Nigéria: deslocamento

20 maio 2015
Nigéria: deslocamento
Samuel Tizira trabalha em Yola como funcionário público desde 1981. Nos últimos seis meses, acolheu 50 pessoas que fugiram de Michika, sua cidade natal. O próprio Samuel perdeu oito membros da sua família no dia que a aldeia foi atacada, em março de 2015.

Quando as famílias fogem das suas casas, já não podem mais cuidar das suas plantações. Quando a produção agrícola cai, o comércio despenca; uma espiral econômica descendente. E quando as famílias fogem das suas casas, elas se separam. Muitos deslocados são acolhidos nas aldeias e vilarejos. Isso representa um fardo para essas comunidades também.

Nos últimos seis meses, Samuel Tizira abriu as portas da sua casa em Yola para 50 pessoas, que conviviam com a sua esposa e os seus seis filhos. As pessoas que acolhia fugiam da violência em Michika, cidade natal de Samuel, que foi atacada em setembro do ano passado. Samuel perdeu oito parentes em decorrência desse ataque.

"As pessoas em Michika sabem que vivo em Yola e começaram a chegar à minha casa no dia seguinte", conta Samuel. "Eles não tinham lugar para ficar e somos todos seres humanos. Precisamos ajudar uns aos outros neste mundo".

Vendi Kwaji, 72, is one of 50 people living with Tizira’s family. He survived a three-day walk without food, water or medicine until he reached a safe place and could take a truck to Yola.

Vendi Kwaji, 72, é uma das 50 pessoas que vive com a família de Tizira. Ele sobreviveu uma caminhada de três dias, sem comida, sem água ou remédios até chegar a um lugar seguro, onde pôde pegar um caminhão para Yola. CC BY-NC-ND / ICRC / Jesus Serrano Redondo

Samuel, 53, trabalha em Yola há 34 anos como cartógrafo para o governo. A maioria das pessoas que acolheu caminhou 60 quilômetros durante três dias com pouco que comer ou beber.

"Independentemente dos problemas que tenham, me ensinaram a prezar a vida humana", conta Samuel, que gastou o seu próprio dinheiro para garantir que os seus antigos vizinhos tivessem o que comer três vezes por dia. Também comprou sabão, colchões extras, água potável e mosquiteiros.

Para Samuel, o caos na sua casa não é nada comparado com o que as pessoas que fugiram tiveram de enfrentar. "Eles tiveram de escapar com a roupa do corpo e nada mais. Não houve tempo de pegar nenhum kobo (moeda nigeriana) ou documentos pessoais".

Displaced women and a baby at an ICRC aid distribution in Maiduguri, Nigeria.

Mulheres deslocadas e um bebê em um centro de distribuição de ajuda do CICV em Maiduguri, Nigéria. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Serrano Redondo

"Estávamos preocupados porque as outras duas crianças não estava conosco. Não sabíamos onde estavam", conta Maria Sanusi, que tem cinco filhos, dos quais dois haviam desaparecido após o tiroteio em Gulak, Nigéria, em setembro do ano passado.

Entrevistas do CICV, Yola, Nigéria, abril de 2015