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Zimbábue: Situação humanitária está deteriorando

19-06-2008 Entrevista

O Zimbábue está passando por momentos difíceis. Zoran Jovanovic, chefe da delegação regional do CICV em Harare, nos conta sobre os desafios que o país está enfrentando e o que o CICV está fazendo para ajudar os zimbabuanos a superarem os desafios.

     

 
   
Zoran Jovanovic 
         

  Qual é a atual situação no Zimbábue do ponto de vista humanitário?  

     

A situação humanitária atualmente é bastante difícil para a população. Durante meses, o país se preparou para as eleições que aconteceram no fim de março. Felizmente, não houve incidentes e as eleições aconteceram em um ambiente de paz. Foi somente após o primeiro turno que a situação mudou.

Como o anúncio dos resultados oficiais foi atrasado, as pessoas ficaram nervosas. A ansiedade que muitos sentiam, finalmente explod iu na forma de violência política com incidentes muito graves concentrados em algumas regiões. Sabe-se que muitas pessoas fugiram de casa, foram espancadas, se sentiram ameaçadas pelos militantes de um lado ou de outro do espectro político. Foram relatados até casos de assassinato. Agora precisamos ver como a situação vai se desenvolver, especialmente pela aproximação do segundo turno das eleições que acontecerá no dia 27 de junho.

De qualquer modo, e independentemente do resultado, as necessidades humanitárias serão consideráveis. O ambiente social e econômico também está deteriorando e a inflação está fora de controle. Tudo isso provoca um impacto negativo nos serviços básicos de saúde e na população.

  O CICV foi atingido pela recente suspensão das atividades das ONGs no Zimbábue?  

     

Na semana passada, o governo informou todas as ONGs nacionais e internacionais atuantes no país que suas atividades seriam suspendidas imediatamente até próximo aviso. Dois dias atrás, o governo esclareceu que atividades como alimentação nas escolas e ajuda doméstica não seriam suspensas. Por enquanto, esta decisão não se aplica ao CICV ou aos nossos parceiros da Cruz Vermelha/Movimento do Crescente Vermelho. O CICV implementará as atividades no terreno tal qual planejado.

Temos um antigo acordo com o governo sobre as modalidades do nosso trabalho no Zimbábue e estamos confiantes de que continuará em vigor. No entanto, estamos muito preocupados com o impacto que esta suspensão pode ter sobre a população que se beneficia de vários programas implementados pelas ONGs no Zimbábue.

  O senhor pode nos contar mais sobre as atividades do CICV desde março?  

     

Antes de tudo, a delegação pôde conversar com a população atingida pela atual situação e já ajudou mais de 800 pessoas que sofrem das conseqüências negativas dos últimos acontecimentos. Também pôde discutir com as autoridades sobre os problemas que essas pessoas estão enfrentando.

Estamos tentando ter acesso às pessoas detidas devido a esta situação, utilizando nossa estratégia, que prevê o diálogo confidencial. Ganhar a confiança das autoridades é vital para conseguir ter acesso às prisões.

Em geral, nos últimos três meses, nossas atividades estiveram focalizadas no serviço básico de saúde, água e saneamento. Há mais de dois anos e meio, lançamos o único programa básico de saúde elaborado por uma organização internacional no Zimbábue. Além das 16 estruturas de saúde que receberam nosso apoio nesses últimos anos, estamos ajudando três hospitais distritais em zonas rurais e oito policlínicas nos subúrbios populosos de Harare. A ajuda médica do CICV acontece paralelamente ao apoio na área de abastecimento de água e saneamento, a fim de assegurar que os centros tenham acesso à água potável. Ao mesmo tempo, o CICV fornece peças sobressalentes, totalmente gratuitas, para as comunidades perto dos centros de saúde, a fim de permitir que eles possam consertar as bombas de água manuais instaladas nas vilas.

Estamos comprometidos a avaliar continuamente esta situação e a adaptar nossa resposta às novas necessidades que possam surgir.

Atualmente, estamos no processo de expansão das nossas atividades na cidade de Harare, principalmente na área de abastecimento de água e saneamento para ajudar a Jurisdição Nacional de Águas do Zimbábue a distribuir um volume razoável de água de boa qualidade.

  Como a crise global de alimentos está atingindo a população no Zimbábue?  

     

O Zimbábue enfrenta uma situação difícil na área alimentar há vários anos, e infelizmente não há dúvidas de que em 2008, devido às baixas colheitas, o país vai precisar de uma grande quantidade de alimentos importados. Esta deficiência, com certeza, vai repercutir sobre os mais vulneráveis, os deslocados internos e os doentes. Os detidos também podem vir a sofrer as conseqüências, uma vez que o aumento nos preços dos alimentos não é levado em conta no orçamento das prisões e porque será muito difícil que suas famílias os ajudem.