Somália/Quênia: um telefonema para prevenir que refugiados percam laços familiares
20-09-2011 Entrevista
Em resposta ao recente fluxo de pessoas que fogem da crise humanitária na Somália, o CICV e a Cruz Vermelha do Quênia aumentaram as atividades de busca no campo de refugiados deste país. Ivan Antonic, especialista do CICV em restabelecimento de laços familiares (RLF), acaba de voltar de uma missão de três semanas nesse país para estabelecer o primeiro serviço de telefonia móvel para notícias familiares no leste da África.
Como o CICV ajuda os refugiados somalis em Dadaab?
Uma das necessidades mais urgentes das pessoas que acabam de chegar da Somália é poder entrar em contato com familiares que ficaram para trás para que estes saibam que eles chegaram em segurança e estão bem. Nas últimas semanas, uma media de 1,5 mil novos refugiados chegam diariamente ao campo. Muitos deles têm histórias terríveis para contar sobre uma viagem difícil e estão exaustos no momento que chegam. Ajudar essas pessoas a entrarem em contato com seus entes queridos é uma prioridade para o CICV e seus serviços de restabelecimento de laços familiares (RLF).
Os serviços de RFL em quatro campos de refugiados de Dadaab, a cerca de 70 km da fronteira com a Somália, começaram na década de 80 e dá aos refugiados a possibilidade de escrever uma Mensagem Cruz Vermelha para seus parentes na Somália ou em qualquer outra parte do mundo. Mas pode-se imaginar como é difícil entregar mensagens por escrito em algumas áreas da Somália agora e é um processo demorado. Portanto, a verdadeira novidade hoje é que o CICV decidiu oferecer um serviço de telefonia móvel para os refugiados que acabaram de chegam: cada um deles pode fazer um telefonema de dois minutos para um parente em qualquer parte do mundo para avisar que estão em Dadaab e que estão bem. É uma maneira rápida, eficiente e barata de ajudar essas pessoas.
Os números indicam o sucesso do novo programa: nas últimas três semanas desde que os primeiros telefonemas foram feitos, uma média de mais de 1,8 mil refugiados pode se beneficiar desses serviço gratuito todas as semanas, incluindo mais de 800 menores, E os números estão aumentando. É muito gratificante ver o sorriso de um menino quando finalmente consegue ouvir a voz de sua mãe ao telefone!
Como as equipes de busca móvel trabalham?
Há três equipes de busca ativa todos os dias em Dadaab. Uma equipe monta uma barraca na área de cadastro para os refugiados que acabaram de chegar. Enquanto os refugiados estão esperando durante muitas horas para serem cadastrados e, depois, transferidos para um dos quatro campos pelas autoridades quenianas, a equipe, formada por funcionários do CICV e voluntários da Cruz Vermelha do Quênia, dá a cada refugiado a oportunidade de fazer uma ligação de dois minutos para um familiar de sua escolha,em qualquer parte do mundo. A maioria escolhe entrar em contato com os parentes que deixaram para trás na Somália, mas alguns também entram em contato com familiares no exterior, nos Estados Unidos ou na Austrália, por exemplo, ou no Quênia. Uma pessoa, inclusive, conseguiu falar com um parente na Líbia!
Duas outras equipes de busca são móveis e vão a diferentes lugares todos os dias, de norte a sul de Dadaab. Usam o “kit de busca”, que é basicamente um caminhão metálico que contém o que é necessário para fazer o serviço funcionar: os telefones celulares carregados, listas com todos os códigos telefônicos dos países do mundo, bandeiras e coletes do CICV, além de cronômetros para garantir que todos respeitem os dois minutos estabelecidos. O trabalho dos voluntários da Cruz Vermelha do Quênia no terreno é essencial. Como muitos são originalmente também parte das comunidades refugiadas no país, eles dominam alguns dos idiomas locais da Somália e podem ajudar os refugiados a entender e se beneficiarem dos serviços de telefonia móvel gratuito.
Quais são os principais desafios das equipes de busca?
Por enquanto, o desafio é fazer com que o serviço seja conhecido pelos refugiados que acabam de chegar a Dadaab. Eles estão exaustos quando finalmente chegam ao Quênia e assustados. Muitas vezes parecem estar em choque e, como recebem muitas informações nos primeiros dias no campo, é difícil para eles lidar e processar tudo. Mas, aos poucos, conseguiremos.
Outro desafio para as equipes conjuntas do CICV e da Cruz Vermelha do Quênia é o clima difícil: é muito quente, seco e empoeirado, o que não facilita as condições de trabalho. Tenho muito respeito por meus colegas que trabalham incessantemente. Eles estão fazendo um trabalho muito importante e o serviço é muito apreciado. Por exemplo, na semana passada, vi um senhor chorando quando finalmente conseguiu entrar em contato com seus entes queridos. Na cultura somali, não é frequente ver isso. Os telefonemas são muito emocionantes sempre, inclusive para os voluntários que os monitoram.
Só o tempo dirá nas próximas semanas se será necessário manter as duas equipes móveis que estão ativas no momento. Tudo depende da evolução da situação humanitária na Somália e do número de refugiados novos que continuarão atravessando a fronteira para o Quênia. O CICV está comprometido com o apoio às ações de restabelecimento dos laços familiares junto com a Cruz Vermelha do Quênia enquanto for necessário.