Detidos em Myanmar: Mensagem Cruz Vermelha enviada por filho coloca fim a 7 meses de espera ansiosa da mãe
Naquele dia, nove palavras mudaram a vida dela.
"Querida mãe. Como você está? Nós estamos em Bangladesh." Alguns meses atrás, Adere Begum* não sabia que apenas nove palavras mudariam a sua vida. Após sete meses sem ter qualquer notícia dos filhos, perguntando-se diariamente se eles tinham sobrevivido, foi como se essas nove palavras a fizessem reviver.
Em agosto de 2018, quando a violência irrompeu em Maungdaw, Adere Begum fugiu com os cinco filhos. Tentou entrar com eles em Bangladesh para buscar refúgio, assim como as outras 700.000 pessoas que escaparam para se salvar. Mas a família foi separada no caminho e, desde então, não se sabia o que havia acontecido com cada um. Detida na prisão de Buthidaung (província de Rakhine), Adere Begum passava o tempo pensando neles. Haviam sobrevivido? Teriam conseguido refúgio? Procuravam por ela?
Enquanto Adere Begum se debatia com muitas perguntas sem respostas, Myint Naign, um oficial de terreno do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), entregou-lhe uma carta. Naign se lembra bem daquele encontro. "Adere Begum parecia muito abatida quando me aproximei dela. Mas, logo que eu disse 'seu filho está vivo, conseguimos entrar em contato com ele', foi como se ela revivesse. Ficou muito entusiasmada, e seus olhos se encheram de lágrimas", afirma.
O CICV, em parceria com a Sociedade do Crescente Vermelho de Bangladesh, encontrou os filhos dela em um campo de Cox's Bazar. Eles mandaram uma carta e uma foto, que foram depois entregues a Adere Begum na prisão de Buthidaung como uma Mensagem Cruz Vermelha. Essas mensagens contêm apenas notícias familiares e são verificadas pelas autoridades penitenciárias antes de serem entregues aos detidos. Ainda que breve, porém, o conteúdo traz um alívio para a ansiedade causada pela separação. "Você estava doente quando foi presa. Como se sente agora? Está tomando seus remédios? Como está minha irmã? Ela está com você ou com meu pai? Mamãe, sinto tanto a sua falta. Estamos muito felizes de saber que você está viva. Estamos rezando por você. Reze por nós também", escreveram os filhos.
TO serviço de Restabelecimento de Laços Familiares do CICV já coletou mais de 2.400 Mensagens Cruz Vermelha e pedidos de busca de Bangladesh e Myanmar desde agosto de 2017. Também ajudou milhares de pessoas a retomar o contato com os entes queridos por telefone. Até agora, mais de 9.500 pessoas puderam se comunicar de novo.
"Tendemos a esquecer que as pessoas não precisam apenas de água e alimentos em uma situação de crise; elas também precisam de informação", afirma Odoardo Girardi, chefe do programa de reunificação familiar do CICV em Cox's Bazar. O superintendente da prisão de Buthidaung, Chan Aye Kyaw, concorda. "Quero agradecer ao CICV por transmitir aos detidos notícias das suas famílias", diz ele. "As Mensagens Cruz Vermelha são muito importantes e ajudam a melhorar a condição psicológica dos detidos. Saber que a família está bem lhes traz alegria e satisfação."
Adere Begum pode confirmar a importância dessas mensagens. "Eu estava muito preocupada com minha família, mas então o CICV me trouxe boas notícias", diz ela. "Só de saber onde meus filhos estão eu já me sinto melhor."
Outro detido da prisão de Buthidaung, que também recebeu uma mensagem e uma foto de sua família em Bangladesh, diz que agora dorme melhor de noite. "Eu não podia descansar sem saber onde minha família estava. Mas, de forma inesperada, recebi uma mensagem e uma foto. Fiquei feliz demais!", ele conta. "Essa notícia que o CICV me trouxe é muito valiosa."
As equipes do CICV visitaram quatro prisões na província de Rakhine desde agosto de 2018 e continuarão visitando, procurando por familiares desaparecidos de pessoas que vivem em campos de refugiados em Bangladesh.
Se receber Mensagens Cruz Vermelha dá esperança aos detidos, então a perspectiva de enviá-las aos entes queridos enche-os de entusiasmo.
Mamãe está escrevendo para você, meu filho. Estou saudável também. Estou muito feliz de receber sua carta e sua foto porque sei exatamente onde você está agora. Fiquem bem, meus filhos e filhas." - Adere Begum*
*O nome foi trocado para preservar a privacidade da família.