Quênia: escola temporária e alimento para crianças deslocadas
28-01-2008 Reportagem
O estádio de Eldoret, no Vale Rift, é um dos vários espaços públicos que foram abertos para receber milhares de pessoas deslocadas de suas casa durante o conflito pós-eleições no Quênia. Anne Mucheke, do CICV, informa sobre o que está sendo feito pelas crianças.
As crianças no acampamento do estádio de Eldoret, no Vale Rift no Quênia, recitam um poema pedindo paz no país. As várias escolas para as quais eles normalmente iriam estão fora de alcance, mas 1500 alunos ainda usam seus uniformes na escola do acampamento, criando um efeito colorido na sala de aula.
A escola, que funciona com a ajuda da UNICEF, é um espaço de alívio para as crianças na nova vida. Os professores dentro da população do acampamento ajudam a assegurar que a educação das crianças não seja interrompida.
Enquanto isso, seus pais estão na fila para conseguir alimentos distribuídos pelos voluntários da Cruz Vermelha do Quênia. Cada família recebe sacolas de alimentos para duas semanas que contêm: milho, feijão, lentilha, óleo e UNIMIX (um alimento enriquecido que pode ser servido como mingau).
Há mais de 13.000 pessoas deslocadas no estádio de Eldoret. O acampamento está dividido em quatro grupos e cada um tem seu próprio ponto de encontro para assegurar que as distribuições sigam sem problemas. As famílias contam com a Cruz Vermelha local e parceiros como o CICV na provisão de comida, água e saneamento.
Centenas de pacientes na clínica
As mulheres trazem água em galões e as crianças tomam direto de uma torneira instalada pelo CICV. Há muitas dessas, como também há reservatórios de lona, assegurando assim água para todos no acampamento.
Na clínica da Cruz Vermelha as crianças são imunizadas e suas mães ganham leite infantil que substitui o leite materno e mingau enriquecido. Uma garota, sozinha, não consegue explicar muito sobre sua epilepsia, então a enfermeira pede que ela leve a mãe para que possa aprender sobre detalhes vitais.
“A clínica recebe uma média de 400 a 500 pacientes diariamente com todos os tipos de dores”, diz Abdinoor Mohammed, que está a cargo das operações na região do Norte de Rift.
A Cruz Vermelha também está trabalhando no hospital Moi. Um cirurgião do CICV, um anestesista e dois enfermeiros têm trabalhado no hospital nas últimas três semanas. Eles fazem cirurgias em casos complicados como vítimas de queimaduras e pessoas cujas feridas se complicaram.
“A Cruz Vermelha está realmente nos ajudando aqui”, diz um pastor de Eldoret. “Temos alimento e instalações de saneamento para o nosso uso. Além disso, eles estão ajudando famílias a encontrarem seus entes queridos”.
Necessidade de segurança
Como muitos outros aqui, o pastor teve que abandonar sua casa depois que um amigo de outra tribo avisou sobre o início do conflito. “Alguns de nós fomos avisados de que haveria problema. Alguns políticos andavam alimentando o tumulto”, ele conta.
“Precisamos ter certeza de que será seguro. Nossas vidas estão em jogo”.
Simon Njoroge é um dos muitos que querem voltar a casa, embora tenha medo da situação de segurança fora do acampamento. “Não podemos viver neste acampamento para sempre, somos saudáveis e podemos cuidar das nossas famílias. Além disso, nossas fazendas estão lá e temos que ganhar nosso pão. Precisamos ter certeza de que será seguro. Nossas vidas estão em jogo”, diz Simon.
No acampamento, os residentes criaram suas próprias regras e ninguém sai depois das 22 horas. O perímetro do acampamento é bem vigiado, tornando-o seguro para os residentes.
No último fim de semana de janeiro, a situação no Vale Rift era incerta: pessoas continuavam a chegar a Eldoret e a Cruz Vermelha continua firme no seu propósito.