Líbano: CICV ajuda vítimas
20-05-2014 Reportagem
A equipe do CICV que presta apoio às pessoas feridas por armas de fogo no Líbano supervisiona o atendimento dado aos pacientes que chegam ao país com feridas complexas e infectadas causadas por bombas, tiros ou estilhaços. Um desses pacientes é Mohammed, de 26 anos, especialista em ortopedia.
Um colaborador da Cruz Vermelha Libanesa acompanha uma vítima síria durante a transferência a um hospital no Líbano. CC BY-NC-ND / CICV / D. Revol
A equipe do CICV podia ouvir Mohammed antes mesmo de vê-lo. Gargalhadas e uma conversa animada vinham de uma pequena sala próxima à entrada da clínica.
"A dor era insuportável e eu estava assustado. Eu lia o Corão e isso era como um analgésico para mim”, disse Mohammed, que durante as três últimas semanas foi submetido a um tratamento no hospital do vale de Becá..
Com bom ânimo; o paciente se senta na cama e balança o braço direito que quase foi arrancado em um ataque contra a ambulância na qual trabalhava na Síria. O é sustentado por dois pinos fixadores, um no antebraço e o outro próximo ao ombro.
"Falei para o outro médico e o enfermeiro que viajavam comigo para voltar ao hospital em que trabalhamos de moto, caso a nossa ambulância fosse alvejada. Ela foi atingida por um foguete, mas consegui me manter consciente. Eles voltaram para me buscar e me levaram ao hospital de campanha de Yabroud", conta.
A complexidade do ferimento do jovem médico, no entanto, exigia um nível de tratamento superior ao que poderia receber na Síria. Portanto ele, como muitos outros feridos nesse conflito devastador, viajou até Aarsal, uma cidade libanesa ao norte do vale de Becá.
Antes de completar um mês da longa cirurgia e do tratamento intensivo, um especialista que atendeu Mohammed mostra fotos no celular de como o braço dele estava quando chegou. Não é difícil entender por que ele está sorridente agora.
"Se Deus quiser, continuarei melhorando. A minha mãe e o meu pai se mudaram para Beirute para poderem me visitar mais vezes. Não sei o que acontecerá depois, mas talvez um dia eu possa voltar a ser médico."
“Tenho que voltar para casa”
Fazer o máximo para estar presente, sem subestimar nada no futuro, é um tema recorrente entre os feridos que o CICV atende. Ismael (29) tem queimaduras de terceiro grau em 40 % das pernas, causadas pelo bombardeio de um posto de gasolina na Síria. “Era inverno e os canos estavam congelados. As pessoas que estavam no local tiveram que pisar com força nas minhas pernas para pagar o fogo”, explica.
A primeira visita de Ismael a um hospital foi breve. Não havia atendimento de emergência e ele teve que voltar para casa. Foi atendido apenas pela esposa, que tem formação em primeiros socorros. A dor era indescritível, lembra. Ismael pagou 200 dólares para viajar para o Líbano em um caminhão com outras 14 pessoas, entre elas a esposa, que o acompanhou grávida de nove meses.
Funcionários do CICV foram visitar Ismael depois de tomar conhecimento do estado dele. Devido à extensão dos seus ferimentos, a equipe de saúde, junto com integrantes da Cruz Vermelha Libanesa, supervisionaram a transferência imediata para um dos hospitais com os quais o CICV trabalhava no vale de Becá. Há dois meses, ele recebe tratamento intensivo e, ocasionalmente, é visitado pela esposa, que mora a mais de 100 quilômetros do hospital, em Aarsal.
Separado da mulher e do filho, assim como do restante da família que continua na Síria, Ismael não sabe o que o futuro reserva para ele. “Estou assustado de voltar pelo que pode acontecer comigo e com a minha família”, diz, “mas não posso morar aqui. Tenho que voltar para casa”.