“Diga a ele que o amamos profundamente”: famílias de prisioneiros de guerra estão desesperadas por respostas
Enquanto o conflito armado internacional se estende na Ucrânia, os familiares de prisioneiros de guerra estão desesperados por respostas sobre seus entes queridos. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) dedica recursos significativos para ajudá-los em tempos tão difíceis, uma atividade que está na essência de seu mandato há mais de 150 anos.
"Por favor, diga a meu marido que estamos esperando que ele volte. A filha e a esposa dele estão esperando. Diga a ele que o amamos profundamente."
Maria* e sua filha são apenas uma entre milhares de famílias de prisioneiros de guerra que entraram em contato com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) nos últimos meses, desesperadas por notícias de seus entes queridos. Desde fevereiro, o CICV recebeu mais de 17 mil ligações e e-mails de pessoas que buscam notícias de seus familiares. Muitas das pessoas que entram em contato são familiares de prisioneiros de guerra, que geralmente sentem frustração, raiva e desamparo depois de semanas ou meses sem notícias de seus entes queridos.
Sasha*, uma mãe que procurava o filho, disse à nossa equipe: "Já não tenho mais forças. Espero muito que ele esteja bem."
Prisioneiros de guerra e as Convenções de Genebra
As Convenções de Genebra de 1949 – assinadas por todos os países do mundo – expressam claramente que os prisioneiros de guerra e a população civil devem ser protegidos durante conflitos armados internacionais e que o CICV deve ser autorizado a visitar pessoas civis privadas de liberdade e todos os prisioneiros de guerra, independentemente do lado pelo qual estavam lutando. No entanto, embora o CICV tenha conseguido visitar alguns prisioneiros de guerra e outras pessoas detidas, não obteve acesso para visitar todos.
O CICV precisa ter acesso a todos os prisioneiros de guerra e civis privados de liberdade, onde quer que estejam detidos, para avaliar o tratamento que recebem e as condições de detenção, e para tranquilizar seus familiares.
Esse direito de acesso, consagrado no Direito Internacional Humanitário, não é negociável – assim como a obrigação das partes de informar o CICV de todos os prisioneiros de guerra sob seu controle. Além disso, as famílias têm o direito de saber o que aconteceu com seus entes queridos.
Robert Mardini, diretor-geral do CICV
As visitas do CICV a prisioneiros de guerra ajudam a garantir o respeito por sua vida e dignidade, lembrando às autoridades que o tratamento das pessoas detidas e as condições de internamento ou detenção devem respeitar as normas estabelecidas pelo Direito Internacional Humanitário (DIH). Isso inclui acesso a alimentos, água e assistência médica. Essas pessoas também não podem ser torturadas, intimidadas nem expostas à violência. Além disso, devem ser protegidas da curiosidade pública.
Agência Central de Busca do CICV
De acordo com as Convenções de Genebra, as partes no conflito armado internacional na Ucrânia também devem compartilhar informações sobre prisioneiros de guerra e outros civis protegidos privados de liberdade, vivos ou mortos, por meio de seu Departamento Nacional de Informações (ou equivalente) com a Agência Central de Busca (ACB) do CICV.
Em março, o CICV criou um escritório da ACB dedicado exclusivamente ao conflito armado internacional na Ucrânia para atuar como um intermediário neutro entre as partes e aliviar o sofrimento das famílias que permanecem sem notícias de seus entes queridos, tanto militares quanto civis, por causa do conflito, seja porque caíram nas mãos do inimigo ou porque fugiram de suas casas e perderam o contato. Além disso, o escritório da ACB, em coordenação com a rede de delegações do CICV e das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, ajuda as famílias que foram separadas pelo conflito a encontrar seus familiares.
Desde fevereiro de 2022, o CICV recebeu e transmitiu informações sobre milhares de casos, inclusive sobre o paradeiro e a saúde de prisioneiros de guerra, além de outros detalhes pessoais. As informações são compartilhadas com as partes e com os familiares.
"Essas informações ainda vão estar disponíveis daqui a cinco meses ou 50 anos", disse a chefe da Agência Central de Busca do CICV, Florence Anselmo. "É essencial conservar um registro do paradeiro dos prisioneiros de guerra, não apenas enquanto os combates estão sendo travados, mas também para as gerações futuras, para os filhos e netos que talvez, algum dia, desejem saber o que aconteceu com seu familiar."
"Eu só quero que ele volte vivo"
"É um alívio enorme receber notícias de um ente querido que foi capturado. Mas esse alívio só dura alguns segundos, a preocupação nunca desaparece. As pessoas nos perguntam: quando foi a última vez que tivemos notícias? Eles ainda estão bem? E agora, o que vai acontecer? Elas se sentem desesperadas, sem poder fazer nada", disse Anselmo.
Através da Agência Central de Busca, o CICV forneceu informações a mais de 2 mil famílias sobre seus entes queridos, inclusive prisioneiros de guerra, desde fevereiro de 2022.**
"A última vez que soube do meu filho foi há mais de um mês. Ele me pediu que mandasse roupas, então tenho costurado modelos que ele pode gostar. Estou muito preocupada com a saúde mental dele, com o que ele come e bebe. Eu só quero que ele volte vivo", disse Natália.*
Mas muitos outros pais, mães, irmãos, irmãs, filhos e filhas precisam e merecem obter respostas.
"Sabemos que as famílias estão sofrendo por não saber como seus entes queridos estão, se estão saudáveis ou doentes, ou mesmo se estão vivos ou mortos", disse Mardini. "Não descansaremos enquanto não tivermos acesso a todas as pessoas privadas de liberdade neste conflito armado. Ter acesso a apenas algumas delas simplesmente não é suficiente. E não descansaremos enquanto seus entes queridos não obtiverem as respostas de que precisam e que merecem."
*Os nomes foram modificados.
**Este número inclui tanto famílias de prisioneiros de guerra quanto pessoas em outras situações, como as que procuram um familiar.