Comunicado de imprensa

Brasil: Terceira edição da campanha nacional de coleta de DNA busca dar respostas a famílias de pessoas desaparecidas

Foto oficial III Fase
Foto: MJSP

Uma mãe ou um pai com um filho desaparecido sofre duas vezes: pela ausência e pela falta de respostas. Para enfrentar esse drama vivido por milhares de famílias em todo o país, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) deu início, nesta terça-feira (5), à terceira edição da Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas no marco da Mobilização Nacional de Identificação de Pessoas Desaparecidas.

A campanha, que vai até o dia 15 de agosto, é uma força-tarefa coordenada em todo o território nacional e conta com 334 pontos de coleta preparados para receber familiares que ainda não doaram material genético. São 64 postos a mais que na última edição realizada em 2024. 

A ação tem como objetivo ampliar o banco de dados genéticos e possibilitar cruzamentos com perfis de pessoas não identificadas, vivas ou falecidas. A diretora do Sistema Único de Segurança Pública, Isabel Seixas de Figueiredo, reforçou que os laboratórios e institutos de perícia estão preparados para processar rapidamente as coletas e inserir os dados no Banco Nacional de Perfis Genéticos, algo essencial para o sucesso da campanha. “Não basta doar o DNA; é preciso garantir o processamento e o cruzamento com os perfis já armazenados. Isso é o que permite encontrar respostas”, explicou.

Para participar, os familiares devem apresentar um documento de identidade e os dados do Boletim de Ocorrência do desaparecimento (número, estado de registro, delegacia), sendo recomendada também a entrega de uma cópia do BO. Todo o material genético coletado será utilizado exclusivamente para fins de identificação, em um sistema compartimentalizado que garante a confidencialidade e o uso restrito para a finalidade humanitária.

Chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai
Foto: MJSP

Nicolas Olivier, chefe da Delegação Regional do CICV para Brasil e Cone Sul durante sua fala na mesa de abertura de lançamento da campanha.

O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, disse que esse é um projeto que tem dado resultados muito positivos.  “Na última ação, pelo menos 35 casos foram identificados, e as famílias encontraram respostas para as pessoas desaparecidas. O DNA traz uma certeza muito consistente. Eu costumo dizer que essa é uma questão de dignidade humana. Ainda que o encerramento do caso seja da pior forma possível, com o falecimento, é um encerramento, elas sabem o que aconteceu”, afirmou. Sarrubbo também enfatizou que a identificação das pessoas desaparecidas deve ser vista para além das cifras e que cada DNA  carrega a história dessas pessoas e de suas famílias. 

Além das coletas, a campanha também traz um olhar mais humano sobre o tema com o lançamento do caderno digital “Histórias são mais que números”, que reúne relatos reais de familiares que tiveram seus casos resolvidos durante a Campanha Nacional e reforça que cada desaparecimento é uma dor única e concreta. Na segunda etapa da campanha, foi lançada uma cartilha orientadora para profissionais da saúde e assistência social, com instruções sobre como lidar com casos de pessoas internadas ou acolhidas sem identidade.

Durante o evento de lançamento desta edição da Campanha, a representante do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, Vera Lúcia Ranú, que busca sua filha há 33 anos, destacou o papel inédito do poder público na escuta ativa das famílias. “É a primeira vez que sentimos uma sensibilidade real. O DNA era algo desconhecido para muitos de nós, mas hoje sabemos que pode representar esperança — se não para mim, para outros familiares”, disse. Vera também anunciou que, no próximo dia 30 de agosto, quando se celebra o Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, será lançado oficialmente o Movimento Nacional, com o objetivo de unificar esforços de familiares e instituições em todo o país.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), parceiro da iniciativa desde o início, também esteve presente no evento. O chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Nicolas Olivier, parabenizou o governo brasileiro pelos esforços e avanços na pauta dos desaparecidos e reafirmou o compromisso da organização em colaborar tecnicamente com as autoridades, com fins exclusivamente humanitários. “Seguiremos à disposição para apoiar essa luta que é, antes de tudo, por dignidade, por memória e por respostas”, afirmou.

Nesta terceira edição da campanha de coleta de amostras de DNA de familiares de pessoas desaparecidas, o CICV segue apoiando tecnicamente e incentivando e facilitando a participação para que familiares estejam envolvidos ativamente em todo processo. 

Confirma mais informações em Mobilização Nacional — Ministério da Justiça e Segurança Pública (www.gov.br)

 

Sobre o CICV

O CICV trabalha com as autoridades responsáveis pela Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas e associações de familiares para apoiar que as famílias afetadas possam fazer parte dos processos de construção da Política Nacional, narrando suas principais necessidades, dificuldades e anseios. As famílias são as que realmente podem relatar a dor da ausência de seus desaparecidos porque são elas as que enfrentam as dificuldades da busca de seus familiares.

A realidade e o sofrimento enfrentados pelos familiares de pessoas desaparecidas fazem surgir consequências graves para sua saúde física e mental. Há também necessidades jurídicas, administrativas, econômicas e de assistência. Diante disso, o CICV recomenda a criação de uma rede nacional e coordenada de assistência interdisciplinar a partir dos serviços públicos e ONGs já existentes para atender a esses familiares.

Mais informações

Fabíola Góis, assessora de Comunicação do CICV em Brasília
(61) 98248-7600 fgois@icrc.org