No refúgio para migrantes em Tenosique, Tabasco, sudeste do México, conhecido como La 42, Flaquita é a chefe da equipe de cozinha. Gradualmente, e com boa vontade, ela está assumindo mais responsabilidades nessa função.
No refúgio para migrantes em Tenosique, Tabasco, sudeste do México, conhecido como La 42, Flaquita é a chefe da equipe de cozinha. Gradualmente, e com boa vontade, ela está assumindo mais responsabilidades nessa função.
Por fim, Flaquita para, seca as mãos e concorda em sentar para conversar. Sentamos em um dos corredores, de onde podíamos ver um grupo de migrantes recém chegados, exaustos pelo calor e pela provação que passaram, buscando um lugar para descansar e recuperar as forças para a viagem que têm pela frente. Ela começa nos contando sobre o dia em que chegou ao albergue com o filho. “Estávamos desidratados, com os pés e a barriga doendo, mas quando entramos nesse lugar, não nos sentimos mais sozinhos.”
Antes de chegar ao albergue, Flaquita e o filho passaram dias na estrada, sempre com fome. “Algumas vezes, não conseguia nem um copo d’água porque éramos migrantes ilegais”, explica. Ela lembra exatamente da comida que receberam na chegada: um prato de sopa, junto com um pedaço de carne, tortilhas e uma bebida.
Flaquita, de San Salvador, fala sobre o seu país com muita nostalgia. “É um lugar muito bonito”, conta, “mas também é muito perigoso. Há muita criminalidade”. Pior do que isso, há gangues que recrutam meninos que são muito jovens. “O meu filho não quis ser parte desse mundo. Ele saiu de casa para se esconder das gangues, que o ameaçavam”, explica. Então, um dia ela decidiu deixar o país para proteger o seu filho. “Se eles te ameaçam ou dizem que vão te matar, você não tem escolha, tem de fazer as malas e pegar a estrada”.
Eles conheceram um grupo de migrantes hondurenhos, que avisaram que a rota era muito perigosa para as mulheres. “Havia terror em todos os cantos. Você podia ser estuprada, sequestrada ou encontrar algum outro tipo de problema”, diz. Ela seguiu o conselho dos migrantes para disfarçar a sua aparência e continuar a viagem vestida como homem. “Você tenta salvar o pouco de dignidade que sobrou depois da viagem, depois de deixar o seu país para trás.”
Agora, Flaquita não faz mais questão de ir aos Estados Unidos. Ela gosta do México e quer começar uma nova vida aqui. Ela sabe que há feridas que ainda devem ser cicatrizadas, mas encontra consolo na sua vida cotidiana no albergue. “Estar aqui te dá o tempo e a oportunidade para começar de novo, de pensar as coisas com clareza. Você pode resolver o que quer fazer e onde quer ir”.