Camboja: novos meios de subsistência para as pessoas com deficiência

04 março 2016
Camboja: novos meios de subsistência para as pessoas com deficiência
Ngov Chreb e o marido percorrem a cidade para vender café no tuk-tuk dela. CC BY-NC-ND / CICV

Ngov Chreb e Laim Sophara sofreram danos na coluna que mudou para sempre a vida delas. Depois de anos de sofrimento com a deficiência, ambas encontraram uma nova maneira de ganhar a vida graças ao projeto que fornece assistência financeira às pessoas com deficiência.

Até que um acidente arruinou a sua médula espinhal em 2003, Ngov Chreb administrava um pequeno negócio na sua casa que lhe permitia sustentar a família. A lesão impediu Ngov de trabalhar e todas as suas economias foram gastas com o tratamento. Sem uma renda regular, a família de Ngov dependia dos meros cinco dólares diários que o marido dela ganhava como operário da construção.

Um ano depois do acidente, Ngov foi ao Centro Regional de Reabilitação Física em Battambang onde colocaram uma órtese que lhe possibilitou caminhar de novo, mesmo que devagar, sem ajuda de um andador. Em 2012, depois de mais de sete anos de tratamento no centro, ela tomou coragem e entrou para o time feminino de basquete em cadeira de rodas do Camboja.

Although Chreb is busy with her coffee business, she manages to practice basketball with her team every weekend.

Embora Ngov esteja ocupada com o seu negócio de venda de café, ela consegue treinar com o time todo o final de semana. CC BY-NC-ND / CICV / Thanapa T.

"Estou contente de ter entrado para o time de basquete e treinar regularmente. Fiz novas amigas e posso conversar sobre os problemas que cada uma enfrentamos. Mais importante ainda, a minha saúde melhorou muito", conta.

Um sonho realizado

A vida de Ngov mudou outra vez para melhor em dezembro de 2015, ao saber da iniciativa de microcrédito do CICV que ajuda as pessoas com necessidades a iniciarem o seu próprio negócio. Ela se inscreveu e ganhou um crédito para abrir uma cafeteria móvel.

Ngove Chreb carefully records each sale in her notebook.

Ngov Chreb registra cuidadosamente cada venda em seu caderno. CC BY-NC-ND / CICV / Thanapa T.

Todos os dias, ela e o marido acordam às 4h da manhã para aprontar a cafeteria para os clientes que chegam às 7h. "Não é nenhum problema acordar tão cedo. O que me importa é que posso trabalhar de novo. Há muito que temos um sonho de ter o nosso próprio negócio", explica ao dirigir uma moto especialmente projetada para as pessoas com deficiências.

O negócio de Ngov anda bem, ela vende até 50 xícaras de café por dia. "Alguns dos meus clientes até são turistas estrangeiros", diz com um sorriso.

Chreb’s husband delivers coffee to a customer.

O marido de Ngov entrega um café a um cliente. CC BY-NC-ND / ICRCCC BY-NC-ND / CICV

A família agora pode alugar uma casa adequada e mandar a filha de dez anos à escola primária. Os planos de Ngov para o futuro inclui adicionar outras bebidas ao cardápio, como sucos de fruta e refrigerantes, para atrair os cliente que não tomam café.

Fazer a diferença

Criada em uma família de agricultores, Laim Sophara (33) é outra beneficiária do programa de microcrédito do CICV.

Quando tinha seis anos, Laim caiu de um monte e lesionou a medula espinhal. Desde então estava confinada a uma cadeira de rodas, dependente dos seus pais e de todo o mundo que a rodeava. A vida de Laim mudou em 2014 quando, como Ngov, ela virou paciente do Centro Regional de Reabilitação Física em Battambang.

Laim Sophara, a member of the Women’s Wheelchair Basketball team, always dreamt of running her own business.

Laim Sophara, jogadora do time feminino de basquete em cadeira de rodas, sempre sonhou em ter o seu próprio negócio. CC BY-NC-ND / CICV / Thanapa T.

Ali, ela viu como outras pessoas com deficiência mudavam as suas vidas, com condições de trabalhar e mesmo praticar esportes. Em janeiro de 2015, Laim e Ngov entraram para o time feminino de basquete em cadeira de rodas do Camboja. "Antes, eu era pessimista sobre tudo, mas depois de entrar para o time, ver os amigos e fazer atividades, a minha vida e a saúde melhoraram muito", diz.

Depois, em novembro de 2015, Laim e os pais decidiram se candidatar a um crédito do programa do CICV para começar um cultivo de cogumelos – um negócio muito popular na sua cidade. Logo conseguiram a aprovação para o negócio.

Oyster mushrooms are popular with local restaurants.

Os cogumelos-ostras são populares nos restaurants locais. CC BY-NC-ND / CICV / Thanapa T.

"A minha vida agora é muito melhor", ela diz. "Estou contente porque posso ganhar dinheiro." Laim colhe entre 5 e 10 kg de cogumelos por dia e vende na feira o quilo a um dólar, tendo ganhado até agora mais de cem dólares.

The mushroom farm is near to Laim’s house, which means she can look after the mushrooms easily.

O cultivo de cogumelo fica perto da casa de Laim, o que signfica que ela pode cuidar facilmente dele. CC BY-NC-ND / CICV / Thanapa T.

Para ajudar a integrar as pessoas deslocadas na sociedade e possibilitar que elas recebam uma renda sustentável, o CICV lançou, em 2015, a Iniciativa de Microcrédito na província de Battambang, Camboja. O projeto fornece assistência financeira a pessoas com deficiência que queiram abrir um negócio com as suas famílias.

A cada quinzena, os funcionários do programa visitam as famílias para fazer um seguimento do projeto. Atualmente, oito famílias recebem ajuda do CICV para obter novos meios de subsistência.

Devido ao êxito e à boa acolhida das famílias que se sentem mais seguras sobre as suas condições de vida, o CICV espera adicionar 20 novas famílias ao programa.