Nigéria: assistência à saúde
Para as pessoas que fogem da violência – e estão em trânsito – há poucas oportunidades para a assistência à saúde. As mulheres grávidas foram obrigadas a dar à luz em condições muito difíceis, algumas vezes tendo de abandonar os seus bebês recém-nascidos para salvarem as suas próprias vidas. Os cirurgiões tiveram de lidar com ferimentos com os quais não estão acostumados, como os causados por estilhaços de bombas.
A maioria dos homens fugiu. Ainda grávida, Natisa Mohammed, 29, ficou para trás com os seus quatro filhos. "Presenciei muita violência", conta Natisa ao lembrar-se do ataque de setembro do ano passado ocorrido na sua aldeia, Gulak. "Sobrevivi porque estava grávida. Ainda tenho medo quando me lembro desse momento".
Em fevereiro, a violência voltou a rondar, e Natisa e os seus filhos foram obrigados a fugir. Enquanto viajam pelo interior do país, ela deu à luz, prematuramente, ao seu quinto filho, um menino. Um homem que passava ajudou no parto, pôs a família em um caminhão e os levou para um centro de refugiados em Yola.
"Houve tiroteios em toda parte e caiam bombas no dia que dei à luz", conta Natisa. "Decidi chamar o meu bebê Auwel, como o homem que salvou as nossas vidas".
Hoje, Natisa diz que precisa de uma melhor alimentação para ela e para os seus filhos. Não há sabão para lavar as roupas do bebê, nem dinheiro para as consultas médicas. Apesar desses problemas, Natisa se sente segura no campo. "Aqui vivemos como irmãos, ajudando-nos uns aos outros, porque estamos na mesma situação", afirma.
Natisa sente falta da vida que tinha antes, vendendo cosméticos e joias em casa, enquanto os seus filhos frequentavam a escola. Mas a sua aldeia foi destruída. "Só quero a vida linda que eu tinha antes de volta", afirma.
"Sim! Na floresta!", diz Ummu Salma, um morador de Mubi (Nigéria) que fugiu da violência. "Vi uma mulher dando à luz, cobrindo o bebê com folhas e abandonando-o aí na floresta para salvar a própria vida".
"Estávamos na igreja quando os homens chegaram. Atiravam indiscriminadamente e mataram alguns de nós", conta Hafeesu Adamu, um morador de Minchiga, Nigéria, que também foi obrigado a fugir. "Entre nós havia mulheres e crianças que morreram no caminho. Algumas davam à luz no caminho."
Entrevistas do CICV, Yola, Nigéria, março de 2015