Cidadãos libaneses fogem da Síria com necessidades
19-02-2014 Reportagem
O conflito na Síria provocou a fuga de milhões de pessoas das suas casas em busca de abrigo em áreas mais seguras, incluindo os países vizinhos. Dentre eles se encontram milhares de cidadãos libaneses que, sem trabalho ou bens, agora dependem da assistência humanitária como a fornecida pelo CICV.
© CICR / lb-e-01315 / S. El Kadi
“Tem certeza de que meu nome está na lista?” pergunta a senhora idosa enquanto espera que a chamem. Oum Nawfal parece cansada e preocupada ao se apoiar na parede, secando o suor do seu rosto arrugado. Há horas que ela espera para receber sua parte da ajuda junto com os outros libaneses que foram desalojados pelo conflito sírio.
“Perdemos tudo que tínhamos na Síria, até a nossa casa foi queimada. Só ficaram as paredes negras”, conta Oum Nawfal com a voz entrecortada. A viúva de 70 anos é mais um dos milhares de libaneses que ficaram empobrecidos e desalojados pela guerra civil brutal na Síria, onde eles haviam se instalado há várias gerações, com terras e bens.

Hemel, Líbano. Mulheres libanesas tiveram que fugir das suas casas na Síria por causa do conflito.
© CICV / S. El Kadi / lb-e-01314
Oum Nawfal e seus dez filhos fugiram no meio da escuridão, apesar das bombas que caíam sobre Nahrieh, povoado deles. Eles refugiaram-se na cidade fronteiriça de Hermel, no Líbano, onde tinham parentes distantes.
“Toda nossa vida estava na Síria. Tudo que tínhamos foi deixado para trás. Está tudo destruído e agora somos refugiados em nosso próprio país”, acrescenta. Como cidadãos libaneses, mesmo que nunca tenham vivido no Líbano, os retornados não têm direito à assistência humanitária fornecida aos refugiados. Entretanto, eles são, com frequência, tão vulneráveis e necessitados como os demais.
Dependendo dos parentes e associações
Hajjeh Fatima abandonou seu povoado na Síria, onde ela vivia com seu marido e dez filhos, há quase dois anos. Eles alugam agora um apartamento de dois quartos em Hermel e dependem da ajuda de parentes para conseguir mobília e comida.
“Não possuímos nada no Líbano, nem mesmo um colchão, cobertor ou travesseiro”, afirma. “Ficamos com nossos familiares no princípio, mas eles não podiam nos sustentar por muito tempo e tivemos que sair”, acrescenta, enquanto espera na fila para receber a assistência do CICV.
Abbas, 36, pai de três filhos pequenos, tem outra história para contar. O primo dele foi morto apenas alguns dias antes que pudessem fugir. “Ele estava rezando quando uma bomba caiu na casa dele e explodiu tudo em pedaços. Tive sorte porque somente fui ferido”, conta.
Como muitos retornados libaneses, Abbas depende de parentes e associações para sustentar a sua família. Com o fluxo de refugiados sírios, a situação de segurança volátil e a depressão econômica, as oportunidades de trabalho são poucas, em especial na região remota e desfavorecida de Hermel.
“Quando tenho sorte, consigo um pequeno trabalho ocasional por algumas horas ou por um dia, mas isso mal dá para alimentar minha família ou nos mantermos”, explica Abbas.
Depois de quase três anos da guerra destrutiva na Síria, estima-se atualmente que os retornados libaneses sejam mais de 17 mil. A grande maioria necessita de assistência básica. Nos últimos dois meses, o CICV distribuiu alimentos, colchões, cobertores, kits de higiene e utensílios de cozinha para 1,5 mil cidadãos desse país. A organização planeja distribuir mais ajuda nas próximas semanas para os retornados em Hermel e no norte do Líbano, bem como em outras áreas onde sejam identificadas necessidades. A instituição também está reformando as redes de abastecimento de água para lidar com o aumento da população.