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Iêmen: libertação de pessoas detidas traz “grande momento de humanidade”

Atendendo ao pedido das partes em conflito no Iêmen, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) facilitou em meados de abril de 2023 a libertação e transferência de 973 pessoas detidas em conexão com o conflito. Como intermediários neutros em situações de tensão, conseguimos criar espaços onde as pessoas podem fugir da violência e da adversidade no Iêmen e em outros países.

Sexta-feira, 13 de abril de 2023, aeroporto de Áden. A delegada do CICV Fatima Sator acompanha pessoas que estavam detidas no caminho a Sanaa. Antes de embarcar no avião, ela lhes dá um celular para que possam avisar às famílias que eles voltarão a casa em breve. "É tão comovedor, todos eles estão eufóricos porque encontrarão seus familiares daqui a algumas horas, após passarem anos em cativeiro. É um grande momento de humanidade".

©CICV

A operação logística mobilizou dois aviões fretados e três do CICV, que realizaram 18 voos entre seis cidades no Iêmen e na Arábia Saudita para facilitar o retorno seguro de mais de 950 pessoas às suas casas. Equipes de saúde e voluntários do Crescente Vermelho do Iêmen e do Crescente Vermelho da Arábia Saudita ajudaram as pessoas detidas com deficiência a embarcar e desembarcar dos aviões e forneceram primeiros socorros e serviços de ambulância quando necessário.

A operação foi conluída na segunda-feira, 17 de abril, quando as últimas pessoas detidas completaram o último trecho de sua viagem de táxi ou ônibus com apoio financeiro do CICV.

Durante a viagem, uma pessoa libertada confia a Fatima: "Esperei este momento durante anos e quero uma coisa só: abraçar meus filhos". Depois, acrescenta com um grande sorriso: "Neste mês, vou celebrar o Eid duas vezes: hoje e daqui a uma semana!"

Ao chegarem a Áden, a pista é invadida por uma multidão de funcionários, militares e familiares. Homens se abraçam e se beijam na testa. Improvisam-se danças tradicionais. "As famílias choram de tanta alegria que já não conseguem falar", conta Fatima.


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Mais do que transportar pessoas

A operação de libertação é resultado de negociações que concluíram em 20 de março de 2023 em Berna, na Suíça, onde as partes em conflito no Iêmen concordaram libertar cerca de 900 pessoas. Copresidimos essas reuniões com o Escritório do Enviado Especial do Secretário-Geral para o Iêmen.

Em dezembro de 2018, as partes em conflito tinham assinado o Acordo de Estocolmo, comprometendo-se a libertar pessoas detidas em relação com o conflito.

Essa é a segunda maior operação de libertação de pessoas detidas organizada por nós em relação com o conflito no Iêmen. A maior foi realizada em outubro de 2020, com a libertação de mais de mil pessoas detidas.

O vice-diretor de operações do CICV no Iêmen, Ralph Wahbe, afirma: "É um verdadeiro privilégio fazermos parte de um acontecimento histórico como esse. Mas vamos deixar uma coisa clara: nossa função abrange muito mais do que fretar aviões e transportar pessoas".

©CICV

Nas semanas anteriores à operação, o CICV visitou todas as pessoas detidas nos seus locais de detenção e se reuniu com elas em forma privada para garantir que a volta a seus lares fosse voluntária e que tivessem sua segurança garantida.

Os delegados também verificaram que as pessoas detidas estivessem aptas para voar e lhes ofereceram a opção de informar às suas famílias que elas estavam voltando aos seus lares.

O impacto humano desse tipo de operações de libertação é enorme. "Elas ajudam a acabar com o sofrimento de muitas famílias separadas e geram confiança entre as partes. Esperamos que isso leve à realização de mais operações de libertação", enfatiza Ralph Wahbe.

Por que pessoas detidas precisam de proteção

De acordo com nosso relatório mais recente sobre detenção (disponível em inglês), "pessoas detidas são vulneráveis a maus-tratos de captores e guardas, seu bem-estar depende completamente das capacidades e dos interesses de seus captores e muitas delas sofrem de ansiedade por não saberem quanto tempo continuarão em detenção."

Esses perigos ainda existem e podem aumentar durante as operações de libertação e transferência por causa do ódio e do ressentimento que surgiram entre inimigos ou da proximidade de operações militares em andamento.

É nesse ponto que podemos contribuir com um valor claro graças às décadas de ação neutra em meio a situações de polarização e violência. Ao neutralizarmos espaços como hospitais e meios de transporte como ônibus e aviões, podemos cuidar de todas as pessoas colocadas sob proteção dos emblemas da Cruz Vermelha, do Crescente Vermelho ou do Cristal Vermelho.

©CICV

Muitas famílias ainda desconhecem a sorte dos seus entes queridos; não sabem se eles estão vivos, mortos, feridos ou detidos. Essas famílias também merecem saber. O CICV insta as partes em conflito a iniciarem negociações para a repatriação e a libertação das pessoas que ainda estão detidas e foram mortas em combate.

Ralph Wahbe conclui: "Apreciamos que todas as partes em conflito confiem no CICV como ator intermediário neutro nessa operação. No entanto, não esqueçamos que ainda há pessoas detidas esperando sua libertação. Estamos prontos para ajudar."

No Iêmen desde 1962

Conforme o Artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra, o CICV ofereceu seus serviços às partes em conflito no país para ajudar as pessoas mais vulneráveis nesse conflito devastador e de longa data. Por exemplo, registramos pessoas detidas e avaliamos que sejam tratadas com humanidade, entrem em contato com suas famílias, melhorem suas condições de detenção se necessário e participem em sua libertação segura.

Os últimos oito anos de conflito puseram o Iêmen de joelhos, com serviços essenciais à beira do colapso e milhões de pessoas dependentes da ajuda humanitária. Em colaboração com o Crescente Vermelho do Iêmen, prestamos apoio a projetos para melhorar o atendimento à saúde e o acesso a água e ao saneamento em comunidades vulneráveis, ajudamos as pessoas a ganhar independência financeira e apoiamos iniciativas para eliminar resíduos explosivos de guerra. A recente escassez de financiamento de doadores internacionais pode minar nossa ação neutra e imparcial.