Página arquivada:pode conter informações antigas

Comoros: Equipe cirúrgica do CICV estava no local durante recentes combates

21-04-2008 Entrevista

Quando cresceram as tensões nesta nação do Oceano Índico em março, o CICV enviou uma equipe cirúrgica para a ilha Anjouan, a fim de ajudar caso os hospitais locais ficassem superlotados. Leia a entrevista abaixo:

No dia 25 de março de 2008, soldados da União de Comoros aterrissaram na ilha de Anjouan. Com a retaguarda da União Africana e o apoio das forças sudanesas e tanzanianas, retomaram o controle sobre a ilha após o fracasso de todas as negociações para acabar com a crise. A situação na pequena nação do Oceano Indico, formada por Anjouan, Moheli e Grande Comore, havia deteriorado no ano passado, quando os resultados das eleições em Anjouan foram contestados pelas autoridades federais.

Uma equipe cirúrgica do CICV já estava em Comoros três dias antes do início da ofensiva, preparada para enfrentar qualquer emergência. O cirurgião suíço Jean-Marc Fiala, o anestesista alemão Andrea Reis e a enfermeira japonesa Miwa Hanai viveram dias de tensão durante os combates, que aconteceram perto do hotel onde estavam. Na sua volta para Nairóbi, contaram ao site icrc.org sobre a missão.

  Qual era o objetivo da missão?  

     

  Jean-Marc Fiala: O CICV nos mandou para dar apoio à Sociedade do Crescente Vermelho de Comoros e ajudar o Hospital Hombo em Anjouan, no caso de haver muitos feridos. Como queríamos estar preparados para atuar também em outros hospitais, levamos conosco material essencial para cirurgias, tais como kits de amputação e remédios anestésicos. Outros materiais cirúrgicos já haviam sido enviados antes. Chegamos a tempo e tomamos o último avião de Grande Comore para Anjouan, em 22 de março.

  O que vocês fizeram primeiro?  

     

  Jean-Marc Fiala: Fomos direto para o hospital para nos apresentarmos e avaliar as necessidades. Os funcionários já nos esperavam e estabelecemos um excelente contato com eles logo de início. Os médicos e enfermeiras nos disseram que a nossa ajuda seria muito apreciada se o hospital ficasse com superlotação de feridos. Eles também calcularam que poderiam lidar com uma situação moderadamente difícil por conta própria.

  Andrea Reis: No mesmo dia também visitamos o Crescente Vermelho. Eles tinham instalado vários postos de ajuda com o apoio da delegação regional do CICV em Pretória. Nossos parceiros do Crescente Vermelho expressaram o seu contentamento com os kits para curativos (desinfetantes, bandagens, luvas, etc.) que receberam do CICV.

  Onde vocês estavam quando começaram os combates?  

     

  Jean-Marc Fiala: Nós havíamos nos instalado no hotel e estávamos prontos para sermos chamados a qualquer hora. Mas os combates que começaram no amanhecer do dia 25 nos impediram de mover e tivemos de nos abrigar o dia todo. Embora eu já tivesse trabalhado em várias zonas de conflito antes, como por exemplo no Afeganistão, achei esta situação muito assustadora.

  Miwa Hanai: Esta foi a minha primeira missão com o CICV. Apesar da tensão, ainda sinto que foi uma experiência muito boa para ver em que tipo de circunstâncias as equipes do CICV precisam trabalhar.

  Vocês puderam ir para o hospital no dia seguinte?  

     

  Jean-Marc: Sim, fomos na manhã seguinte. Havia pouca gente nas ruas, todas as lojas estavam fechadas. No hospital soubemos que, por sorte, houve poucos feridos. No final dos combates, no dia seguinte, duas pessoas haviam morrido e 20 receberam tratamento por ferimentos, como foi o caso de vários provocados por balas. O pessoal do hospital enfrentou muito bem a situação.

  Andrea: Os postos de primeiros socorros do Crescente Vérmelo também funcionavam muito bem. Fomos para um posto na área mais atingida (Ouani) e ficamos impresionados com o empenho dos membros e dos voluntários. Eles haviam cuidado dos ferimentos leves no local e transferido vários casos para o hospital.

  Em geral, como vocês se sentiram em relação a esta missão?  

     

  Andrea: Estamos contentes em que o número de feridos tenha sido baixo. Poderia ter sido bem pior e estávamos prontos para intervir. Mas os médicos e enfermeiras no hospital de Hombo fizeram um trabalho excelente. Era difícil para nós esperar em meio aos combates sem poder trabalhar; cuidar dos feridos faz que com que você não pense nos perigos que existem à sua volta!

  Entrevista feita por Nicole Engelbrecht e Yolanda Jaquemet, CICV Nairóbi