Nigéria: deslocamento
Quando as famílias fogem das suas casas, já não podem mais cuidar das suas plantações. Quando a produção agrícola cai, o comércio despenca; uma espiral econômica descendente. E quando as famílias fogem das suas casas, elas se separam. Muitos deslocados são acolhidos nas aldeias e vilarejos. Isso representa um fardo para essas comunidades também.
Nos últimos seis meses, Samuel Tizira abriu as portas da sua casa em Yola para 50 pessoas, que conviviam com a sua esposa e os seus seis filhos. As pessoas que acolhia fugiam da violência em Michika, cidade natal de Samuel, que foi atacada em setembro do ano passado. Samuel perdeu oito parentes em decorrência desse ataque.
"As pessoas em Michika sabem que vivo em Yola e começaram a chegar à minha casa no dia seguinte", conta Samuel. "Eles não tinham lugar para ficar e somos todos seres humanos. Precisamos ajudar uns aos outros neste mundo".
Samuel, 53, trabalha em Yola há 34 anos como cartógrafo para o governo. A maioria das pessoas que acolheu caminhou 60 quilômetros durante três dias com pouco que comer ou beber.
"Independentemente dos problemas que tenham, me ensinaram a prezar a vida humana", conta Samuel, que gastou o seu próprio dinheiro para garantir que os seus antigos vizinhos tivessem o que comer três vezes por dia. Também comprou sabão, colchões extras, água potável e mosquiteiros.
Para Samuel, o caos na sua casa não é nada comparado com o que as pessoas que fugiram tiveram de enfrentar. "Eles tiveram de escapar com a roupa do corpo e nada mais. Não houve tempo de pegar nenhum kobo (moeda nigeriana) ou documentos pessoais".
"Estávamos preocupados porque as outras duas crianças não estava conosco. Não sabíamos onde estavam", conta Maria Sanusi, que tem cinco filhos, dos quais dois haviam desaparecido após o tiroteio em Gulak, Nigéria, em setembro do ano passado.
Entrevistas do CICV, Yola, Nigéria, abril de 2015