Iêmen: A dor do conflito permeia profundamente nas comunidades - Declaração do CICV na Assembleia Geral das Nações Unidas

22 setembro 2017
Iêmen: A dor do conflito permeia profundamente nas comunidades - Declaração do CICV na Assembleia Geral das Nações Unidas
Duas crianças em Taiz, dezembro de 2016. CC BY-NC-ND / CICV / Khalid Al-Saeed

Discurso proferido pelo presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, Evento de Alto Nível sobre a Crise Humanitária no Iêmen, Assembleia Geral das Nações Unidas, 72ª sessão.

Com outras pessoas nesta sala, estive no Iêmen algumas semanas atrás. O que eu vi foi um duro alerta sobre como a dor do conflito permeia as comunidades e como as redes de alianças equipadas com armas, cujo acesso é fácil complicam e prolongam as guerras.

Para muitos iemenitas, a vida digna é impossível. O fornecimento de eletricidade e água foi danificado. Os hospitais foram atacados. Meninos, armados com pistolas, cuidam dos postos de controle. As pessoas se esforçam para sobreviver frente à pobreza agravada pela guerra e à morte causada por doenças crônicas que podem ser tratadas.

Agora, um surto letal de cólera ameaça as vidas de 700 mil pessoas. As restrições às importações e a maneira de conduzir a guerra que violam com frequência o Direito Internacional Humanitário (DIH) levam quase 20 milhões de pessoas a uma situação de hiperfragilidade.

De fato, isso se estende além de um conflito localizado.

O CICV duplicou o orçamento este ano para cerca de dez milhões de dólares, tornando o Iêmen a nossa terceira maior operação mundial.

Estamos nos hospitais, nos centros de combate à cólera, nas cidades e vilarejos. Consertamos as redes de água e esgoto. Treinamos mais de 200 médicos e enfermeiros em gestão de vítimas em massa. Realizamos centenas de operações. Ajudamos a tratar as pessoas com doenças crônicas. Entregamos alimentos, água e utensílios domésticos. Fornecemos sementes e ferramentas aos agricultores. Membros da nossa equipe foram mortos e sequestrados. Os nossos corajosos colegas do Crescente Vermelho Iemenita já perderam dez voluntários.

Algumas perguntas precisam ser feitas:

  • Por que há tantas violações ao DIH, por parte de todos os beligerantes, mas com diferentes padrões de comportamento?
  • O que aconteceu com todas as pessoas que foram detidas: como estão sendo tratadas?
  • Haverá um esforço conjunto para encontrar uma solução política?

As respostas estão em uma dinâmica nacional, mas também regional, e muito além disso. É preciso um maior envolvimento com as partes que influenciam fora da região para encontrar uma solução para o conflito e, enquanto isso, fazer com que aqueles que estão no terreno respeitem as normas básicas de guerra.

O CICV faz quatro recomendações hoje:

Primeiro, é necessária uma solução política. Sem dúvida, esta é a prioridade número um, como outras pessoas disseram aqui. Pendente de uma solução política abrangente, precisamos com urgência de acordos em áreas mais amplas de tranquilidade para os civis. Uma guerra, que está perdendo alvos militares, não deve continuar.

Segundo, enquanto o conflito continua, as partes devem cumprir com o DIH, incluindo as normas que regem a condução de hostilidades e o tratamento das pessoas detidas. O respeito e a proteção dos civis e dos objetos civis. Assegurar uma adesão inabalável aos princípios de distinção, proporcionalidade e precaução. Adaptar esses princípios principalmente a contextos urbanos de vulnerabilidade. Poupar os serviços básicos do Iêmen agora e no futuro. O meu pedido se dirige às pessoas envolvidas tanto direta como indiretamente – seja combatendo ao lado dos beligerantes, seja transferindo armas ou apoiando-os de outra maneira –, e é que pressionem as partes a cumprirem com o DIH.

Terceiro, se a comunidade internacional deve responder de maneira significativa às crises, o acesso humanitário deve ser permitido e facilitado por todas as partes. O fluxo de material de ajuda e mercadorias – tanto o ingresso, como a circulação no Iêmen – deve ser permitido. É importante que centros de transporte, como o aeroporto de Sanaa e também os portos marítimos, sejam reabertos rapidamente. Precisamos um acesso humanitário e um regime de abastecimento que nos ajude a prevenir o pior.

Quarto, acesso aos detidos. O círculo vicioso – mediante o qual cada lado nega ao CICV o acesso até que as pessoas do seu lado sejam visitadas primeiro – deve ser interrompido. Obtivemos um pouco de acesso. Mas isso precisa ser significativamente ampliado.

Prezados colegas, o CICV está ao lado da população iemenita, mas precisa de um esforço conjunto de todos.

Para concluir:

Ao terminar esta Semana de Alto Nível, lembrei de um velho ditado muito conhecido do Oriente Médio: "Ouço o que você diz e me agrada. Vejo o que você faz e penso." Ajudem-me, junto com outros, a pôr um fim a esse eterno pensar.