Nigéria: 22 mil pessoas registradas como desaparecidas após uma década de guerra, o maior número de casos do CICV no mundo

12 setembro 2019
Nigéria: 22 mil pessoas registradas como desaparecidas após uma década de guerra, o maior número de casos do CICV no mundo
Serviço de busca do CICV, Restabelecimento de Laços Familiares em Maiduguri, Nigéria.

Abuja (CICV) – Cerca de 22 mil nigerianos foram reportados como desaparecidos ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) durante uma década de conflito no nordeste da Nigéria. É o maior número de pessoas desaparecidas já registrado pelo CICV em um país.

Quase 60% delas eram menores quando desapareceram, o que significa que milhares de pais não sabem o paradeiro dos filhos – nem se estão vivos ou mortos.

"O pior pesadelo de todo pai é não saber onde está o seu filho. Essa é a realidade trágica de milhares de pais nigerianos, que sofrem a angústia de uma busca constante", afirmou o presidente do CICV, Peter Maurer, após uma visita de cinco dias ao país. "As pessoas têm o direito de saber a sorte dos entes queridos. É necessário fazer mais para impedir que as famílias sejam separadas."

Durante a visita à Nigéria, Maurer se reuniu com o presidente Buhari e altos funcionários do governo, além de representantes da sociedade civil e líderes empresariais. Também conversou com famílias afetadas pelo conflito em Maiduguri e Monguno, muitas delas com entes queridos desaparecidos.

As famílias no nordeste da Nigéria são muitas vezes separadas ao fugir dos ataques. Outras tiveram seus entes queridos sequestrados ou detidos e não sabem o seu paradeiro. O CICV trabalha com a Cruz Vermelha Nigeriana e outras sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho na região para localizar os desaparecidos mostrando fotos, perguntando por seus nomes e batendo de porta em porta nos campos e comunidades.

Até agora 367 casos foram resolvidos desde que o CICV começou a recebê-los, em 2013, o que revela os enormes desafios envolvidos na busca dos desaparecidos e na reunificação das famílias na Nigéria. Grandes áreas do nordeste do país continuam completamente inacessíveis às organizações humanitárias. As pessoas também foram deslocadas ao combater sucessivas vezes, tornando-se mais difíceis de localizar.

"O que me aflige é não saber se ele está vivo ou morto. Simplesmente não sei. Sempre que cozinho para os seus irmãos eu penso nele", diz Falmata Amadu, mãe de um garoto que desapareceu em 2013, aos 10 anos, quando fugia de um ataque. "Durante os três anos que ficamos em Maiduguri, meu marido estava muito angustiado e tinha pesadelos constantes. Todo o tempo ele repetia o nome do nosso filho sequestrado: 'Alkali, Alkali, Alkali.'"

Estima-se que dois milhões de pessoas tenham deixado as suas casas no nordeste da Nigéria. Em Monguno, o número de deslocados internos é quase duas vezes maior que o de residentes. A assistência médica também é uma grande preocupação. Profissionais e estabelecimentos de saúde continuam sendo alvo de ataques. Quase um ano atrás, duas profissionais de saúde do CICV, Hawa Mohammed Liman e Saifura Hussaini Ahmed Khorsa, foram mortas de maneira deliberada após serem sequestradas em uma clínica de Rann, no estado de Borno. Esses ataques contra a assistência à saúde são não apenas uma violação do Direito Internacional Humanitário (DIH), mas também do direito básico das pessoas a receber atendimento.

"As famílias são as maiores vítimas dos 10 anos de guerra no nordeste da Nigéria", disse Maurer. "Elas foram separadas. As crianças foram mortas e mutiladas em explosões. Seus estabelecimentos de saúde foram cruelmente atacados, e suas casas e pertences, destruídos. As famílias devem ficar juntas. Acima de tudo, os civis devem ser poupados na guerra."

Nota aos editores:

O CICV considera uma pessoa como desaparecida quando alguém nos informa que está buscando um membro da sua família. O caso permanece aberto até que a rede da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho esclareça o que aconteceu com a pessoa ou até que a família nos informe que encontrou o seu ente querido.

Mais informações:

- Vincent Pouget, Coordenador de Comunicação, CICV Abidjan, tel: +2349087654206, vpouget@icrc.org
- Crystal Wells, Delegada de Comunicação, CICV Nairóbi, tel: +254716897265, cwells@icrc.org
- Aurélie Lachant, Coordenadora de Comunicação, CICV Genebra, tel : +41227302271, alachant@icrc.org va, +41792446405, alachant@icrc.org