Desaparecidos no caminho

29 novembro 2017
Desaparecidos no caminho

Os trajetos são longos e perigosos, através do Mediterrâneo, do Magrebe e do corredor da América Central. As pessoas fogem da violência e penúria, migrando para sobreviverem um dia mais.

Estas são as histórias das pessoas que partem em busca de uma vida melhor, mas nunca chegam ao seu destino.

Instabilidade


Estima-se que quase 500 mil pessoas ingressam no México todos os anos, vindas de países vizinhos na América Central (ficha informativa sobre o México, Acnur, 2017). Diferentes são os motivos das viagens, mas as experiências costumam ser as mesmas.

Devido à escalada da violência e extorsão das gangues (cobrança de "impostos"), cuidar da família é muito difícil, não importando se tiver o seu próprio negócio ou for um funcionário.

A violência crônica é um aspecto presente na vida cotidiana de muitas pessoas. Como consequência, muitas crianças chegam à vida adulta privadas de uma educação de qualidade.

A separação das famílias é uma causa e consequência comuns da migração. As pessoas que têm parentes no exterior com frequência migram para se reunirem com os seus entes queridos.

Partida

Seja em busca de uma vida melhor, um trabalho firme ou um pouco de estabilidade e segurança, a vulnerabilidade do migrante se intensifica no momento da partida.

Dada a irregularidade inerente à essas viagens, os trajetos são repletos de perigos e dificuldades, levando, na maioria dos casos, semanas ou meses. Dados precisos, porém, são escassos; ninguém sabe com certeza quantos migrantes desaparecem.

Para pagar essas viagens, muitos tomam empréstimos caros de bancos ou particulares. O pagamento é feito na esperança de encontrar trabalho e mandar dinheiro para casa. 

Caso a pessoa desapareça, a família deve arcar com o pagamento do empréstimo. Com a dívida, os negócios e lares sofrem, deixando, muitas vezes, as famílias piores do que antes da pessoa partir.

Os migrantes perdem, com frequência, o contato com as suas famílias por causa dos perigos presentes nas rotas, das suas características irregulares ou da falta de meios para fazer uma ligação. Perder o contato com os familiares pode aumentar o risco de desaparecer e a incerteza afeta psicologicamente as famílias.

Migrações

Relacionada com cada migrante desaparecido existe uma família que vive com a incerteza, sem saber se o seu ente querido está vivo ou morto. Estas fotos da América Central são parte de uma história global. Tecida com fios comuns de dor, perda e desconhecimento para as famílias que ficaram para trás.

"Bem, o motivo da minha viagem foi poder chegar aonde está a minha família, já que é muito importante para mim. Sinto muita saudade deles, mas sei que Deus nos ajudará para poder encontrar nossa família. Sinto muita saudade. Deixamos nossas casas para poder ter vidas saudáveis e melhores, já que este caminho é cansativo, mas Deus nos ajuda."

Maria Delmy, 8 dias de viagem

"Irmãos hondurenhos, meu nome é Prudencio. Antes de sair do nosso país, pensem bem, porque é a terceira vez que me aventuro neste caminho e não é fáci vencer essa tarefa. Muito sofrimento. Há momentos de alegria e de muito sofrimento. Eu, que passei por isso, não aconselho. Passar o departamento de Migração não é fácil. E há ladrões por todo canto."

Prudencio, 40 dias de viagem

Desaparecimentos

Os migrantes desaparecem quando as suas famílias não podem estabelecer o contato, mesmo que eles estejam vivos, ou quando os seus restos mortais não forem encontrados ou identificados. Isso pode acontecer quando os migrantes andam por rotas perigosas ou são detidos sem terem como se comunicar. Pode ser que os migrantes ou as suas famílias escolham não buscar ajuda por medo aos riscos envolvidos.

Frequentemente, as pessoas que morrem nas rotas migratórias são enterradas sem identificação ou registro, fazendo com que seja difícil para as autoridades localizá-las e para as famílias serem informadas da sorte ou paradeiro delas.

Jorge e Mauro Murcia: disaparecidos 10 e 15 anos atrás

 

A mãe deles, Clementina, é membro do Comitê de Familiares de Migrantes Desaparecidos do Progresso. Ela participou da "caravana das mães", procurando migrantes desaparecidos como seus filhos.

Olga Edelmira Romero Medina: desaparecida há 8 anos

Ela partiu de Honduras em outubro de 2009. Os cinco filhos moram com a avó.

Apoio e restabelecimento

Enquanto estávamos trabalhando neste projeto "Desaparecidos no caminho", Mauro Murcia foi encontrado no México, após 30 anos sem notícias. Isso nos lembra que milagres podem acontecer, com o apoio de indivíduos e organizações que nunca perdem a esperança.

Como uma organização humanitária, o CICV não diferencia entre as razões pelas quais as pessoas deixam as suas cidades. O que nos preocupa é a vulnerabilidade com que o fazem.

Por isso, trabalhamos para ajudar os migrantes a se tornarem menos vulneráveis - com clínicas móveis de saúde ou mesmo uma ligação para casa para tranquilizar a família. Com os nossos parceiros, incluindo as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, trabalhamos para reunir as famílias. Também dialogamos com os governos para ajudar a prevenir os desaparecimentos e enfatizar a responsabilidades dos Estados em solucionar os casos.

E quando alguém desaparece, ajudamos as famílias para que possam descobrir o que aconteceu, fazendo todo o possível para levar a pessoa de volta para casa. Porque descobrir os fatos e a história do desaparecido é um ato humanitário.

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