Brasil e América Latina: famílias unidas são mais fortes frente a uma mesma causa
No Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, celebrado em 30 de agosto, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ressalta a importância de reunir esforços para averiguar a sorte e o paradeiro de milhares de pessoas desaparecidas na América Latina. Por meio de um vídeo, que contou com a participação de familiares de pessoas desaparecidas de nove países da região, destacou a solidariedade das famílias na sua busca.
CICV- Genebra e Buenos Aires, 30 de agosto de 2021
A Covid-19 continua cobrando vítimas: 1.416.045 pessoas já morreram na América Latina, segundo os dados registrados até 20 de agosto. Esta pandemia trouxe novos desafios à problemática do desaparecimento de pessoas na região: por um lado, a questão da gestão adequada dos corpos das pessoas que morreram para evitar novos desaparecimentos; por outro lado, a interrupção dos processos de busca que as famílias vinham realizando, devido às restrições de movimento que continuam vigentes em muitos países. Apesar de tudo isso, as famílias de toda a região encontraram uma forma de continuar a sua busca e se unir para se solidarizarem frente a novas complexidades.
Averiguar a sorte e o paradeiro das pessoas desaparecidas é um grande desafio que exige contar com ferramentas jurídicas, técnicas, científicas, operativas, administrativas, orçamentárias, além da participação dos familiares em todas as etapas da busca.
"Não podemos agir sozinhos em benefício das famílias; é necessária uma vontade política genuína e coordenação de todas as partes, incluindo a participação das famílias em todas as etapas da busca para responder às suas necessidades econômicas, de acompanhamento psicossocial, entre outras", afirmou a assessora regional de Proteção de Laços Familiares para Américas do CICV, Susana López.
Ao mesmo tempo em que o fenômeno do desaparecimento cresce, milhares de pessoas buscam desesperadamente os seus entes queridos. É um caminho longo e repleto de dificuldades, mas a busca não para, ainda que nada garanta que encontrarão uma resposta. Os seus depoimentos refletem isso: "A minha mãe começou a busca com outros familiares, indo de um necrotério a outro", Juan Carlos Torrero, Panamá; "Começamos a gastar toda as nossas econômicas", Zeni Souza do Carmo, Brasil; "Não tinha apoio. Alma, tempo, coração, sem nada em troca", Miriam Rivera, Guatemala.
Neste caminho, muitas famílias descobriram que não estão sozinhas no seu sofrimento e que milhares de outras enfrentam o mesmo que elas. Por isso, apoiam-se mutuamente na busca dos seus entes queridos, em particular por meio de apoio virtual e das redes sociais. "Não importa se é aqui no Brasil ou fora do país; é como se fôssemos uma única família", Zeni Souza do Carmo, Brasil.
O CICV faz um apelo para que as sociedades no geral e as autoridades reconheçam o sofrimento das famílias das pessoas desaparecidas, esforcem-se para priorizar a sua busca e garantam que todo o possível seja feito para que as famílias tenham respostas.
Na América Latina, o CICV apoia os familiares de pessoas desaparecidas no Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Peru. Para o CICV, tanto as pessoas que desaparecem como as suas famílias são vítimas. De fato, elas sofrem consequências físicas, emocionais e psicossociais muitas vezes agravadas pelas dificuldades legais e econômicas. Por outro lado, o CICV trabalha para fortalecer a capacidade e a resposta das autoridades, incluindo as forenses, e para que sejam adotadas políticas que contribuam para a busca e a proteção das famílias.
Vídeo regional: familiares oferecem apoio e solidariedade
Para celebrar o Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, o CICV produziu um vídeo na América Latina que contou com a participação de familiares de pessoas desaparecidas de nove países da região com a intenção de ressaltar que as famílias não estão sozinhas na sua busca.
"Com este vídeo, queremos expressar a nossa solidariedade para com toda as famílias do continente e de outras partes mundo que continuam buscando os seus entes queridos. As famílias unidas são mais fortes na luta para buscar os seus entes queridos. Convidamos todas as pessoas que sejam solidárias para com elas", afirma a assessora regional de Proteção de Laços Familiares para as Américas do CICV, Susana López.
Cifras:
Na Colômbia, em 2020, 106 famílias puderam encontrar respostas sobre a sorte e o paradeiro dos seus entes queridos desaparecidos; 66 dessas pessoas foram encontradas com vida. Além disso, 712 familiares de pessoas desaparecidas receberam apoio para fortalecer as suas fontes de renda. Durante o ano de 2020, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) facilitou 231.147 contatos (p. ex.: por telefone), que permitiram restabelecer o contacto entre pessoas migrantes e os seus entes queridos.
No Peru, segundo os números oficiais, estima-se que 21.793 pessoas desapareceram durante o período de violência que se estendeu de 1980 a 2000. Entre 2002 e 2021, foram recuperados 4.127 cadáveres, dos quais 2.891 já haviam sido identificados e devolvidos às suas famílias. O CICV continua proporcionando assistência aos familiares que não são atendidos pelo Estado, além de apoio para fortalecer a organização e o diálogo entre as associações de famílias e as autoridades.
Atualmente, o CICV busca mais de 161 mil pessoas registradas como desaparecidas pelas suas famílias no mundo todo, mas esta é apenas uma pequena parte do total de pessoas que se estima que estão desaparecidas. Na região das Américas, onde o CICV trabalha ativamente na temática, em particular nos Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras e Peru, existem 4,7 mil pedidos de busca abertos registrados pelo CICV.
Por outro lado, em muitos países da região, continuam sendo registrados casos de desaparecimento de pessoas ou existe o risco de desaparecimento em contextos de violência: no México, segundo dados do Registro Nacional, mais de 91,2 mil pessoas continua desaparecidas, incluindo mais de 22,3 mil meninas, adolescentes e mulheres; no Brasil, foram registrado mais de 62 mil desaparecimentos de pessoas em 2020; na Guatemala, segundo fontes oficiais, entre janeiro de 2016 e outubro de 2017, foram registrados 9.088 casos de pessoas desaparecidas; 6.474 ainda não apareceram; em 2020, foram registrados, em média, nove casos de desaparecimento por dia (correspondente a meninas, meninos, adolescentes e mulheres). Em El Salvador, segundos os dados oficiais, entre 2017 e 2019, foram registrados mais de 8,1 mil desaparecimentos.
Nesses contextos, o CICV reúne os seus esforços com os dos Estados e das comunidades, aos quais presta assessoria técnica e apoio para fortalecer a sua capacidade de buscar as pessoas desaparecidas e responder as necessidades dos seus familiares.
Acesse aqui toda a problemática do desaparecimento na América Latina.
Para mais informações, estes são os contatos da equipe de imprensa do CICV na América Latina:
Brasil: Diogo Alcântara, CICV Brasília | +55 61982487600 | dalcantara@icrc.org
México e América Central: Ana Langner, CICV Cidade do México | + 52 55 37176427 y + 52 55 80129614 | olangnerleyva@icrc.org
Colômbia: Lorena Hoyos, CICV Bogotá | +573102218133 | bhoyosgomez@icrc.org
Peru: Dafne Martos, CICV Lima | +51 997 560 240 | amartoscastaeda@icrc.org