Depoimentos
Joana Nogueira, coordenadora executiva da Assessoria de Assuntos Institucionais da Prefeitura Municipal de Fortaleza
"O Acesso Mais Seguro tem se mostrado especialmente importante para os servidores das unidades de Saúde, Educação e Assistência Social de Fortaleza, porque vivemos uma crise de segurança na cidade, com disputas de territórios por facções. Temos relatos de moradores que não conseguem ir ao Posto de Saúde da sua região porque, para isso, teriam de cruzar um território dominado por uma facção inimiga da facção de onde eles moram.
Desde a implantação do Acesso Mais Seguro, conseguimos algumas melhorias no atendimento à população dessas regiões. Eu destaco três ganhos principais:
1. Maior sensação de segurança.
O servidor que trabalha nas áreas vulneráveis à violência, que passa pelas capacitações do Acesso Mais Seguro e tem acesso ao sistema de notificação, sente ter apoio para exercer suas atividades com segurança. Ele sabe que, se acontecer alguma coisa, será avisado ou terá uma retaguarda para evacuar o local. Ele sabe que existe um plano de contingência para cada situação de violência, capaz de garantir a proteção dele e de todas as outras pessoas que estiverem naquele local.
2. Melhora da capacidade de decisão da equipe responsável pela gestão das unidades de atendimento ao público.
A plataforma do Acesso Mais Seguro nos dá essa visão. Hoje, a gente consegue mensurar a questão do impacto da violência na oferta de serviços públicos. Vou citar um exemplo simples: se o segurança de uma unidade localizada em um bairro vulnerável à violência não pode trabalhar, a ausência dele impacta fortemente a oferta daquele serviço — muito mais do que a ausência de um segurança de um bairro de classe média alta, onde a interferência da violência é menor. Então, podemos remanejar profissionais de uma unidade para a outra.
3. Melhora da comunicação entre as unidades de atendimento ao público localizadas em regiões vulneráveis à violência.
Se um evento acontece em uma escola, o pessoal da unidade de saúde que fica na mesma região é avisado. Então, tem uma comunicação mais fluida entre os servidores de diferentes secretarias, mas que estão em unidades de atendimento em um território em comum. Recentemente, por exemplo, houve um tiroteio em frente a um posto de saúde e os servidores foram orientados, antes de chegar lá, a não ir trabalhar. Esse tipo de informação chega antecipadamente para eles, e eles se sentem mais seguros.
O Acesso Mais Seguro trouxe tantos ganhos para o nosso município e para os nossos cidadãos que, em 2021, trabalhamos em uma minuta de decreto municipal para regulamentá-lo como política pública. Esse texto foi escrito a muitas mãos, pelas pessoas que vivem o AMS na prática, e agora está passando por ajustes jurídicos para ganhar força de lei. Está tudo encaminhado para que, ainda neste semestre, tenhamos essa legislação aprovada."
Renata Costa de Oliveira, Ponto Focal da Equipe de Educação Preventiva na Gerência de Proteção Escolar da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
O Acesso Mais Seguro é muito importante aqui no Rio, onde temos muitas unidades escolares localizadas em comunidades que sofrem as consequências da violência armada. A metodologia nos ajuda a identificar os sinais do território, a avaliar as condições sobre o funcionamento do equipamento, a sistematizar boas práticas de autoproteção para nos manter seguros, a identificar situações de ameaça ao atendimento e a preservar a integridade da comunidade escolar. Quem passa pela capacitação consegue perceber melhor os sinais de que podem acontecer confrontos na região. Eles desenvolvem o hábito de compartilhar e monitorar esses sinais de alerta também por meio da plataforma do AMS e a para prevenir problemas. É uma conscientização diária, de fazer um exercício de avaliar quando é possível ou não manter o atendimento presencial e pleno à comunidade, porque existem outras estratégias, como operar em horário reduzido, por exemplo. A metodologia ajuda a fazer essa avaliação criteriosa para não prejudicar nem a comunidade, nem a integridade física e mental dos colaboradores.
Por tudo isso, a parceria com o CICV é fundamental para a prefeitura do Rio. Tanto que fizemos, em 2021, o projeto piloto de uma plataforma EaD para realizar capacitações de Comportamentos Mais Seguros. Nosso objetivo é ofertar esse curso para todas as unidades escolares da capital carioca — principalmente, para aquelas que não estão localizadas em áreas de confronto armado. Para as localizadas em áreas que sofrem episódios de confronto armado, temos o programa Acesso Mais Seguro. Hoje, o Acesso Mais Seguro está implantado em 504 unidades escolares do município. Nosso objetivo é levar esses conhecimentos a todas as 1.543 unidades escolares da Secretaria Municipal de Educação. Incluiremos também as unidades de extensão, como núcleos de arte e bibliotecas municipais. Já temos uma média de 165 turmas organizadas envolvendo 33 mil servidores, que serão beneficiados com a metodologia. A previsão de início é março deste ano.
É importante dizer que planejamos essa expansão audaciosa justamente por entendermos que o AMS é útil, importante e necessário para todos. Independentemente de estarmos em uma comunidade ou não, é importante saber como se prevenir de certas situações de violência às quais todos nós estamos sujeitos."