Profissionais da Saúde: Empatia no atendimento aos pacientes de Covid-19

Na entrada da enfermaria, Cristiane Alves da Rocha, 37 anos, assistente social, coloca os últimos equipamentos de proteção individual antes de entrar nos quartos. Faz um nó na parte de trás de seu avental e nesse momento parece afastar todos os pensamentos ruins que por ventura a cerquem.
A saudade apertada da filha, deixada no início da pandemia com familiares no estado do Mato Grosso do Sul. O cansaço de dias e dias de trabalho. Os pacientes que se foram. Tudo isso é por ora esquecido quando ela abre um dos quartos da enfermaria da Ala C, do Hospital da Cruz Vermelha em São Paulo.
A assistente social Cristiane Alves conecta pacientes afetados pela Covid-19. Foto: Tiago Queiroz/CICV
"Bom dia, turma", diz em voz alta que enche de alegria o ambiente. A máscara não impede que seus olhos sorriam. "Com um telefone celular faz ligações para os familiares dos pacientes, atividade propostas pelo programa de Restabelecimento de Laços Familiares (RLF).
"Devo ser abençoada, pois muitos dizem que pedem por mim em suas orações". A dor e a alegria deles é a sua também. O Programa RLF da Cruz Vermelha Brasileira de São Paulo (CVB-SP) tem orientado os funcionários do hospital sobre a importância da manutenção do contato para pacientes do hospital e, com o apoio técnico do CICV e da CVB- Órgão Central (OC) , proposto ações e documentos guia para o desenvolvimento dessas atividades nas redes de prestadores de serviços de saúde em outros estados".
Mudança Radical
Equipe de profissionais de saúde conduz maca pelos corredores do Hospital de Campanha
do Anhembi em São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/CICV
O primeiro caso oficial registrado no Brasil foi em 26 de fevereiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia em 11 de março. Desde então, a vida do povo brasileiro e, principalmente, dos profissionais de saúde mudou radicalmente.
Cinco meses não tiraram a determinação das equipes de saúde . Mesmo com uma taxa de contágio bem acima da média da população. Na cidade de São Paulo, por exemplo, estima-se que 10,9% da população já foi contagiada. Este número sobe para 26% quando se trata dos profissionais da saúde, segundo análise feita pela Secretaria Municipal de Saúde. "Esta é minha profissão. Nasci para isso e aceitei com entusiasmo o desafio", relata Ione Paiotti, diretora de Enfermagem do Hospital de Campanha do Anhembi, em São Paulo, administrado pela SPDM, construido para atender especialmente os pacientes de coronavirus.
O Brasil se tornou um dos epicentros da doença no mundo, sendo o 2º país em mortes e em casos confirmados, já tendo ultrapassado em agosto a triste marca dos 115 mil mortos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Hospitais de campanha foram abertos, equipamentos adquiridos, pesquisadores e cientistas brasileiros se propuseram a pesquisar o vírus, medicamentos, vacinas, desenvolvimentos de novos aparelhos, entre outras medidas.
Com o tempo, médicos, enfermeiros, assistentes sociais e auxiliares de higienização passaram a se sentir mais confiantes, mesmo diante de toda vulnerabilidade a qual foram expostos. "Era uma doença nova. Não sabíamos com o que estávamos lidando. Isso nos deixou bem apreensivos no início. Agora já nos sentimos mais seguros", explica Sandra dos Santos Ramos, auxiliar de enfermagem do Instituto de Infectologia Emílio Ribas de São Paulo.
A fisioterapeuta Elaine Corrêa Juvenal atende a médica Roma Nápoli, internada com Covid-19
no Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias. Foto: Márcia Foletto/CICV
Preconceito
O preconceito também faz parte da rotina. Alguns médicos e enfermeiros relatam que sofreram ataques em locais públicos e outros que perceberam que as pessoas os evitam, assim como já ocorreu em outras epidemias. "Comecei a minha trajetória profissional no auge da Aids. A Covid-19 me faz lembrar algumas situações daquela época que sofríamos muito preconceito. Hoje têm acontecido o mesmo", explica Alzelene Ferreira Souza, enfermeira do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo/SP.
O número de contagiados e de óbitos é bem alto no país. Há também, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados em agosto, mais de 2 milhões de recuperados, o que representa 69,5% do total de casos acumulados. "Todo paciente que se recupera é uma vitória para nós profissionais de saúde", diz Simone Soares de Almeida, enfermeira do Hospital de Campanha do Anhembi.
A paciente Kristiany Alves conta como foi se recuperar da doença. Foto: Camila Almeida/CICV
"Vocês têm salvado muitas e muitas vidas e estão sofrendo as maiores consequências porque são os mais acometidos. Mas continuem porque, por mais que existam pessoas que não valorizam o trabalho de vocês, que têm descaso pelo momento, existem pessoas que voltaram para casa como eu", agradece Kristiany de Oliveira, que ficou internada em Fortaleza por 14 dias devido à Covid-19.
Enquanto a humanidade espera uma vacina ou algum remédio contra a doença, o essencial nesse momento é continuar com as medidas de prevenção. Continuar usando máscara nas ruas, manter constantemente as mãos limpas e continuar, sempre que possível, mantendo o distanciamento social.
Pelas equipes saúde que estão afastadas de seus familiares, em nome do trabalho que têm realizado pelo bem estar de toda a população, é necessário pedir cautela e cuidado. "Tivemos que nos afastar de nossas próprias famílias, para cuidar da família dos outros. Por isso peço a população que faça sua parte", ressalta a fisioterapeuta respiratória Karim Araújo.
A tempestade vai passar, mas isso ainda levará um tempo e quando passar, a vida será diferente!