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Quênia: ajuda é mantida, mesmo com situação instável

06-02-2008 Entrevista

Mesmo em meio às gestões políticas para terminar a violência nas últimas seis semanas, o CICV avisou que a situação humanitária continua volátil. O chefe da delegação no Quênia, Pascal Cuttat, descreve o que a Cruz Vermelha já fez e os desafios que ainda estão pela frente.

     

©ICRC 
   
Pascal Cuttat 
         

  O que a Cruz Vermelha fez até agora?  

     

A Cruz Vermelha do Quênia é a coordenadora oficial dos esforços de ajuda e o CICV está trabalhando para dar suporte a este trabalho. A Cruz Vermelha tem distribuído alimentos (do World Food Programme, de doadores particulares e do governo), roupas doadas pelos quenianos e itens domésticos essenciais.

Nos acampamentos, está trabalhando com várias agências da ONU e de ONGs para assegurar um gerenciamento apropriado e serviços, como também já organizou instalações sanitárias e de água. Já dispôs de clinicas médicas e ajuda psico- social.

A agência de buscas do CICV está ajudando a reunir famílias que foram separadas durante os eventos, com um foco particular em crianças desacompanhadas e idosos. A organização também se reúne constantemente com o governo e outras autoridades para levantar questões de interesse humanitário e encorajá-los a tomar as medidas apropriadas.

  Quais foram as contribuições específicas do CICV?  

     

Desde o início da crise, o CICV tem trabalhado de perto com seus parceiros da Cruz Vermelha do Quênia em campo e nos centros de operações, fornecendo assistência técnica e experiência. Especificamente, já:

  • Forneceu 16 toneladas métricas de suplemento nutricional (conhecido como BP-5);

  • Entregou 16.500 kits de itens domésticos, como também 15.000 tendas impermeáveis;

  • Despachou equipamentos de água e saneamento;

  • Forneceu kits médicos para tratar 350 feridos, e 300 kg adicionais de material médico e, consumíveis;

  • Enviou equipes cirúrgicas e forenses para ajudar os hospitais nas regiões afetadas a organizar procedimentos que ajudem no manejo da crise.

  • Enviou equipe de tempo integral (expatriados e quenianos) para trabalhar com a CVQ em Kisumu, Eldoret, Nakuru e Bungoma e enviou 13 caminhões e trailers e 17 veículos leves, como também dois aviões do CICV e um helicóptero que forma parte da espinha dorsal das operações da Cruz Vermelha no Quênia.

     

  Qual foi a função dos especialistas forenses?  

Eles trabalharam com os oficias no s necrotérios em Eldoret, Nakuru e Naivasha, atendendo a um pedido do Ministério da Saúde, ajudando a criar sistemas para lidar com o grande número de cadáveres. Eles se focalizaram particularmente em tentar assegurar uma identificação apropriada dos corpos que foram muito desfigurados (vítimas queimadas) ou que foram enterradas antes da identificação da família. O CICV também forneceu containeres refrigerados para assegurar a capacidade de armazenamento adequada em certos necrotérios, como também forneceu material para lidar com os corpos, câmeras digitais e computadores para facilitar o processo de identificação.

  Por que foi preciso enviar equipes cirúrgicas?  

Respondendo aos pedidos das autoridades dos hospitais locais e do Ministério da Saúde, um cirurgião foi enviado para o Hospital Moi de Eldoret no dia 01 de janeiro para ajudar a lidar com a repentina afluência de pacientes imediatamente após o anúncio do resultado das eleições. Ele não somente operou, mas também ajudou o hospital a criar procedimentos para lidar com o grande número de feridos.

Uma segunda equipe foi enviada mais tarde para o hospital Moi em Eldoret para ajudar nos casos difíceis como queimaduras e feridas com complicações. A equipe permaneceu lá por cerca de três semanas e deixou equipamentos de implante de pele e outros mais avançados.

A terceira equipe foi enviada para Naivasha e Nakuru no começo de fevereiro para ajudar a equipe médica local com qualquer assistência necessária. O CICV também deu medicamentos, roupas e outros materiais essenciais para estes hospitais.

  Quantas pessoas foram deslocadas?  

Os números mais recentes fornecidos pela Cruz Vermelha do Quênia indicam que aproximadamente 300.000 pessoas estão atualmente nos acampamentos do Rift Valley, Província Ocidental, Nyanza, Província Central e em outras áreas ao redor de Nairobi. Entretanto, a situação flutua muito: novos incidentes provocam mais deslocamentos e uma situação mais calma incita aos deslocados a mudarem para áreas mais seguras, tanto para os grandes acampamentos ou para fora das regiões afetadas.

  Os deslocados estão sendo apropriadamente ajudados?  

Em meados de janeiro, as distribuições iniciais de alimentos e itens domésticos essenciais alcançaram todos os grandes focos de concentração de pessoas deslocadas. Quando a violência aumentou, houve uma nova onda de deslocamentos, que em muitos casos gerou a necessidade de estabelecer novos acampamentos em diferentes áreas. As distribuições continuam, como também o trabalho de assegurar água potável e instalações sanitárias nestes acampamentos.

  Foi possível para a Cruz Vermelha mover-se livremente nas áreas afetadas, vocês têm acesso àqueles em necessidade?  

     

Devido ao longo trabalho da Cruz Vermelha do Quênia, o emblema da Cruz Vermelha é bem conhecido e respeitado por todo o país. Com exceção de uns poucos incidentes, a equipe da Cruz Vermelha e os suprimentos puderam mover desde os primeiros dias da violência e alcançar aqueles que precisavam de ajuda.

  Quais são os maiores desafios que vocês estão enfrentando?  

A situação continua muito instável, com novos incidentes em diferentes partes do Rift Valley, Província Ocidental e da região de Nyanza, como também com a possibilidade de violência em maior escala. Há a possibilidade de que outros grupos sejam deslocados, como também a movimentação constante daqueles já deslocados.

Isto exigirá flexibilidade constante da nossa parte. É difícil planejar a assistência quando não está claro por quanto tempo as pessoas ficarão em um determinado lugar.

  No final de janeiro, o CICV avisou que a violência inter-étnica estava perdendo o controle – o que os levou a fazer tal coisa?  

O CICV decidiu expressar publicamente sua preocupação sobre a situação após uma série de ataques, represálias e contra-represálias que começaram em meados de janeiro. O CICV estava, e continua preocupado com o fato de que estes ataques inter-étnicos gerarão mais violência na forma de mais represálias e ódio entre as comunidades.

Além do mais, estes incidentes tiveram uma natureza particularmente horrível e parecem estar se espalhando geograficamente. É por isso que o CICV sentiu a necessidade de convocar publicamente todos os líderes a nível local e nacional para que fizessem o possível para assegurar o respeito à vida e à dignidade humanas.