Alberto Cairo, chefe do programa de reabilitação física do CICV no Afeganistão, em sua sala no centro ortopédico Ali Abad em Cabul

Em meio à transição no Afeganistão, centros ortopédicos do CICV continuam prestando assistência

Artigo 02 setembro 2021 Afeganistão

As cicatrizes da guerra podem durar a vida toda. Para alguém que perdeu um membro devido a uma explosão ou uma bala, uma prótese de braço ou perna que funcione corretamente amplia muito suas capacidades. Crianças com malformações congênitas ou paralisia cerebral podem precisar de uma vida inteira de cuidados especializados.

O chefe do programa de reabilitação física do CICV no Afeganistão, Alberto Cairo, continua supervisionando os sete centros ortopédicos da organização durante uma época de mudança e transição no país. O maior centro do programa, em Cabul, está aberto, mas opera com capacidade reduzida.

Se formos embora, quem vai ficar? Devemos trabalhar em lugares em guerra.

Alberto Cairo, chefe do programa de reabilitação física do CICV no Afeganistão

"Os pacientes estão chegando e estamos fazendo alguns trabalhos, não podemos adiar todos os serviços", afirma Cairo. "Por exemplo, se uma criança vem porque precisa que o gesso do pé seja retirado ou recolocado, temos que fazê-lo, não podemos esperar. Os pés jovens continuam crescendo."

As pernas protéticas que o CICV fornece às pessoas necessitadas são resistentes e duráveis. Mas mesmo esses modelos simples e eficientes podem precisar de reparos de vez em quando. Cairo conta que a sua equipe agora, em um momento de incerteza e trabalhando em número reduzido, está fazendo o melhor que pode. "Consertamos um grande número de aparelhos e fazemos novos quando já não podem mais ser consertados", acrescentou.

O CICV tem o mandato de tratar as vítimas da guerra, sem importar de que lado do conflito elas venham. Durante este período de mudança em Cabul, o médico e a sua equipe estão atendendo pacientes do Talibã. "Eles vêm e pedem serviços. Alguns já conhecemos há muitos anos e outros são novos", afirmou Cairo.

O projeto ortopédico do CICV começou em 1988 em Cabul e cresceu enormemente. Desde então, já se registraram cerca de 210 mil pacientes com deficiência física; pelo menos 150 mil por ano recebem tratamento em um dos sete centros.

São realizadas amputações em cerca de um quarto das pessoas atendidas — a maioria delas vítimas de minas e resíduos explosivos de guerra — enquanto o restante inclui pessoas com poliomielite, lesões na coluna, malformações congênitas, paralisia cerebral e vítimas de acidentes, entre outras. Grande parte precisa de tratamento durante muitos anos, quase sempre pelo resto das suas vidas.

Em um domingo de agosto em Cabul, o centro ortopédico atendeu cerca de 300 pacientes — metade do que seria visto em um dia normal. O Dr. Cairo conta que sabe que o volume de pacientes aumentará nas próximas semanas.

"A situação no Afeganistão ainda é volátil. O número de pacientes que chegam às nossas portas é reduzido, assim como o do nosso pessoal. Ambos os números aumentarão progressivamente no futuro próximo, de acordo com a situação", afirma Cairo.

O CICV está presente no Afeganistão desde 1987 e permanecerá aí para ajudar as pessoas necessitadas. Como o Dr. Cairo declarou recentemente à rede BBC: "Se formos embora, quem vai ficar? Devemos trabalhar em lugares em guerra."

"Espero que a comunidade internacional fique atenta ao país, porque sentir-se abandonado é uma das piores sensações que alguém pode ter", diz o Dr. Cairo.