Sudão: CICV incrementa preparação para possíveis emergências humanitárias

30-11-2010 Entrevista

À medida que se aproxima o dia do referendo no sul do Sudão, os olhos do mundo se voltam uma vez mais para o maior país do continente africano. O chefe de operações do CICV para o Leste da África, Daniel Duvillard, descreve as atuais atividades da organização no Sudão.

 

   
©CICV  
   
Daniel Duvillard 
     

  Já foram discutidos publicamente muitos cenários que seguirão ao resultado deste referendo. Qual é o ponto de vista do CICV?   

O referendo sobre a autodeterminação do sul do Sudão é a fase final do Acordo de Paz Global assinado pelo Movimento Popular de Liberação do Sudão e pelo governo sudanês em 2005 para finalizar a Segunda Guerra Civil Sudanesa. O acordo oferece dois cenários: a unidade ou a separação. Não queremos especular sobre o resultado do referendo, nem sobre o futuro, mas acreditamos que ambas as opções trazem o risco de violência armada. Estamos fortalecendo nossa capacidade de responder qualquer emergência humanitária que venha a acontecer.

     

  Como vocês estão se preparando para tais emergências?  

Aumentamos nossa presença em ambos os lados da fronteira e pré-posicionamos estoques de modo a poder responder quaisquer necessidades urgentes de abrigo, utensílios domésticos, água ou saneamento. Também posicionamos uma equipe cirúrgica móvel que pode tanto apoiar os centros médicos existentes ou atender os pacientes feridos de guerra em áreas remotas com pouco ou nenhum acesso a tais centros. O CICV trabalha no Sudão há mais de 30 anos e, desde 2004 , esta tem sido uma das maiores operações do CICV. Portanto, podemos contar com a experiência de nossa equipe, que conhece o contexto, além de contar com uma importante estrutura logística.

Em paralelo, apoiamos o Crescente Vermelho Sudanês em sua preparação para prestar assistência emergencial e primeiros socorros. Os voluntários participaram de várias oficinas do CICV sobre o fornecimento de água ou o manejo de cadáveres – incluindo a identificação e o enterro. Também fizemos uma introdução ao Direito Internacional Humanitário (DIH) para os voluntários do Crescente Vermelho.

Ao mesmo tempo, estamos trabalhando na promoção do DIH entre os membros do Exército Popular da Liberação do Sudão e das Forças Armadas Sudanesas e organizamos cursos de treinamento ou sessões informativas para 2,6 mil membros do primeiro e mais de 700 membros do segundo desde o início de 2010.

     

  Quais são as outras prioridades do CICV no Sudão?  

Ao mesmo tempo em que estão sendo realizados esforços em níveis local, regional e internacional para se chegar a uma solução abrangente para o conflito armado em Darfur, os confrontos esporádicos continuam e ainda existem necessidades humanitárias. Portanto, gostaríamos de assegurar que as pessoas ainda afetadas pelo conflito recebam o socorro emergencial e sejam respeitadas segundo as regras humanitárias internacionais. Como nos anos anteriores, o CICV continua assistindo as pessoas em áreas rurais remotas como uma combinação de projetos de nas áreas de agricultura, veterinária, água e saúde, em cooperação com o Crescente Vermelho Sudanês e as comunidades locais. Esses projetos visam a ajudar também as pessoas deslocadas e aquelas que voluntariamente voltam para suas aldeias para recuperar algum nível de autonomia econômica.

No sul do Sudão, por exemplo, consertamos o sistema de abastecimento de água em Akobo, estado de Jonglei, onde quase 20 mil pessoas b uscaram refúgio depois de violentos confrontos em 2009 e agora estamos ampliando o sistema. Mais ao norte, em Pibor, distribuímos utensílios domésticos essenciais, como lonas, artigos de higiene, roupas e roupas de cama, para os moradores e para os deslocados no início deste ano. Desde o início do ano, o CICV tem fornecido utensílios domésticos de emergência para quase 12 mil pessoas em Equatória Oriental que fugiram do conflito armado.

Também administramos mais programas a longo prazo, por exemplo, para os agricultores deslocados. O CICV fornece ferramentas agrícolas e sementes para aqueles que podem voltar para seus campos de forma a aumentar a produção agrícola. Somente este ano, já distribuímos 102 toneladas de sementes e 10 mil ferramentas para 30 mil famílias agricultoras no sul do Sudão, para ajudá-las a recomeçar a vida.

Além disso, um grande número de pessoas no Sudão tem deficiências físicas em decorrência do conflito. O CICV, portanto, apoia os centros de reabilitação em Juba, Nyala, Darfur e na capital, Cartum. Os pacientes têm acesso a uma ampla gama de serviços e de equipamentos como próteses de membros superiores e inferiores, fisioterapia, muletas e cadeiras de rodas. Durante os primeiros dez meses deste ano, mais de 2,5 mil pessoas se beneficiaram com nossos serviços de reabilitação física.