Com pelo menos cinco anos mais de intensa atividade humanitária pela frente, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho precisa de apoio duradouro para o incremento das suas atividades
Pronunciamento do Presidente do CICV, Peter Maurer, durante a 3ª Conferência Internacional de Doações Humanitárias para a Síria, Kuwait, 31 de março de 2015
À medida que a crise na Síria entra no seu quinto ano, é difícil manter a esperança.
As estatísticas sobre o sofrimento são imensas e bem conhecidas – mais de 200 mil mortos, um milhão de feridos e cerca de quatro milhões de sírios que fugiram para o exterior, colocando uma carga financeira e social nos países vizinhos.
As normas que protegem as pessoas que não participam dos combates foram rotineiramente ignoradas. Hospitais foram atacados, civis alvejados e os grupos vulneráveis, que têm o direito à proteção jurídica mais explícita, foram, com frequência, as maiores vítimas.
É uma crise regional em uma escala sem precedente.
As interrupções da vida normal, de curto prazo, em um país de renda média, há cinco anos, se transformaram agora em falências de longo prazo para prestar os serviços básicos a uma população empobrecida em um conflito duradouro e prolongado.
As interrupções temporárias se converteram em falências sistemáticas: atualmente, milhões de pessoas estão sem acesso aos serviços de saúde, água, saneamento, alimentos e moradia.
Há às vezes, porém, momentos de esperança em meio a esta situação desesperadora.
O nosso escritório em Damasco recebeu recentemente um e-mail do único hospital infantil ainda em funcionamento em Aleppo. Continha fotos de incubadoras que mantinham os recém-nascidos aquecidos nas primeiras horas das suas vidas.
As incubadoras estavam funcionando porque o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), junto com os voluntários do Crescente Vermelho Árabe Sírio, levou um gerador de eletricidade através das linhas de frente.
Foi um pequeno êxito, devido a nossa habilidade de negociar, como humanitários neutros, a passagem segura em alguns lugares.
No ano passado, o CICV e o Crescente Vermelho Árabe Sírio dobraram a quantidade de vezes que conseguiram cruzar as linhas de frente.
Contudo, como podemos manter esses pequenos êxitos, já que as necessidades aumentam e os obstáculos continuam para se chegar até as pessoas que precisam de ajuda?
Preocupa-me que os recursos e a paciência dos sírios, das comunidades que os acolhem e dos governos da região estejam chegando ao seu limite.
Sabemos que o conflito persistirá e que os refugiados da Síria não voltarão tão cedo para casa.
Haverá, pelo menos, cinco anos mais de intensa atividade humanitária mesmo se – nos melhores dos casos – os avanços, hoje, para uma saída política negociada forem imediatos e substanciais.
Com a sua ajuda, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, está pronto para dobrar os níveis já elevados de resposta à crise na Síria e na região.
Um ano atrás, destaquei aqui que a falta de acesso era mais crítica do que a falta de fundos. Hoje, apesar de um meio extramemente desafiador, fizemos progresso na questão do acesso, ganhando a confiança de todos os lados e podendo operar em maiores áreas no país e na região. Com a sua ajuda, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho – as Sociedades Nacionais, a Federação Internacional e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha - está pronto para dobrar os níveis já elevados de resposta à crise na Síria e na região.
Sua Alteza, este conflito é brutal e implacável.
Precisamos de uma mudança de direção.
Precisamos de um maior respeito pelo Direito Internacional Humanitário (DIH), que distingue entre combatentes e os que não combatem.
Precisamos de mais espaço para a ação humanitária neutra, imparcial e independente.
Precisamos proteção para os vulneráveis e para os serviços de saúde. Os profissionais humanitários devem poder realizar o seu trabalho em segurança.
Peço a todos que exercem influência nas partes em conflito que assegurem o respeito por essas normas vitais.
Em nome do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, agradeço o seu apoio.