Peru: as cicatrizes da violência

23 maio 2017

Visitamos Unión Alto Sanibeni, uma pequena comunidade asháninka localizada no meio da selva central do Peru, que sofreu graves consequências devido aos frequentes confrontos armados ocorridos durante o conflito que o Peru viveu durante as décadas de 80 e 90. Muitos civis foram mortos e desapareceram. As pessoas fugiam enquanto as suas casas e povoados eram incendiados. Décadas mais tarde, a comunidade não mudou muito. As pessoas ainda têm as cicatrizes físicas e emocionais. A comunidade asháninka ainda vive com medo pelas marcas que a violência deixou.

"O que observamos é que, ainda que a violência armada que aterrorizava a população há 30 anos já tenha terminado, as sequelas deixaram cicatrizes profundas. O tecido social está destruído em grande medida pela violência, mas também pelo abandono. Os habitantes ainda vivem com o medo de que a violência possa voltar a acontecer", comenta Giorgio Negro, delegado do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) que realizou um registro fotográfico na zona.

Veja vídeo em español:

Os moradores de Unión Alto Sanibeni, na sua maioria retornados, não têm informações sobre familiares desaparecidos, o trágico passado que os persegue hoje em dia. "Tínhamos medo sempre de que a qualquer momento chegassem os homens armados e levassem as pessoas embora, as crianças, que pudéssemos morrer nos enfrentamentos. Para onde escapar? Temos que ir para outro lugar, sempre pensávamos isso", afirma um membro da comunidade asháninka. O medo de ter que fugir e começar de novo condiciona a ideia de futuro nas comunidades, em particular, as que estão localizadas na área de influência do conflito do Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro (VRAEM), que vivem o presente como uma extensão do conflito armado interno de 1980-2000.

O povo asháninka, assentado na selva central do Peru, foi duramente atingido e afetado durante os anos do conflito armado interno. A Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) considerou que de 55 mil asháninkas, cerca de seis mil morreram e outros dez mil foram obrigados a se deslocar. Além disso, ao redor de cinco mil foram, em algum momento, prisioneiros do grupo armado Sendero Luminoso e que entre 30 e 40 comunidades asháninkas desapareceram.

A nossa equipe visita as comunidades dessa etnia para avaliar as suas necessidades e promover que sejam levadas em consideração nos programas de reparação que o Estado põe à disposição para as vítimas.