Filipinas: projeto melhora condições de vida das comunidades afetadas por conflitos

29 outubro 2015
Filipinas: projeto melhora condições de vida das comunidades afetadas por conflitos
Antes do caminho de concreto ser construído, os moradores da comunidade Togawe em Gubat, Sorsogon, enfrentavam dificuldades ao ter de atravessar por uma trilha lamacenta e escorregadia para chegar à fonte de água potável durante a estação chuvosa. Uma atividade de remuneração por trabalho prestado permitiu a construção deste caminho mais seguro. CC BY-NC-ND / CICV / K. Martin

Em partes de Luzon e Visayas, as comunidades sofrem com os efeitos de um conflito armado prolongado entre as forças de segurança do governo e o Novo Exército Popular. Quase sempre vivendo em áreas remotas e afastadas, essas comunidades também enfrentam a pobreza, o que faz do dia a dia um desafio.

"O crescimento econômico é quase sempre atrofiado nessas comunidades, que também sofrem com a insegurança causada pelos enfrentamentos esporádicos. Por causa disso, essas pessoas têm acesso limitado a oportunidades de geração de renda e, às vezes, aos serviços também", afirmou o chefe da subdelegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Luzon e Visayas, Oualid Bech.

Para apoiar as pessoas que sofrem os efeitos crônicos do conflito e da pobreza, o CICV realiza programas que visam ajudar as barangays (aldeias) e comunidades mais vulneráveis a se reerguerem e serem mais resilientes.

Esses programas empregam um enfoque participativo no qual as pessoas beneficiadas identificam as suas próprias necessidades. Realiza-se uma série de consultas e discussões com o CICV para determinar que tipos de projetos são adequados e como implementá-los e sustentá-los de maneira efetiva.

Todos os projetos são monitorados e avaliados por meio de visitas ao terreno realizadas pela equipe do CICV com o apoio de voluntários da Cruz Vermelha Filipina, o principal parceiro do CICV no país.

Criando oportunidade

Na região montanhosa de Guihulngan, na província de Negros Oriental, o milho é o alimento básico e principal fonte de subsistência das comunidades. Os agricultores, no entanto, devem viajar para uma cidade distante para moer o seu milho, o que representa um considerável gasto de dinheiro e esforço.

A comunidade agrícola identificou isso como um desafio e, quando o CICV chegou para apoiar, eles propuseram construir uma moenda de milho. Em março, a moenda começou a funcionar e já beneficia agricultores de sete barangays e melhorou a qualidade da moagem.

Também criou oportunidades de negócios e emprego, já que a associação local lucra com a sessão de moagem e usa a renda para empregar pessoas na manutenção da moenda. A associação faturou mais de 65 mil pesos filipinos desde março de 2015. O projeto também incentivou os pequenos agricultores a usar parcelas dos seus lotes para cultivar o milho.

"Quando soubemos que seria construída uma moenda de milho na nossa barangay, nós (os moradores) ficamos muito felizes. A moagem manual não é suficiente e não chega a favorecer a todos nós. Também leva uma hora para moer 2,5 quilos de milho, enquanto que com a máquina o processo leva apenas 15 minutos", lembra Segondo Cañafuego, um agricultor de 53 anos, morador da Barangay Planas, em Guihulngan.

"Estou pensando agora em plantar toda a minha terra com milho por causa da máquina de moer que funciona aqui", acrescenta.

Enquanto isso, em Negros Occidental, também em Visayas Ocidentais, a plantação de arroz é a principal fonte de subsistência. Em 2015, o CICV apoiou as associações de agricultores locais nas barangays da baixada em Sipalay com a entrega de tratores manuais arados de arroz, aumentando assim a eficiência na produção. Como a moenda de milho em Guihulngan, essas máquinas agrícolas fornecem uma renda extra para as pessoas que as operam e para a associação local.

Para complementar a renda do marido com a plantação de arroz, Vilma, moradora de Sipalay, Negros Occidental, começou uma pequena horta com as sementes que recebeu do CICV. Os legumes colhidos da sua terra proporcionam uma refeição nutritiva para a família. CC BY-NC-ND / CICV / V. Gustilo

Para Lope de Vega, um município no norte de Samar, a devastação nas plantações de abacá causada pelo vírus do topo em leque teve um grave impacto nos meios de subsistência dos agricultores. O abacá é considerado um importante "cultivo comercial" ou um dos que pode ser facilmente vendido por sua fibra. Depois de avaliar essa necessidade com a comunidade, o CICV distribuiu mudas resistentes ao vírus para que os moradores pudessem voltar a gerar renda a partir do abacá.

Ajudando a si mesmos e a comunidade

Com o sistema de remuneração por trabalho prestado, as pessoas identificadas como mais vulneráveis devido à falta de renda estável – como os trabalhadores sem-terra e os agricultores sazonais – encontrarão meios temporários para gerar renda ao trabalhar em projetos que também beneficiam diretamente as suas comunidades.

A mão-de-obra não qualificada recebe pelo menos 250 pesos Filipinos por dia, enquanto a qualificada recebe um pouco mais. Esses trabalhadores quase sempre têm a oportunidade de trabalhar por 10 a 15 dias.

Esses projetos, que são escolhidos pelas comunidades em função das suas necessidades, não são exaustivos e, portanto, podem envolver mulheres e idosos. Nos municípios de Juban e Gubat, Sorsogon, que têm barangays no interior e nos planaltos, onde o acesso pode ser difícil, sobretudo durante a temporada de chuvas, projetos como a abertura e/ou ampliação de estradas nas barangays e a construção de caminhos de concreto para o acesso às fontes de água potável são selecionados pelas comunidades por meio de discussões de grupos focais.

Na Barangay Catanusan, em Juban, a comunidade optou por uma atividade de remuneração por trabalho realizado, que seria o conserto da rede de irrigação para apoiar as suas atividades agrícolas. CC BY-NC-ND / CICV / R. Villamor

Outros projetos incluem hortas que beneficiam os programas de alimentação para crianças, o conserto de igrejas, a construção de cercas nas escolas, centros comunitários nas barangays e poços de compostagem. Na maioria desses projetos, as barangays fornecem o material e representam um papel crucial na supervisão da sua implementação.

Embora temporário, o programa de remuneração por trabalho prestado garantiu renda para 616 pessoas em 11 barangays em Juban e Gubat, entre julho e outubro.

Esses programas mostram que, ao usar um enfoque que inclui a comunidade, a sua população se torna mais resiliente e mais bem preparada para se reerguer diante a futuros desafios.

De janeiro a setembro de 2015, o CICV em Luzon e Visayas:

  • Distribuiu ferramentas agrícolas, materiais agrícolas e equipamentos para 2.360 famílias;
  • Proporcionou rendas em curto prazo para 551 pessoas empregadas nos projetos de remuneração para trabalhos prestados;
  • Facilitou empréstimos condicionais para 887 famílias para os seus respectivos projetos de subsistência;
  • Realizou vários programas de treinamento e melhorou as habilidades de 160 pessoas.

Em resumo, o CICV assistiu 20.507 pessoas em sete municípios afetados por conflitos por meio de programas para fortalecer a sua resiliência.

Mais informações:

Allison Lopez, CICV Manila, tel.: 0908 868 6884
Wolde-Gabriel Saugeron, CICV Manila, tel.: 0918 907 2125