Líbia: CICV visita mais de 6 mil detidos em Trípoli e arredores
20-10-2011 Relatório de operações N° 14/11
Nas últimas semanas, o CICV visitou milhares de pessoas que foram presas recentemente. A organização evacuou quase 50 pacientes feridos de Sirte e levou suprimentos médicos para Bani Walid. Os especialistas da organização estão agora assessorando as autoridades do governo transitório na gestão de valas comuns e restos mortais.
"Desde agosto, visitamos cerca de 6 mil detidos em Trípoli e arredores, incluindo cerca de 2,5 mil em Misrata", disse a delegada do CICV Hanan Salah. "Eles são mantidos em mais de 30 centros diferentes, alguns dos quais são mais adequados para detenção do que outros. Quando é necessário, pedimos as autoridades para manter os detidos em estabelecimentos apropriados em vez de estruturas improvisadas, como escolas".
Nas últimas semanas, o CICV obteve acesso a novas unidades penitenciarias de conselhos militares em Trípoli, em cidades próximas como Zawiya, Sabratha, Zuara e Khoms, e em Misrata. A organização também visitou novos centros de detenção em Benghazi. Obter acesso às pessoas que foram detidas recentemente é uma das prioridades do Comitê, especialmente nos lugares onde os confrontos ocorreram há pouco tempo.
Até o momento, o CICV visitou cerca de 50 centros de detenção em todo o país, os quais abrigam mais de 7 mil pessoas. Cerca de 1,5 mil detidos visitados eram cidadãos estrangeiros, em sua maioria, da África Subsaariana.
O objetivo das visitas é monitorar o tratamento que os detidos recebem e as condições nas quais são mantidos. Os delegados do Comitê visitam todas as instalações, conversam em particular com os detidos de sua escolha e compartilham suas observações exclusivamente com as autoridades pertinentes.
Além disso, os funcionários do CICV dão a eles a oportunidade de telefonar para suas famílias para avisar que estão a salvo. Em um grande número de centros de detenção, eles também distribuem artigos como roupas, lençóis, colchões, baldes e artigos de higiene.
Dentro de Bani Walid
No dia 17 de outubro, uma equipe do CICV entrou na cidade de Bani Walid e visitou seu hospital central.
"Encontramos uma cidade-fantasma com sinais claros de conflito", disse o delegado do CICV encarregado da operação, Dejan Ivkov. "Quando chegamos ao hospital, encontramos apenas alguns funcionários e nenhum paciente, mas a equipe médica enviada pelas autoridades chegou logo depois e alguns pacientes foram levados para tratamento." A equipe do CICV entregou material cirúrgico suficiente para atender até 100 feridos de guerra, fixadores externos para estabilizar membros fraturados, 40 bolsas para cadáveres e artigos de higiene para o hospital.
"Na Estrada, vimos cerca de 25 ambulâncias levando feridos para o hospital Mizdah e para a clínica Shmeikh", acrescentou Ivkov. O CICV entregou material médico para o tratamento de 50 pacientes e fixadores externos poucos dias antes ao hospital Mizdah, a unidade de saúde mais próxima de Bani Walid, para onde as vítimas estavam sendo transferidas.
Aos poucos, situação melhora no hospital Sirte
A água ainda não é abastecida de forma adequada no Hospital Ibn Sina, em Sirte. Nos últimos dias, um tanque está fornecendo água suficiente para o estabelecimento para atender as necessidades básicas, mas a demanda de água do hospital é muito alta e é preciso uma solução a longo prazo. Um engenheiro hídrico do CICV foi a Sirte para realizar consertos urgentes.
A equipe do CICV evacuou 21 pacientes feridos do Hospital Ibn Sina para tratamento no dia 17 de outubro. Apesar da recente chegada da equipe médica e dos voluntários ao local, os pacientes não puderam ser tratados. Eles foram levados de avião a Trípoli para receber atendimento especializado.
Desde 6 de outubro, o CICV já evacuou 49 pacientes de Sirte. Nos dias 1º e 3 de outubro, a organização entregou material médico necessário ao hospital sitiado.
Operações de menor complexidade e medidas para a estabilização que podem salvar vidas foram realizadas no Hospital Ibn Sina. O oxigênio engarrafado fornecido pelo CICV ainda está sendo usado.
A equipe do CICV e os voluntários do Crescente Vermelho Líbio forneceram 5,6 toneladas de alimentos para a cozinha do hospital. Também forneceram comida e leite para bebês, além de outros gêneros alimentícios para os civis que estão no hospital.
Os civis devem ser poupados
Nas últimas semanas, o CICV e o Crescente Vermelho Líbio prestaram assistência a mais de 30 mil pessoas deslocadas de Sirte e Bani Walid. Foram distribuídas rações alimentares suficientes para um mês, artigos de higiene, comida e leite para bebês e fraldas para ajudá-los a lidar com as quase sempre difíceis condições de vida que enfrentam durante o deslocamento. Pessoas tiveram de fugir de aldeias e oásis como Harawa ou Wadi Mrah próximo a Sirte, ou Tininaya, Shmeikh, Mizdah ou Nasmah ao sul e a oeste de Bani Walid, ou para as áreas desérticas ao redor dessas duas cidades.
Cerca de 3 mil pessoas deslocadas recém-chegadas a um campo próximo a Benghazi precisam com urgência de alimentos, os quais lhes foram dados, juntamente com artigos de higiene, pelo CICV. O Comitê e o Crescente Vermelho Líbio também prestaram assistência a cidadãos da África Subsaariana e outros grupos vulneráveis em lugares como Misrata e Harawa.
A organização está preocupada com os civis que podem estar encurralados, possivelmente em condições calamitosas, em áreas de Sirte e Bani Walid. O CICV também monitora de perto a situação dos civis em outras partes da Líbia. Segundo o Direito Internacional Humanitário (DIH), todas as partes envolvidas em um conflito devem proteger os civis e tomar todas as medidas possíveis para poupá-los.
Análise forense humanitária
Em várias partes da Líbia, estão sendo descobertos restos mortais regularmente em valas comuns, hospitais e outros lugares. Poucas semanas atrás, entre o Vale Vermelho e uma área no sudoeste de Sirte, os delegados do CICV encontraram oito cadáveres que foram abandonados sem serem enterrados e estavam cobertos pela areia.
Enquanto muitos cadáveres continuam sem serem reclamados, milhares de famílias estão esperando para descobrir o que aconteceu com seus entes queridos desaparecidos. A nova Comissão Nacional para os Desaparecidos recorreu ao CICV em busca de apoio no trabalho forense e na gestão de restos mortais.
"Voluntários locais e autoridades de saúde e religiosas estão ansiosos para abrir o quanto antes as valas comuns das quais têm conhecimento", disse a delegada do CICV Mariko Kushima. "Até poucas semanas atrás respondíamos a uma situação de crise, portanto prestamos apoio com urgência e treinamos os voluntários do Crescente Vermelho Líbio para assegurar que os cadáveres fossem identificados de forma adequada".
Com a chegada de um especialista forense e um delegado com experiência em lidar com questões de pessoas desaparecidas, o CICV está representando um papel de assessor e recomenda uma abordagem mais coerente em nível nacional.
"O papel do CICV é ajudar a Comissão para os Desaparecidos e outras autoridades pertinentes a criarem um grupo de especialistas forenses e estabelecer treinamento e orientação posteriores para todos os envolvidos", disse Kushima. "Nosso objetivo é ajudar a levar respostas às famílias atingidas pela dor e defender seu direito de saber o paradeiro de seus parentes desaparecidos. A organização não está envolvida na coleta de evidências que poderao ser usadas em processos judiciais".
Esta semana, o CICV ajudou a concluir a exumação de cinco cadáveres em uma vala comum em Al Qalaa, nas montanhas de Jebel Nefusa. O objetivo era recolher dados para fins de identificação post-mortem.
Mais informações:
Dibeh Fakhr, CICV Trípoli/Benghazi, tel: +870 772 390 124 (ramal 250) ou +218 9 923 304 560
Steven Anderson, CICV Genebra, tel: +41 22 730 20 11 ou +41 79 536 92 50