Com o propósito de fortalecer as redes de proteção – e salvar vidas - representantes de Programas de Proteção Provisória se reúnem, pela terceira vez, nos dias 23 e 24 de outubro, em Salvador (BA).
A iniciativa, co-organizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP) e com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia (SJDH/BA).
O encontro reúne profissionais de diferentes estados e municípios, incluindo tomadores de decisão e integrantes das equipes técnicas dos programas de proteção, membros de organizações da sociedade civil, representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, além de secretarias estaduais e municipais às quais os programas estão vinculados.
O ponto central do evento é estimular a troca de experiências entre os Programas de Proteção Provisória, apresentar iniciativas que já funcionam em alguns estados e discutir caminhos para consolidar essas ações pelo país, incluindo a construção de um marco regulatório que garanta sua institucionalização.
A programação também incluiu discussões sobre a construção de um sistema que integre os diversos programas já existentes e identifique as lacunas que precisam ser preenchidas para proteger a população em risco.
A secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Élida Lauris, afirmou que o Brasil começou a instituir políticas apenas na metade de sua experiência democrática. “Tentamos resolver um problema que é de difícil solução no Brasil, e a atuação do CICV é muita bem-vinda. Nos ajuda a pensar como estamos lidando com os nossos jovens programas e como temos dado conta das questões emergenciais na área de segurança pública”, pontuou.
O CICV entende que esse encontro pode contribuir para o aprimoramento da proteção no Brasil, com ênfase na proteção provisória ou emergencial. Para o chefe da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Nicolas Olivier, os Programas de Proteção Provisória, que tem sido criados em alguns estados e cidades, especialmente da região Nordeste, são iniciativas que merecem atenção e reflexão. “A cooperação entre governos estaduais e federal, sociedade civil e as próprias comunidades é essencial para criar respostas eficazes às necessidades das pessoas afetadas pela violência armada”, afirmou Olivier na abertura do encontro.
A seu ver, os Programas de Proteção são uma resposta importante, mas “é preciso aperfeiçoá-los constantemente”. Na sua avaliação, “as políticas de proteção devem ser adaptáveis e flexíveis às mudanças nas dinâmicas da violência armada e suas consequências sobre a população”.
O Ceará é reconhecido como o estado que abriga um dos mais avançados programas de proteção. “A violência está em nossa porta. Não podemos fechar os olhos e deixar de ser ativos”, afirmou a secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Ceará (SEDIH/CE), Socorro França, em referência ao programa criado em 2019. “Vale a pena fortalecer os programas de proteção”, acrescentou. De acordo com a secretária, em Fortaleza, de 2021 a 2025, foram acolhidas 1.053 pessoas, com um total de 4.852 atendimentos.
O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia (SJDH/BA), Felipe Freitas, defendeu o reforço dos programas de proteção e o compromisso dos governos com essa política. “Proteger pessoas é um gesto político, proteger quem está ameaçado é sempre um gesto de subversão. Desprogramar finais trágicos é aquilo que nos move e mobiliza”, ressaltou.
No primeiro dia do evento, os participantes acompanharam os debates sobre “Realidade e desafios para a proteção de pessoas no contexto brasileiro” e “Experiência de proteção provisória na região Nordeste” e “Marcos normativos e sistemas de proteção a pessoas afetadas pela violência armada – passos necessários”.
No segundo dia, o encontro foi direcionado para profissionais e gestores dos programas de proteção e teve início com a mesa redonda “Programas de proteção provisória – troca de experiência e desafios estratégicos. Em seguida, participaram da mesa “Contexto da Proteção no estado da Bahia” e do grupo de trabalho “Recomendações técnicas para um sistema de proteção de pessoas”.