Brasil mostra desaparecidos Fortaleza. Foto: R.Neto/CICV

Brasil: mostra imersiva em Fortaleza mostra a dor e os desafios de familiares de pessoas desaparecidas

O objetivo foi sensibilizar a população sobre as consequências do desaparecimento de pessoas no país
Artigo 16 outubro 2019 Brasil

Entre 30 de agosto e 29 de setembro, o Museu da Cultura Cearense, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza, recebeu a mostra imersiva "A falta que você faz". A produção do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), com fotografias de Marizilda Cruppe e direção artística de Rogerio Costa, apresentou a história de famílias que enfrentam a dura realidade de ter um ente querido desaparecido. "O tema desta exposição é grave, mas é absolutamente necessário", disse Sophie Orr, diretora de operações do CICV para as Américas na cerimônia de abertura da mostra.

A inauguração contou com a presença dos familiares fotografados, além de outros familiares de pessoas que estão desaparecidas. Entre as autoridades presentes, estiveram a diretora de operações do CICV para as Américas, Sophie Orr, e a vice-governadora do Ceará, Izolda Cela. "Eu quero me comprometer a estimular a presença de jovens, de estudantes", comentou a vice-governadora.


"Prestigiem essa exposição, porque quanto mais pessoas virem essa exposição, maiores são as chances de a gente encontrar nossos entes queridos." - Dalva Campioto, mãe de Leonardo Campioto, que está desaparecido desde 2007, foi uma das familiares fotografadas para a mostra.


O primeiro dia da mostra, marcado pelo Dia Internacional dos Desaparecidos, reuniu familiares de pessoas que estão desaparecidas para atividades paralelas no Museu da Cultura Cearense. Também nesse dia, visitantes tiveram a oportunidade de participar de uma mesa-redonda, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, para debater o tema do desaparecimento no Brasil. Nesse marco, a Escola Porto Iracema das Artes promoveu uma aula aberta, com Marizila Druppe e Rogerio Costa, com o objetivo de discutir narrativas visuais no contexto humanitário.

Ao todo, cerca de 3,5 mil pessoas prestigiaram a mostra. Crianças, adolescentes, jovens e adultos foram impactados com as imagens e declarações dos familiares. Inclusivo, o evento também teve visitas guiadas e adaptadas para portadores de necessidades especiais. "A exposição foi bacana, porque eu me lembrei de pessoas da minha família que desapareceram e de outros parentes e familiares", disse Brenda Silva, estudante que visitou a exposição.

Essa foi a terceira vez que o CICV apresentou "A falta que você faz". A mostra havia sido exibida no Museu Nacional em Brasília, em 2017, e no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, em 2018. A proposta é que a reflexão sobre tema do desaparecimento possa ser ampliada para um público mais vasto, sensibilizando sobre uma questão que aflige milhares de pessoas.


"Me senti acolhida, gostei da visita em casa, embora fosse triste. Ser protagonista me fez sentir feliz." - Girliany Costa, mãe de Francisco Douglas Barros, que está desaparecido desde janeiro de 2019, foi uma das familiares fotografadas para a mostra.

 

De acordo com o 13° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 82.094 pessoas foram registradas como desaparecidas no país em 2018. No Brasil, o CICV acompanha os familiares de pessoas desaparecidas, a fim de compreender suas necessidades. Conjugando o conhecimento da realidade local com a experiência global, são feitas recomendações às autoridades brasileiras. Também são oferecidas capacitações em diferentes áreas, trabalhando em conjunto com autoridades e com a sociedade civil para auxiliar na melhora das respostas dadas aos familiares e na busca de pessoas desaparecidas.

No mundo inteiro, o CICV trabalha pela implementação da Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados e pela adoção de um conceito de desaparecimento que vá além da desaparição ocasionada por ações estatais. Dessa maneira, acredita que os mecanismos para a busca de pessoas desaparecidas e a atenção às suas famílias poderão responder ao sofrimento humanitário e às necessidades comuns que atingem todos os casos, independentemente das circunstâncias.