Comunicado de imprensa

Brasil: rede AMS reúne-se para tratar de ações que mitiguem impactos humanitários da violência armada

Encontro em Fortaleza debate atuação nos serviços de saúde, educação, assistência social, juventude, direitos humanos, entre outras áreas
Foto grupal

Fortaleza (CE) – Educadores, profissionais de saúde e assistência social de  Duque de Caxias,  Fortaleza, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Vila Velha participaram, nos dias 3 e 4 de dezembro, do IX Encontro Nacional da Rede Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais (AMS), em Fortaleza (CE), promovido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) com apoio da Prefeitura de Fortaleza.

O evento, com o tema “Intersetorialidade na construção de um AMS sustentável”, reuniu cerca de 130 autoridades de governo e profissionais  para discutir ações que visem promover o trabalho intersetorial do AMS como estratégia para mitigar as consequências humanitárias da violência armada. Durante a abertura, a Escola de Danças Urbanas da Rede Cuca fez uma  apresentação cultural.

O AMS visa promover ambientes seguros e fortalecer a resiliência dos profissionais de serviços públicos em áreas afetadas por violência armada para assegurar o direito da população ao atendimento em áreas conflagradas. O programa tem sido utilizado por aproximadamente 48 mil profissionais de 1,935 unidades em oito cidades brasileiras, com uma gestão de risco cada vez mais adaptada à realidade local. 

Roda de apresentações
R. Carvalho/ CICV

Profissionais de Duque de Caxias apresentam experiência com a AMS.

A  coordenadora do Programa AMS para Serviço Públicos Essenciais da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Karen Cerqueira, explicou a importância de grupos de suporte, que são os apoiadores do processo de implementação na gestão, para debaterem o uso das técnicas e ferramentas empregadas de forma intersetorializada. “Nossas unidades precisam ter uma visão conjunta no âmbito da violência armada. Como fazer o acesso mais seguro de forma mais eficaz em cada um dos bairros que implementam o AMS, conhecendo aquela comunidade na qual estão inseridos, afirmou. 

Segundo Karen, umas das grande mudanças no programa de 2024 é a criação da rede de facilitadores, que debatem como melhorar esse processo de crescimento e de como gerar uma cultura de gestão de risco, de cuidado dos profissionais dos serviços e usuários frente a um a situação de risco, capacitando outros profissionais no país. Karen Cerqueira também anunciou a mudança na nomeclatura do programa, que vai passar a se chamar  Acesso no segundo semestre de 2025. 

Coordenadora do programa AMS
R. Carvalho/ CICV

Karen Cerqueira explica as mudanças no programa, que passa a se chamar Acesso no segundo semestre de 2025

O trabalho em Fortaleza

Fortaleza é um dos municípios que implementam o AMS. O vice-prefeito da cidade, Jose Helcio Batista, destacou a importância da parceria com o CICV em apoio à continuidade de oferecimento dos serviços públicos na capital cearense. “Esse é um trabalho muito importante, com séculos de experiência. Os conflitos estão presentes na maior parte das cidades do mundo, gerando processos de violência e interferindo na oferta de serviços. Aqui temos grupos armados, e a experiência tem nos ajudado a oferecer segurança aos profissionais”, comentou.

Cerimônia de abertura
R. Carvalho/ CICV

O vice-prefeito de Fortaleza destacou a parceira com o CICV.

Para o chefe do escritório do CICV em Fortaleza, Mario Guttilla, foi positiva a realização do evento na cidade. Gutilla considerou a sanção da lei de Acesso mais Seguro em 2022 um passo importante para que a política pública seja sustentável. Por sua vez, o chefe de Operações da Delegação Regional do CICV, Daniel Muñoz-Rojas, destacou a participação de convidados do México, Honduras, Equador e Costa Rica. “Muitos contextos batem à porta do CICV porque a violência armada está batendo à porta. Não podemos deixar de olhar nessa direção, e eles vêm se inspirar no AMS para levar a seus países que também vivenciam no dia-a-dia as consequências dramáticas da violência armada nos serviços públicos essenciais”, disse. 

Chefe de operações da Delegação Regional do CICV
R. Carvalho/ CICV

Daniel Muñoz-Rojas destacou a participação de convidados internacionais

Intersetorialidade

No primeiro dia da atividade, o professor e doutor em Sociologia César Barreira, em palestra sobre  o papel da intersetorialidade na construção de políticas públicas exitosas discorreu também sobre análise de contextos de riscos e a prática do cuidar. Barreira explicou que vivemos em um mundo onde se requer cada vez mais cooperação de todos, compartilhamento de recursos, metas, objetivos e planos. “Quase que naturalizamos essas situações onde as pessoas não têm acesso aos serviços públicos em áreas áreas vulneráveis e de violência armada. Nesse contexto, entra a cultura de análise de contexto de riscos, o programa AMS, administração de crise, gestão de estresse e trabalho em redes”, considerou. Para o sociólogo, é preciso entender a violência hoje, com uma nova dinâmica do crime, como uma violência difusa.

Atividades em grupos
C. Almeida/ CICV

Participantes trabalharam a intersetorialidade em seus territórios.

O segundo dia de evento focou em trabalhos em grupo sobre a intersetorialidade nos territórios, seguida de uma roda de conversa sobre formas de contruir uma política intersetorial do AMS com profissionais de dois municípios com duas realidades diferentes: Fortaleza e Salvador. Fortaleza já implementa  o AMS desde 2018, enquanto Salvador é a mais recente cidade a aderir ao AMS e trabalha, no momento, com a edição de um decreto para implementar o programa a fim de, futuramente, elaborar uma nova legislação. “A lei é um caminho natural porque é uma política pública do município”, afirmou o diretor de Governança da Prefeitura de Salvador, Reynaldo Costa Neto. 

Para a coordenadora executiva da Assessoria de Assuntos Institucionais da Prefeitura de Fortaleza, Joana Nogueira, o órgão já trabalha com políticas transversais e pensa estrategicamente para que, mesmo com mudanças na gestão, o AMS não seja descontinuado. “Essa metodologia dá segurança ao servidor, mostra a ele como agir em casos de violência e dar um conforto, reduz o índice de servidores que não querem trabalhar em território XYZ por conta da violência. Ou seja, oferece ao cidadão um serviço de melhor qualidade, porque ao invés de suspender o serviço de educação, a escola fechar, suspender o serviço de saúde, o posto de saúde fechar, ele segue trabalhando”, explicou.

Para Joana Nogueira, ter realizado o evento em Fortaleza aproxima a realidade local e proporciona a participação de mais participantes do programa, criando um diálogo entre cidades. Além da troca de experiências e apresentação de casos de sucesso em municípios e estados, os participantes assistiram ao filme “É Mais do que se Vê”, produzido pelo CICV, seguido de discussão sobre os impactos da violência armada na população. Também ouviram a palestra “Violência no Grande Bom Jardim sob a perspectiva de estudantes de escolas públicas de ensino médio: vitimização, percepções sobre segurança e repercussões educacionais”. 

Para mais informações:

Fabíola Góis, assessora de Comunicação no CICV Brasília 

(61) 98248 7600 fgois@icrc.org