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Iraque: população foge de um nível de horror sem precedentes

Desde o início do confronto na região de Al-Anbar, em dezembro do ano passado, a situação humanitária no oeste e no norte do Iraque se tornou extremamente deteriorante, sobretudo para as pessoas deslocadas. As minorias, em particular, sofreram um deslocamento adicional em Ninawa, em especial em Sinjar, e dezenas de milhares de pessoas chegaram às cidades de Dohuk, Khanik e Sharia.

Histórias terríveis de maus-tratos, morte e medo surgem. Milhares de pessoas fugiram para se salvar, em busca de proteção na Montanha de Sinjar, e aí ficaram sem comida e com pouca água por mais de uma semana. A única maneira de encontrar segurança foi atravessando a Síria até chegar à região do Curdistão, no Iraque. Muitas se abrigaram com parentes e amigos, enquanto que inúmeras se refugiaram em escolas, igrejas e outros prédios públicos, vazios e inacabados, e até mesmo debaixo de pontes. Aqui estão algumas das suas comoventes histórias.

Todas as fotos de CC BY-NC-ND/CICV/Saleh Dabbakeh

 

 

Para esta família, o seu lar é um galpão inacabado na cidade de Khanik. Com a chegada de muitas famílias ao galpão, os que chegaram por último só conseguem encontrar abrigo debaixo de tendas rudimentares, próximas aos muros a meio construir, usando hastes de ferro para erguer um quebra-luz para se protegerem do sol escaldante e das temperaturas que durante o dia superam os 50 graus Celsius. Muitas das famílias que deixaram a Montanha de Sinjar contaram que atravessaram para a Síria com a ajuda de combatentes sírios ou curdos da Turquia antes de atravessarem de novo para encontrar segurança no Curdistão iraquiano e seguirem para Khanik.

 

Esta família encontrou abrigo em um galpão onde o CICV distribui assistência às pessoas deslocadas. Todos os seus pertences podem ser vistos nesta foto: eles perderam tudo quando fugiram da sua aldeia. Este é o seu lar agora: sem janelas, sem portas, sem banheiro; nada além de um berço para o bebê. A perda, a tristeza e as dúvidas se veem nos seus olhares cansados e perdidos.

 

 

Para escapar do confronto nas suas cidades e aldeias, centenas de milhares de pessoas, de diferentes religiões e grupos étnicos, fugiram para lugares mais seguros, lotando escolas, prédios públicos, edifícios em construção e até mesmo jardins públicos na cidade de Dohuk e outras cidades na região do Curdistão iraquiano. Estas famílias da comunidade yazadi só conseguiram encontrar abrigo debaixo de um viaduto em Dohuk.

 

 

Esta mulher e a sua família fugiram da sua aldeia no distrito de Sinjar para a Montanha de Sinjar onde permaneceram durante oito dias desesperantes. “Depois de deixarmos a montanha, chegamos a Dohuk atravessando a Síria com a ajuda de combatentes sírios e curdos da Turquia”, contou. Finalmente, encontraram abrigo e segurança debaixo de uma ponte. A comunidade local lhes deu comida, bebida e outros produtos de primeira necessidade. Uma das suas filhas perdeu o marido e quatro filhos em meio ao caos.

 

“Escapamos da cidade de Sinjar para a montanha no nosso carro”, disse o filho dessa mulher. “Na metade do caminho, o carro quebrou. Meu pai, que tem 70 anos, disse que continuássemos a viagem caminhando até as montanhas. Ele ficou para trás com três crianças. Uma delas tem apenas três anos. Depois soubemos, por outro grupo de pessoas que também escalou a montanha, que o nosso pai e as três crianças haviam sido sequestradas por um grupo armado”.

 

Colaboradores de uma comunidade deslocada descarregam cobertores, parte dos artigos essenciais que o CICV distribui aos líderes comunitários para as pessoas deslocadas que se abrigam em escolas e outros prédios públicos, ou com famílias acolhedoras na cidade de Khanik. Os colaboradores são remunerados através de um projeto do CICV de remuneração por trabalho realizado, que ajuda os deslocados internos a atenderem as suas necessidades diárias. Ao fugirem das zonas de conflito, muitas pessoas não podiam levar nada consigo. O CICV fornece alimentos e artigos essenciais como tendas, cobertores, kits de higiene, lonas, utensílios de cozinha e artigos de primeira necessidade, desta maneira, ajudando os deslocados internos a manterem a sua dignidade durante esse difícil momento das suas vidas.

 

A cidade de Khanik, com uma população de 60 mil pessoas, recebeu um fluxo de quase 90 mil pessoas deslocadas, a maioria de origem yazidis, do distrito de Sinjar. Em coordenação com as autoridades locais e líderes comunitários, o CICV começou a distribuir alimentos e artigos de primeira necessidade a milhares de pessoas no dia 12 de agosto de 2014. A entrega diária de água em caminhões-pipas começou no dia seguinte e atendeu cerca de 65 mil pessoas. Aqui, os caminhões que levam alimentos e outros artigos essenciais estacionam em um galpão recém-construído, mas inacabado, onde muitas famílias encontraram refúgio.

 

 À medida que os caminhões do CICV chegam com os artigos essenciais, as pessoas deslocadas aguardam e observam, sabendo que em breve receberão ajuda. Muitas compartilham histórias terríveis sobre como fugiram em busca de um pouco de segurança na Montanha de Sinjarn.