Indonésia: a resposta humanitária desde o tsunami

Escute a entrevista com Martin Unternaehrer, delegado do CICV, depois de voltar da Indonésia. (em inglês) 

Cerca de 500 mil pessoas deslocadas estão morando em campos ou hospedadas em casas de famílias. Barracões estão sendo construídos em campos semi-permanentes, para os quais os deslocados estão sendo transferidos aos poucos.

Dirigidos pela Cruz Vermelha Indonésia (CVI), os integrantes da Cruz Vermelha Internacional e do Movimento do Crescente Vermelho têm trabalhado juntos a fim de melhorar a condição dos sobreviventes do tsunami.

Quando o tsunami eclodiu, a resposta emergencial do Movimento começou no dia seguinte, graças a uma equipe dedicada de voluntários da CVI que trabalhou sob as condições mais difíceis. A tarefa inicial que eles tiveram – o resgate e a exposição de inúmeros corpos – foi a mais difícil de todas.

O CICV, cuja presença permanente na província de Aceh data de 1999, foi capaz de apoiar a CVI em seus esforços de socorro desde o início da resposta. A organização tinha estoques de instrumentos médicos, de equipamentos usados em operações de resgate, de água e habitat, e materiais utilizados em operações de evacuação de pessoas disponíveis no local, e podia confiar em uma estrutura logística em bom funcionamento. Atualmente há 75 funcionários estrangeiros e 450 locais trabalhando na Indonésia.

O CICV, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e as Sociedades do Crescente Vermelho e várias Sociedades Nacionais têm apoiado as atividades da CVI voltadas à população. Uma estrutura de coordenação do Movimento foi estabelecida para garantir uma resposta do Movimento coerente e consolidada.

  Evacuação dos mortos  

O CICV continua a fornecer para a CVI material para a retirada dos mortos. Equipes de voluntários da CVI já evacuaram até o momento 60 mil corpos em toda a província.

  Abrigo, vestimentas e necessidades domésticas  

O CICV e a CVI visitaram mais de 260 localidades em oito distritos onde os deslocados se reuniram (cidade de Banda Aceh, Aceh Besar, Sabang (Weh), Pidie, Aceh Utara, Bireuen, Aceh Timur e Aceh Tenga). As duas organizações têm feito rápidas avaliações e em seguida distribuído kits de uso doméstico (materiais de proteção, colchões, equipamento para cozinha, artigos de higiene, etc). As últimas distribuições elevaram para 60 mil o número de kits já distribuídos. O material destina-se a 300 mil pessoas que se encontram ao longo do nordeste e do oeste do litoral. Além disso, 35 mil deslocados internos e famílias que têm contribuído hospedando pessoas que ficaram sem teto e receberam kits de roupas íntimas para complementar as roupas de segunda mão distribuídas por outras agências.

  Água limpa e saneamento adequado  

Engenheiros do CICV especializados em água e saneamento têm efetuado avaliações do acesso à água e das condições de saneamento dos deslocados internos. As equipes instalaram tanques de água e estão transportando de caminhão para várias localidades 290 metros cúbicos de água por dia. O CICV também está melhorando os sistemas de saneamento onde é necessário; até o momento já foram limpos mais de 60 poços que haviam sido contaminados por lama e água salgada. Além disso, o CICV continua a fornecer agentes químicos de purificação para as usinas de tratamento de água em Banda Aceh e Lhokseumawe, totalizando 75 toneladas.

  Serviços médicos  

Especialistas médicos têm monitorado os hospitais que ainda operam em Banda Aceh e os centros médicos ad hoc em locais onde os deslocados se juntaram, fornecendo-lhes os suprimentos médicos quando necessário – luvas cirúrgicas, materiais de sutura, vestimentas, material de emplastro, kits de remédios básicos e equipamentos para dispensários. Foram conduzidas pesquisas sobre os centros médicos nas áreas costeiras de Aceh Besar, Pidie e Aceh Utara a fim de avaliar se eles estão funcionando bem e que tipo de apoio esses centros têm recebido de outras organizações ou do Ministério da Saúde. O tsunami destruiu muitos puskesmas (centros de saúde primária), aumentando a carga de trabalho para aqueles que ainda continuam ativos. Grandes quantidades de analgésicos, antibióticos, desinfetantes, vários remédios e equipamento médico foram doados aos puskesmas em Banda Aceh e ao longo do litoral norte.

Um hospital de terreno de 100 leitos, operado em parceria pelo CICV e pela CVI, oferecido pela Cruz Vermelha Norueguesa, foi instalado no estádio Lhong Raya, em Banda Aceh, e começou a receber pacientes no dia 15 de janeiro. No momento há mais de 70 pacientes no hospital e, até agora, mais de 608 foram admitidos e mais de 6.732 foram atendidos no dispensário. No momento, 11 pacientes e 31 parentes permanecem no campo destinado aos pacientes que recebem alta, situado nas proximidades. Fora isso, foi montado um serviço de ambulância em parceria com a CVI, a fim de possibilitar que os pacientes cheguem ao hospital. O banco de sangue da CVI recebeu a assistência necessária para retomar seus serviços para a comunidade e osis.

  Restabelecimento de laços familiares  

Depois da tragédia, o CICV desenvolveu em parceria com a CVI um amplo sistema para ajudar a restabelecer o contato entre os familiares que perderam o contato entre si.

Desde o início de janeiro, foram restabelecidos os laços familiares em quase 2.500 casos, a maioria dos quais por meio do uso de telefones satélite que foram colocados à disposição dos sobreviventes particularmente na costa oeste. Para aqueles que não conseguiram alcançar seus familiares por telefone, equipes do CICV e da CVI ofereceram o serviço de Mensagens Cruz Vermelha.

Alguns dos sucessos foram possíveis graças a dois bancos de dados que o CICV montou com a CVI. Esses bancos de dados “Estou Vivo” e “Pessoa Procurada” contém até agora mais de 34 mil nomes, cujas listas são amplamente divulgadas para o público de forma impressa, na internet (www.familylinks.icrc.org) e na mídia. Se uma pessoa reconhece em uma das listas seu nome ou o nome de alguém que está procurando, o CICV e a CVI podem ajudá-lo (a) a entrar em contato com seu parente.

O CICV e a CVI dedicam atenção especial ao restabelecimento dos laços familiares para as crianças que ficaram separadas de todos os familiares próximos. Até o momento foram cadastradas 39 crianças nesta situação, sendo que a metade já voltou com sucesso para o seio familiar.

  Visitas às prisões  

O CICV retomou as visitas às prisões – suspensas logo depois da tragédia – com o consentimento da polícia nacional e do Ministério da Justiça. O objetivo dessas visitas é monitorar as condições de detenção e do tratamento dispensado aos presos.

  Estratégia para 2005  

Como a situação humanitária na província de Aceh estabilizou e a fase emergencial terminou, as autoridades, as agências humanitárias internacionais, a Cruz Vermelha Internacional e o Movimento do Crescente Vermelho estão transferindo o foco de suas atividades para a recuperação, a reabilitação e a reconstrução. A resposta inicial do CICV se concentrou nas atividades de curto prazo no terreno voltadas a cobrir as necessidades de cerca de dois terços de todas as pessoas atingidas pelo tsunami, e se voltará para um papel de coordenação e direção em longo prazo, tendo em vista as muitas Sociedades Nacionais que estarão presentes.

A CVI submeteu às autoridades do governo um plano de ação para a fase de recuperação da operação, com vistas a integrar as atividades da CVI – implementadas com os parceiros do Movimento – no próprio plano do governo para a recuperação e a reconstrução. Isto está de acordo com o papel auxiliar da CVI, amplamente reconhecido.

As atividades de proteção planejadas para 2005 continuarão a ser essenciais para a resposta do CICV na Indonésia, mas com as adequações necessárias depois do tsunami.

Todas as atividades para restabelecer os laços familiares são implementadas em estreita parceria com a CVI, cuja rede de filiais e voluntários fornece a estrutura operacional de todo o sistema. Isto possibilita que as duas organizações se difundam e ofereçam seus serviços de forma rápida e efetiva por todas as áreas atingidas.

Atividades adicionais de assistência têm como objetivo preencher o vácuo deixado pela tragédia até que as autoridades indonésias estejam aptas a cumprir novamente com suas responsabilidades, apoiadas por organizações nacionais e internacionais. Essas atividades devem, portanto, terminar logo e o CICV se concentrará novamente nas atividades que havia planejado antes do tsunami.

Enq uanto isso, uma vez que o CICV já tem um programa ativo de identificação e distribuição de assistência para as comunidades, onde for possível, a organização seguirá os objetivos planejados para 2005, embora em escala mais ampla. A CVI estará envolvida em todas as fases do processo e os voluntários participarão ativamente das equipes do CICV.

A resposta às necessidades na fase de recuperação será implementada com a participação da comunidade. Durante as distribuições em curso, o CICV está estabelecendo contato com as várias comunidades que vão permitir que a organização obtenha ainda mais informações e, em um prazo mais longo, ajudar o Movimento a trabalhar mais facilmente em certas áreas e tomar decisões mais acertadas em relação às atividades de recuperação.

O CICV está respondendo às necessidades adicionais que surgiram nas prisões em conseqüência do tsunami: recuperação dos sistemas de água e saneamento, restabelecimento dos laços familiares para os detidos que se encontram ansiosos por notícias.

  Temas humanitários e objetivos do CICV  

  CIVIS  

Tendo em vista a escala da destruição, a maioria dos deslocados internos carece de meios para retomar seus meios tradicionais de sobrevivência – sejam eles agricultura, pesca, troca de mercadorias ou comércio. A recuperação e a reconstrução dessas atividades econômicas fornecerá às pessoas oportunidades melhores para recuperar e restabelecer suas fontes de renda. É da maior importância contribuir com as comunidades para que elas recuperem e restabeleçam suas fontes de renda.

Em termos de água e saneamento, o objetivo inicial é fornecer acesso aos serviços básicos de forma a permitir que os moradores possam voltar para suas residências. Isto abrange a instalação de pequenos tanques de reservatório de água em locais apropriados e a manutenção deles cheios – no começo com caminhões pipa, mas por um período limitado, apenas longo o suficiente para que as pessoas possam retornar para casa, ou para que o CICV providencie melhorias ou reformas nas instalações já existentes.

  Plano de ação  

  Segurança econômica  

• Fornecer 300 kits de limpeza (produtos e instrumentos de limpeza) para 15 mil deslocados internos, às famílias que os abrigam e às famílias que retornaram para suas casas, a fim de facilitar operações comunitárias de limpeza e permitir-lhes a salvar os pertences danificados. < /li >

• Fornecer 200 kits de reconstrução comunitária (kit de instrumentos, material de construção e kit de limpeza) para 10 mil deslocados internos, às famílias de retornados e às famílias que os hospedam, a fim de facilitar o conserto e o retorno para casa.
   

  Água e habitat
 

• Melhorar a saúde pública   para cerca de 27 mil pessoas (deslocados internos, moradores e pessoas que retornaram para casa) nos vilarejos que não recebem assistência de outras organizações, por meio da reforma e/ou da construção de poços e latrinas

• Continuar a fornecer apoio técnico às autoridades de água fornecendo-lhes os produtos químicos e assistência com a manutenção emergencial para as usinas de tratamento de água nas principais áreas urbanas da província de Aceh

• Manter estoques para melhorar o acesso às instalações básicas de água e saneamento onde a saúde das populações residentes está ameaçada

A tragédia provocou grandes mo vimentos de deslocados que sobreviveram ao tsunami. Na maioria das regiões de Aceh, os sobreviventes e suas famílias estão conseguindo restabelecer laços familiares por telefone ou procurando uns aos outros pessoalmente, particularmente quando uma das partes continuou a morar em sua residência original. Podemos considerar que algumas das necessidades de curto prazo serão significativamente menores dentro de poucos meses, mas as questões relativas ao destino dos desaparecidos vão continuar a existir em médio e longo prazo, uma vez que os restos mortais de muitas pessoas foram sepultados sem identificação.

  Restabelecimento de laços familiares  

• Oferecer serviços abrangentes para permitir que as pessoas restabeleçam o contato com seus parentes – telefones satélite, Mensagens Cruz Vermelha, formulários “Estou Vivo”/ “Pessoa Procurada”, site; imprimir listas de nomes cadastrados, colocá-las na internet, divulgá-las na imprensa

• Em parceria com a CVI, continuar a registrar os menores desacompanhados e as crianças que ficaram separadas de seus pais e desempenhar um papel de liderança na busca de familiares, particularmente se eles se encontram fora das áreas atingidas pela tragédia

• Em parceria com a CVI, continuar a monitorar e a apoiar as reunificações familiares que envolvem crianças e outros grupos vulneráveis como idosos e enfermos

• A partir de abril, oferecer o uso dos telefones do CICV ou a troca de Mensagens Cruz Vermelha para os familiares que ficaram separados e que se reencontraram, mas não podem ou não desejam estar fisicamente no mesmo local, e não têm condições de manter contato devido à falta de redes de telefone, sistemas de correio e/ou transporte público
   

  PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE  

O CICV continuará a visitar os detidos em virtude do conflito armado. Uma necessidade importante nas prisões depois do tsunami é que os presos tenham condições de procurar e restabelecer o contato com seus familiares.

  Plano de ação  

• Possibilitar que as equipes das prisões e os detidos restabeleçam o contato com suas famílias

  ENFERMOS E FERIDOS  

Embora as infecções tenham provocado muitos casos de tétano e a pneumonia tenha sido a segunda doença mais encontrada por causa do tsunami, as doenças com potencial de epidemia foram controladas satisfatoriamente.

  Plano de ação  

  Serviços médicos  

• Em parceria com a CVI, manter o hospital de terreno, que foi oferecido pela Cruz Vermelha Norueguesa no estádio Lhong Raya, até o fim de maio de 2005, e garantir uma estratégia de saída adequada; oferecer fisioterapia para os amputados, no hospital

• Possibilitar que até 200 pacientes que receberam alta e ainda necessitam de cuidados médicos permaneçam no campo localizado no estádio Lhong Raya e recebam alimentação e cuidados adequados, até julho de 2005

• Avaliar o banco de sangue da CVI e facilitar um programa de parceria entre a CVI e uma Sociedade Nacional parceira

• Se não for possível assegurar cuidados adequados no distrito, garantir que os pacientes sejam transportados pelo serviço de ambulância do hospital em Banda Aceh, particularmente para o hospital de terreno operado em conjunto pelo CICV e a CVI

• Monitorar se os centros de saúde públicos na província de Aceh têm suprimentos médicos suficientes para tratar os pacient es e fornecer os suprimentos adicionais quando necessário.
   

  SOCIEDADE NACIONAL  

O CICV procurará restabelecer a capacidade da CVI em Aceh para responder às necessidades advindas do conflito ou da tragédia natural. Enquanto o apoio do CICV será em grande parte dirigido para recrutar, equipar e treinar novos voluntários, também se concentrará na infra-estrutura da sede local e das filiais a fim de garantir que elas tenham capacidade para levar essas atividades adiante. Este apoio é uma extensão do que já está planejado para 2005.

  Plano de ação  

• Apoiar a CVI para recrutar, equipar e treinar 600 novos integrantes de equipes de resposta emergencial

• Dar apoio financeiro à sede local da CVI em Aceh e suas filiais a fim de ajudá-los a funcionar de forma eficiente e manter equipes e voluntários treinados e motivados

• Assistir a CVI para indicar e treinar coordenadores de buscas na sede local e nas filiais, a fim de ajudar a organização a responder ao aumento dramático das necessidades do programa de buscas do CICV e da CVI em Aceh.