Tanzânia: o longo caminho para a reunificação de uma família do Burundi
Nestory sabia que teria de ir embora. A tensão no Burundi aumentava a cada dia. Muitos de seus irmãos já haviam fugido para os campos de refugiados na Tanzânia. "Saí no meio da noite, sem me despedir da minha esposa e dos meus filhos", explicou Nestory. "Nenhum de nós sabia se nos veríamos de novo. Tudo o que podíamos fazer era ter esperança."
Nestory caminhou durante a noite até a fronteira com a Tanzânia. Foi direcionado a um ponto de passagem e depois transferido ao campo de refugiados de Nduta, onde vive hoje. "Éramos mais de 100 naquela manhã no centro de recepção", recorda.
Na noite em que Nestory fugiu, sua mulher, Genveva, quase não pôde dormir porque não sabia se o marido havia conseguido chegar à fronteira. Ela estava com um de seus filhos, de quatro anos. O outro, de sete, dormia na casa do tio. Quando Nestory chegou à Tanzânia, pediu um telefone emprestado e avisou à mulher que tinha cruzado a fronteira.
Após uma semana, Genveva também decidiu fugir com o filho caçula. Caminhou por dois dias, batendo à porta das pessoas pelo caminho para pedir comida.
"Lembro-me da forte chuva que caiu na primeira noite. Meu filho quase adoeceu, pois não tínhamos onde ficar e dormimos debaixo de bananeiras. Só depois encontramos pessoas que nos deram abrigo", afirma. Ela finalmente chegou ao centro de recepção em segurança e foi transferida com o filho para Nduta, onde ambos se reencontraram com Nestory.
Agora, o desafio do casal era levar o filho de sete anos para o campo. Seis meses se passaram até que o tio, que nunca havia querido ir para Nduta, entrou em contato com Nestory e contou que um vizinho planejava viajar até o campo. Com a esperança renovada de ver o filho de novo, Nestory instruiu o tio a entregar o garoto para o vizinho, rezando para que tudo desse certo.
Ao chegar no centro de recepção na fronteira, o vizinho soube que o campo de Nduta estava lotado. Foi então transferido com o garoto para o campo de refugiados de Mtendeli, a cerca de 60 quilômetros de distância. A família continuou separada.
Nos seis meses que passaram no campo, Nestory e a mulher escutaram muitas histórias de outros refugiados. Uma das expressões que ouviam era ghuzamiryango, que significa "reunificação de famílias". Os refugiados usavam o termo para se referirem ao programa Restabelecimento de Laços Familiares da Cruz Vermelha. Nestory sabia que esse era o modo mais rápido de ver o filho de novo.
Assim, ele entrou em contato com o escritório da Cruz Vermelha da Tanzânia em Nduta, cujas atividades têm o apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
O escritório registra três tipos de casos para reunificação: crianças que fogem sem os pais; crianças que fogem com familiares, mas sem os pais ou o guardião; e pessoas idosas que foram separadas das famílias e não podem cuidar de si mesmas.
Os esforços da Cruz Vermelha para encontrar o menino de sete anos deram frutos. Ele foi transferido a Nduta para se reencontrar com a família. Depois de mais de seis meses, era a primeira vez que via os pais e o irmão caçula.
"Agradeço à Cruz Vermelha por nos tornar uma família de novo", diz Genveva.
Nestory e a família vivem hoje entre os mais de 220 mil cidadãos do Burundi que fugiram quando a crise começou, em 2015. Todos são mantidos em três campos: Nduta, Mtendeli e Nyarugusu. Como chegam cerca de 250 novos refugiados, o governo da Tanzânia considera a abertura de um quarto campo. O serviço de Restabelecimento de Laços Familiares da Sociedade da Cruz Vermelha da Tanzânia, apoiado pelo CICV, continua reunindo centenas de famílias entre os campos.