Honduras: os desafios de identificar as vítimas no incêndio no presídio de Comayagua

14-03-2012 Entrevista

Após o incêndio que destruiu o presídio de Comayagua em Honduras no dia 14 de fevereiro, no qual mais de 360 pessoas morreram, o CICV vem apoiando os esforços das autoridades nacionais para identificar as vítimas usando a ciência forense e oferecendo apoio psicológico às famílias. Nesta entrevista, Alejandra Jiménez, assessora forense do CICV no México, descreve os desafios e as conquistas de sua missão em Honduras.

Como está a situação humanitária um mês depois do incêndio em Comayagua?

Devido a que houve muitas vítimas, muitos dos restos mortais estão irreconhecíveis e o processo de identificação é muito complicando e longo. Para as famílias que aguardam os corpos de seus entes queridos serem liberados de modo que possam homenageá-los e se despedir deles, a espera é extremamente angustiante. A principal consequência humanitária hoje é o impacto sobre os parentes que têm de esperar para começar o processo de luto.

Que tipo de apoio o CICV oferece?

Imediatamente depois do incêndio, a organização doou artigos essenciais para lidar com os restos mortais, incluindo sacos de cadáveres, instrumentos cirúrgicos, câmeras e papel FTA para identificação genética. No entanto, o CICV se concentra principalmente em prestar assessoria técnica ao governo hondurenho.

Dois psicólogos da organização prestam apoio psicossocial aos parentes e àqueles que responderam ao desastre. Três especialistas forenses ofereceram sua assistência e fizeram recomendações sobre que práticas adotar em diferentes estágios da resposta, da recuperação de corpos para entregar e o manejo dos restos mortais. O CICV não estava diretamente envolvido em lidar com os restos, mas ofereceu orientações às autoridades sobre como processar as informações das vítimas, preservar os corpos e pôr em prática procedimentos nas unidades forenses.

Como em muitas situações pós-desastres, o que faltava era um sistema de gestão de informações adequado. O CICV, portanto, doou uma base de dados que desenvolveu para organizar, gerenciar e consultar todas as informações recolhidas durante o processo de identificação. Também oferece treinamento para o uso dessa base de dados.

Como o apoio psicossocial foi organizado e qual era o papel do CICV?

O principal desafio nessas situações é a comunicação clara e transparente com as famílias das vítimas. Se as autoridades se mantiverem silenciosas e não se comunicarem com as famílias, isso cria uma barreira psicológica, como se estivessem sendo isolados de seus entes queridos e de todo o processo.

Esta sensação de ser mantido às cegas é extremamente estressante. No caso de Honduras, as famílias temiam que seus entes queridos fossem enterrados em covas coletivas ou que, sem a ajuda internacional, os corpos não fossem entregues a eles.

O CICV aconselhou tanto ao governo, como aos especialistas forenses sobre o estabelecimento de canais claros de comunicação com as famílias para explicar o que eles poderiam esperar sobre o processo, quanto tempo poderia tardar, suas limitações e as complexidades de identificar os restos mortais. O CICV também reforçou a importância de explicar os métodos forenses à imprensa, para conscientizá-la sobre o trabalho incessante e rigoroso que está sendo realizado e explicar como as informações estavam sendo processadas, desta maneira, tranquilizando as famílias.

Quais são os principais desafios hoje?

Temos de adotar uma abordagem a curto e a longo prazos. Precisamos manter nosso apoio e nosso diálogo com as famílias, cujos entes queridos ainda não foram identificados. É vital que todas as informações recolhidas durante a identificação dos restos mortais sejam introduzidas na base de dados que o CICV proporcionou. Uma análise completa desses dados precisa ser feita.

O CICV precisa levantar as expectativas que envolvem seu papel em Honduras, que, por sua vez, preparará o caminho para seu envolvimento na abordagem de problemas humanitários. O governo pediu ao Comitê para avaliar sua atual capacidade forense e seus serviços forenses em nível nacional de modo a fazer recomendações práticas.

A violência predomina em Honduras. Muitos corpos ainda aguardam identificação e, como consequência, muitas famílias estão ansiosas por receber notícias. Em circunstâncias como essas, o Comitê está disposto a cooperar com as autoridades e impulsionar o desenvolvimento forense com o objetivo de prestar assistência humanitária.

Foto

A especialista forense do CICV, Alejandra Jiménez, ajuda os cientistas forenses a organizar, classificar, averiguar e processar as informaçoes recolhidas. 

A especialista forense do CICV, Alejandra Jiménez, ajuda os cientistas forenses a organizar, classificar, averiguar e processar as informaçoes recolhidas.
© CICV / A. Jiménez

Um radiologista analisa um exame de raios-X em busca de feridas, fraturas, aparelhos médicos e outras marcas que possam identificar os restos mortais. 

Um radiologista analisa um exame de raios-X em busca de feridas, fraturas, aparelhos médicos e outras marcas que possam identificar os restos mortais.
© CICV / A. Jiménez

Um dentista forense estima a idade de uma vítima com base na análise de sua arcada dentária. 

Um dentista forense estima a idade de uma vítima com base na análise de sua arcada dentária.
© CICV / A. Jiménez

As roupas ajudam a identificar os restos mortais e têm um valor sentimental para as famílias. 

As roupas ajudam a identificar os restos mortais e têm um valor sentimental para as famílias.
© CICV / A. Jiménez

Especialistas analisam e comparam impressões digitais para identificar as vítimas. 

Especialistas analisam e comparam impressões digitais para identificar as vítimas.
© CICV / A. Jiménez

Os especialistas forenses trabalham na identificação de corpos no necrotério onde as autópsias foram realizadas. 

Os especialistas forenses trabalham na identificação de corpos no necrotério onde as autópsias foram realizadas.
© CICV / A. Jiménez