da insegurança.

     

  Quais são os principais problemas humanitários observados no local?  

Os combates no subúrbio de Abobo deixaram várias vítimas e obrigaram muitas pessoas a deixarem suas casas. A maioria delas foi acolhida por familiares ou amigos - um bom exemplo de solidariedade africana que deve ser salientada e que desempenha um papel fundamental nesta crise. Outras pessoas estão alojadas em centros de acolhimento temporário.

Os centros de saúde relatam que muitas pessoas apresentam ferimentos causados por facas e outras armas, e que nem sempre são possíveis de se tratar. Nesta fase, porém, a situação é tão incerta que é impossível afirmar números precisos de mortos, feridos ou desabrigados.

De uma maneira ou outra, toda a população de Abidjan padece as consequências da situação, em especial pela deterioração da segurança e pelo medo de que os combates se espal hem pelas ruas da cidade. Muitos habitantes acolheram parentes ou amigos que fugiram das áreas afetadas pela violência.

     

  O que o CICV pôde fazer para os afetados pelos recentes confrontos?  

Pudemos ir rapidamente para Abobo e Anyama para avaliar as necessidades. Já distribuímos medicamentos em Anyama, Angré, Adjamé e Yopougon para ajudar alguns centros de saúde a lidarem com o fluxo de feridos e doentes.

Também prestamos assistência a três centros de acolhimento para deslocados em Abidjan, que abrigam de 500 a 600 pessoas. A fim de atender suas necessidades básicas, fornecemos água, abrigos e materiais de higiene. Por último, nossos delegados visitam as pessoas que foram detidas durante os recentes eventos.

Nos próximos dias, continuaremos apoiando os centros de acolhimento para os deslocados, dependendo de como estiver a situação de segurança nas diferentes partes da capital e em particular em Anyama.

     

  O que se pode dizer sobre a situação no oeste do país?  

Dadas as restrições de segurança nesta parte do país, está difícil ter acesso a essa região e os telefones não estão funcionando. No entanto, agora a situação humanitária na Costa do Marfim está incerta. Estamos tentando obter mais informações, especialmente através de nossas estruturas em Guiglo e Man.

Graças às informações enviadas por nossos colegas do CICV que trabalham no outro lado da fronteira, agora sabemos que os combates no oeste provocaram um deslocamento em massa para a Libéria. Conforme algumas agências de ajuda humanitária, existem mais de 75mil refugiados da Costa do Marfi m nesse país. Para atender às suas necessidades humanitárias, as equipes do CICV e da Cruz Vermelha Liberiana já providenciaram ajuda de emergência em forma de água potável. Também estão ativamente envolvidos na ajuda aos refugiados para contatarem seus familiares que ainda estão na Costa do Marfim.

     

  O senhor teme pela segurança de sua equipe em Abidjan?  

Recebemos garantias de segurança de todas as partes envolvidas e, portanto, podemos continuar trabalhando, apesar da dificuldade da situação. Antes de viajar para áreas sensíveis, consultamos nossos contatos locais.

Também mantemos contato permanente com os políticos e militares, que reconhecem o valor da neutralidade e da independência de nossas atividades humanitárias. No entanto, temos de permanecer atentos: a segurança nunca pode ser garantida. Em especial, estamos preocupados com os jovens de várias facções, que estão armados com facas e cacetetes, que parecem estar completamente fora de controle. Eles montaram barricadas em algumas ruas e estão extravasando sua ira sobre a população local.