Haiti: fluxo de pacientes feridos agrava necessidades nos hospitais

Haiti: fluxo de pacientes feridos agrava necessidades nos hospitais

Porto Príncipe (CICV) – Um aumento acentuado no número de pessoas feridas sobrecarregou os poucos hospitais em funcionamento na capital do Haiti, Porto Príncipe, ocasionando uma redução preocupante na quantidade de suprimentos médicos em meio a uma escalada da violência armada. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) está agindo para responder às suas necessidades urgentes e melhorar o acesso das pessoas à assistência à saúde e a outros serviços humanitários.
Comunicado de imprensa 21 abril 2024 Haiti

Alguns estabelecimentos de saúde nas zonas mais atingidas estão trabalhando sob forte pressão por causa do aumento do número de pacientes, e vários outros foram forçados a fechar as portas devido à insegurança. Há uma grande escassez de material médico, incluindo medicamentos, equipamentos críticos, leitos hospitalares e hemoderivados.

"Recebemos muitos pacientes com ferimentos de bala. De 29 de fevereiro a 15 de abril de 2024, recebemos cerca de 200 pessoas feridas por arma de fogo. Atualmente, o hospital está saturado quanto à ocupação de leitos e com enormes necessidades", disse o Dr. Paul Junior Fontilus, diretor executivo do Hôpital Universitaire la Paix (HUP), único hospital público em funcionamento em Porto Príncipe.

Segundo o Dr. Fontilus, os profissionais de saúde têm feito sacrifícios imensos para ajudar a salvar as vidas dos haitianos aprisionados pela violência armada.
"Recebemos uma menina de 15 anos com um tiro na cabeça. Antes de chegar ao HUP, os paramédicos a levaram a vários hospitais em busca de tratamento.

Ela estava em estado crítico, e não tínhamos especialistas em neurocirurgia. Depois de muita reflexão, finalmente recebemos a paciente. A família dela era pobre, então contribuímos com 300 dólares para pagar o exame. Tomamos as providências necessárias para que outros especialistas operassem a menina. A cirurgia foi bem-sucedida mas, infelizmente, ela faleceu poucos dias depois", acrescentou.

Alguns profissionais de saúde não conseguem se deslocar até seus locais de trabalho, o que faz com que os poucos hospitais em funcionamento operem abaixo de sua capacidade. Pacientes com condições médicas potencialmente fatais já não podem receber atendimento de urgência. O acesso a alimentos, água e combustível está interrompido em muitas comunidades, o que representa um enorme impacto para as pessoas mais vulneráveis.

"Estamos testemunhando uma situação humanitária sem precedentes em 2024, que piorou desde a escalada da violência armada no final de fevereiro. As terríveis consequências disso podem ser vistas no enorme sofrimento dos haitianos, especialmente na capital, Porto Príncipe, onde várias pessoas foram mortas, centenas ficaram feridas e milhões necessitam urgentemente de assistência à saúde, água potável, alimentos e abrigo", disse a chefe da delegação do CICV no Haiti, Marisela Silva Chau.

Assim como ocorre com os poucos hospitais em funcionamento, o Hôpital Universitaire la Paix depende do apoio de parceiros para manter seus serviços, mas as restrições de circulação devido à insegurança e os bloqueios de estradas improvisados continuam sendo grandes obstáculos para a entrega urgente do material médico desesperadamente necessário.

"Precisamos urgentemente de combustível porque operamos usando geradores. Caso contrário, corremos o risco de fechar as portas. A oferta no mercado é escassa. Nossa necessidade de oxigênio aumenta constantemente devido à quantidade elevada de pacientes que recebemos regularmente. E necessitamos de suprimentos de sangue", explicou o Dr. Fontilus.

Para atender a algumas das vastas e crescentes necessidades em Porto Príncipe, o CICV forneceu recentemente kits cirúrgicos e de curativos, equipamentos de proteção individual, líquido para tratamento de fossas sépticas e produtos probióticos para estabelecimentos de saúde, incluindo o Hôpital Saint Camille, Hôpital Saint Luc, Hôpital Bernard Mevs, Hôpital Universitaire la Paix e o Centre d'Observation Médicale Siloé, em Belikou.

 

Desde janeiro de 2024, os esforços do CICV incluem:

● fornecemos cerca de 27 kits de curativos e 6 kits cirúrgicos para tratar aproximadamente ,1,7 mil pacientes feridos a 6 estabelecimentos de saúde (hospital MSF-France, Hôpital Saint Camille, Hôpital Saint Luc, Hôpital Bernard Mevs, Hôpital Universitaire la Paix e Centre d'Observation Médicale Siloé, em Belikou) e a agentes comunitários de saúde que receberam treinamento em primeiros socorros;

● entregamos 653 mil galões de água a 52,8 mil pessoas por meio de caminhões-tanque para 5 locais destinados a pessoas deslocadas e outras 14 áreas;

● distribuímos produtos de higiene, lonas e lâmpadas solares para mais de 2 mil pessoas deslocadas;

● doamos 360 kg de probióticos e 340 litros de líquido para tratamento de fossas sépticas a 5 hospitais (Hôpital Universitaire la Paix, Centre Hospitalier Fontaine, Hôpital Saint Luc, Bernard Mevs, Centre Hospitalier Foyer Saint Camille) juntamente com equipamentos de proteção individual para promover a higiene nessas áreas e reduzir infecções e doenças hospitalares;

● doamos 3 mil galões de óleo diesel ao Hôpital Universitaire la Paix para apoiar seu funcionamento devido aos frequentes cortes de energia;

● doamos 100 colchões para a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF);

● treinamos 27 pessoas de comunidades afetadas pela violência armada em primeiros socorros e doação de 8 kits de primeiros socorros;

● capacitamos 14 formadores do Centro Nacional de Ambulâncias, da organização Médicos Sem Fronteiras e do serviço de ambulância da Cruz Vermelha Haitiana, em técnicas de desescalada da violência;

● fornecemos equipamentos de proteção individual a 25 voluntários que trabalham no serviço de ambulância da Cruz Vermelha Haitiana;

● apoiamos o serviço de ambulância da Cruz Vermelha Haitiana, que prestou atendimento de emergência a 75 pacientes;

● doamos e instalamos duas caixas d'água com capacidade de 1,7 mil galões em dois locais para aumentar a capacidade de armazenamento. 

Mais informações:

Jude Fuhnwi, CICV Porto Príncipe, +509 34 30 31 20, jfuhnwi@icrc.org  

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