Deslocados na República Centro-Africana: escolhas difíceis
Centenas de milhares de deslocados na República Centro-Africana ainda aguardam a volta para casa para retomar uma vida normal. Já gravemente afetados pelos efeitos do conflito, eles agora devem suportar a presença de homens armados e os incêndios acidentais que destruíram os campos em Kaga Bandoro, Bantagafo e Bambari, aumentando as suas privações.
Várias pessoas morreram ou ficaram feridas no incêndio em Bambari, no centro-leste do país, em que houve grandes estragos, com mais da metade dos abrigos temporários tendo sido reduzidos a cinzas, bem como os pertences dos seus ocupantes, já muito vulneráveis. Incêndios similares ocorreram em Kaga Bandoro e Bantagafo, no norte, felizmente sem mortes.
"Não tive tempo de pegar nada quando o fogo começou. Perdemos tudo que tínhamos para viver no campo: roupas, lençóis e produtos básicos que recebemos das organizações humanitárias. O que será de nós?", pergunta Jeannette Igakola, viúva que vive no campo de Évêché em Kaga Bandoro.
Milhares de pessoas em perigo em todo o país
A situação dos deslocados na capital Bangui não é muito melhor. O acesso precário à água e saneamento os deixa vulneráveis a doenças como malária e diarreia. A escassez de comida está causando um risco de desnutrição.
Muito mais pessoas estão se deslocando atualmente em todo o país. Algumas foram acolhidas por famílias locais, enquanto outras estão acampando na mata em condições muito difíceis. A violência constante nos seus lugares de origem impede a volta dos que querem fazê-lo. Outros preferem esperar para ver como a situação evolui.
"No momento, existem 435 mil deslocados na República Centro-Africana que vivem com privações extremas. O maior desejo deles é voltar para casa assim que a situação permitir", afirmou o chefe da delegação do CICV no país, Jean-François Sangsue.
Entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, o CICV realizou as seguintes atividades, em algumas ocasiões em conjunto com os voluntários da Cruz Vermelha Centro-Africana:
- realizou mais de 250 cirurgias e mais de 1,5 mil consultas no hospital comunitário de Bangui;
- realizou mais de 10 mil consultas em Kaga Bandoro, incluindo 1 mil atendimentos pré-natal;
- ofereceu apoio psicossocial a mais de 50 vítimas de violência sexual em Kaga Bandoro;
- tratou mais de 1,9 mil casos de malária em Birao;
- possibilitou que mais de 100 pessoas separadas das suas famílias pelo conflito falassem com seus entes queridos por telefone e reunificou três delas com seus familiares;
- distribuiu água diariamente a mais de 53 mil deslocados em Bangui, Kaga Bandoro e Bambari;
- garantiu que 10 mil moradores de Ndélé fossem abastecidos com água potável através da rede urbana de distribuição;
- forneceu comida a mais de 7,5 mil crianças desnutridas em Kaga Bandoro;
- entregou cestas alimentares a mais de 20 mil deslocados em Bangui e a mais de 7 mil no caminho entre Kaga Bandoro e Ouandago;
- organizou palestras de conscientização para 45 jornalistas e mais de 100 líderes comunitários sobre a necessidade de proteger os profissionais e estabelecimentos de saúde;
- sensibilizou mais de 30 instrutores das forças armadas do país e 45 membros de grupos armados sobre os princípios básicos do Direito Internacional Humanitário (DIH);
Além disso, os delegados do CICV visitaram mais de 500 detidos em todo o país. Destes, cerca de 400 receberam artigos de higiene de uso geral e pessoal.