Em fotos: fuga de Ghouta Oriental na Síria

No prédio abandonado de uma usina elétrica, a sensação que se tem é que o sofrimento te envolve completamente. O lugar está destruído, assim como as vidas dos seus novos moradores. Este é um dos muitos abrigos temporários que se transformaram na casa de milhares de sírios que fugiram de Ghouta Oriental depois de anos de violência.

Um Mohammed é uma das pessoas que fugiram. Ela passou por sete longos anos de sofrimento. Ela conta: “sofri muito, especialmente depois da morte do meu marido. Tudo era incrivelmente caro. Poderia passar horas descrevendo a tragédia que vivíamos lá.” Um Mohammed cuida de dez crianças: oito filhos próprios e duas meninas órfãs. Elas estariam perdidas, sozinhas e com medo, em algum lugar da Síria, se não fosse a generosidade desta mulher.

Todos vivem aqui em quartos de madeira temporários, recém construídos. São muitos quartos postos lado a lado no piso frio e duro do prédio principal da usina. Construídos pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o Crescente Vermelho Árabe Sírio, têm a finalidade de tornar a vida um pouco mais suportável nesse lugar. Cada um tem o tamanho aproximado de um quarto duplo em Paris, Londres, Beirute ou Nova York.

Para muitas pessoas, a viagem até os abrigos foi árdua, com muito medo, mas também com esperanças de que, por fim, a segurança estava próxima. Muitas chegaram aqui somente com as roupas do corpo e os sapatos gastos, enquanto que outras nem sapatos tinham.

Sente-se o gosto do pó e da fumaça de cigarros no ar. Ouve-se o choro de bebês. Homens te tocam nos braços, implorando para que você os acompanhe para ajudar com alguma coisa em algum lugar. E você vê o enorme desespero quando olha nos olhos das pessoas. Qualquer lugar que você vá, existe este ataque aos sentidos dentro e fora dos abrigos de Damasco Rural.

Durante o dia, visitamos quatro abrigos e encontramos inúmeras pessoas com histórias para contar: o professor de inglês que sobreviveu à violência intensa, mas sabia que existiam poucos remédios e médicos se fosse necessário.

O homem que, em dias bons, comeu um pouco de pão com cereal e bebeu água suja fervida. Mas, que nos dias ruins, teve de comer ração animal moída, usada normalmente para alimentar vacas.

E as crianças, para quem a escola é uma lembrança distante. Matemática, história, ciências foram há muito substituídas pelas lições dolorosas da guerra: correr, esconder-se, sofrer, sobreviver.

Em toda a Síria, milhões de pessoas continuam afetadas pelo conflito. Centenas de milhares foram mortas ou feridas. Metade de toda a população está deslocada, dentro e fora do país. Famílias foram separadas. As pessoas que foram obrigadas a fugir buscam desesperadamente um lugar seguro para aonde podem ir.

Os civis e os serviços que eles precisam para sobreviver estão sendo atacados. Profissionais de saúde e hospitais são alvejados. Isso nunca deveria acontecer. Repetimos uma e outra vez e continuaremos repetindo isso. As nossas mensagens não podem ser ignoradas pelos que participam neste conflito e pelos que os apoiam não redor do mundo.

Esta pode ser uma leitura incômoda. Mas, pare um momento para pensar em todas as pessoas nestas fotos e os milhões de sírios que enfrentam outro ano de privações tremendas. Imagine ir para cama sem comer em um galpão empoeirado, no chão de uma fábrica barulhenta cheia de gente ou em um campo de futebol rodeado de estranhos em um lugar que nunca deveria ser chamado de “casa”.

Quando você comer hoje à noite, pense neles. Quando disser boa noite aos seus filhos, pense neles. E quando você se levantar amanhã e vir que a sua casa não foi destruída, pense neles de novo.

Os sírios necessitarão a sua ajuda ainda por muitos anos. O que eles agora precisam com urgência é uma solução política duradoura que traga paz.