Líbano: CICV fortalece a resistência das comunidades afetadas pela violência
Trípoli, a segunda maior cidade do Líbano, foi cenário de explosões recorrentes de violência armada entre as comunidades marginalizadas dos bairros de Bab a-Tabbaneh e Jabal Mohsen. Desde novembro de 2014, o CICV iniciou vários projetos para ajudar a recuperação das duas comunidades desses longos ciclos de pobreza e violência, recuperando a dignidade dos moradores.
Muitos moradores dos densamente povoados distritos de Jabal Mohsen e Bab al-Tabanneh já tinham caído na armadilha da pobreza antes mesmo que o conflito sírio tivesse se espalhado pelo Líbano, exacerbando, assim, as tensões durante 2014 e janeiro de 2015. Muitas famílias enfrentam dificuldades para chegar ao fim do mês. Esta situação piora com a dor causada pela perda de entes queridos fruto dos violentos choques e causa danos no bem-estar mental e físico, e na saúde dos moradores.
Como explica a delegada responsável pela equipe do CICV em Trípoli, Jamila Hammami: "A marginalização social nestes bairros é comovente. Estas pessoas estão expostas à violência armada na porta das suas casas há décadas e há uma grande sensação de impotência, resignação e desconfiança. É a nossa neutralidade e imparcialidade que nos permite trabalhar em um ambiente tão polarizado hoje".
Em uma tentativa de reduzir o impacto da violência armada, o CICV começou vários projetos para ajudar os membros mais vulneráveis das duas comunidades a reconstruírem as suas vidas.
Cozinhas administradas pela e para a comunidade
Em cooperação com a Cruz Vermelha Libanesa e duas ONGs locais, Ruwad in Bab al-Tabanneh e Dar El Hikma em Jabal Mohsen, o CICV começou um projeto que permite que mulheres e homens geram alguma renda fornecendo refeições às famílias mais vulneráveis nas duas áreas. Uma equipe de 40 mulheres prepara refeições quentes que são entregues todo dia nas casas de 110 famílias vulneráveis, o que significa mais de 500 pessoas.
"Concentramos os nossos esforços nos mais vulneráveis e naqueles que estão mais expostos à violência", explica Sarah Saliba, do CICV, que supervisiona o projeto. "Os cozinheiros recebem um salário e são treinados por chefs. Outras famílias recebem uma refeição quente por dia, o que significa que podem gastar o seu dinheiro em outras necessidades urgentes. Desta forma, esperamos fortalecer a resistência delas".
Tendo que cuidar de sete filhos e um marido com deficiência, Hannah Awwad, paciente de câncer de mama, conhece bem a agonia. "Poder trabalhar e cuidar da minha família me deixou um pouco mais tranquila, pois não tenho que me preocupar mais com o que devo comprar primeiro com o pouco dinheiro que ganho. Tenho mais margem de manobra. Ao mesmo tempo, sinto que sou útil, tanto para a minha família quanto para toda a comunidade. É um sentimento muito bom. Espero um dia ser capaz de montar o meu próprio negócio, mesmo modesto, trabalhando como chef".
Projetos de remuneração por trabalhos prestados para a limpeza de áreas
As explosões recorrentes de violência também privaram os residentes de Bab al-Tabanneh e Jabal Mohsen de vários serviços públicos e privados vitais, como a coleta de lixo. Para garantir que o lixo das ruas seja coletado e tratado de forma adequada, o CICV e a Cruz Vermelha do Líbano, em cooperação com as autoridades municipais de Trípoli, conseguiram recrutar até agora 113 homens em projetos de remuneração por trabalhos prestados. Estes homens também estão limpando as ruas e pintando paredes.
Youssef Ahmed Salama, pai de três crianças, tem 31 anos e uma deficiência parcial depois de ter sido atingido na perna por uma bala perdida. Ele também sustenta a mãe e a irmã. "Nunca tive nenhum emprego seguro por causa da minha deficiência, então sempre foi difícil alimentar sete bocas. Agora estou ganhando um salário modesto, mas é melhor do que não ganhar nada. É ótimo ver as nossas ruas e parques limpos e arrumados. Estamos recuperando a nossa área e permitindo que as pessoas vivam de uma forma mais digna".
Período de oportunidade
Os últimos choques violentos que ocorreram em Bab al-Tabbaneh, em outubro de 2014, obrigaram muitas pessoas a fugir. Elas voltaram para um cenário de destruição. Prédios, janelas e portas foram destruídas, deixando as famílias com pouca esperança de suportar os frios meses de inverno sem grandes dificuldades.
Nas áreas mais afetadas, entre a mesquita de Nasri e a praça Asmar, o CICV está substituindo janelas e portas de vidro. Como enfatiza Dina Haijar, engenheira do CICV: "Como as pessoas não têm dinheiro nem para pagar as suas necessidades mais básicas, a destruição também foi um verdadeiro golpe financeiro. Contratamos três empresas pequenas da região – cujos negócios foram afetados negativamente pelas ondas recorrentes de violência – para realizar os consertos".
A reabilitação de aproximadamente 320 lares vai beneficiar 1.850 pessoas. "Estou velha, sinto frio e não tenho um marido para me apoiar", conta uma viúva de sessenta anos que tinha acabado de receber novas janelas instaladas sob a supervisão de Dina e outros delegados do CICV. "Vocês são sempre bem-vindos. Não têm um marido para mim, também?", fala sorrindo, enquanto nós começamos a gargalhar. Ainda existe espaço para risadas e piadas em Bab al-Tabanneh, mesmo que a vida seja muito dura.
Mais informações:
Soaade Messoudi, CICV Líbano, tel: +961 71802876
Dibeh Fakhr, CICV Genebra, tel: +41 22 730 37 23 ou +41 79 447 37 26
Fotos: CC BY-NC-ND / CICV / L. Salvinelli