Senegal: “E o mar o levou para sempre”
Eles desapareceram há dez anos. Homens de todas as idades que deixaram o Senegal na esperança de uma vida melhor, para nunca mais serem vistos. As famílias ainda buscam respostas.
Como se pode colocar em imagens tamanha ausência? Enviamos o fotógrafo José Cendon para Gandiol, Senegal, para documentar os espaços – e as vidas – das pessoas que ficaram para trás.
"Ele era muito bom para consertar aparelhos eletrônicos", conta o pai, Insa Wade. "Até os vizinhos costumavam trazer todos os tipos de aparelhos para consertar.
Talvez ele pudesse ganhar a vida na Espanha fazendo isso se ele não tivesse desaparecido."
Quando ele era criança, a sua mãe, Ndeye Diaw, o encontrou neste baobá, ao lado da casa, vestindo uma camiseta e uma máscara, tentando retirar mel de uma colmeia cheia de abelhas. Para a sua mãe, esta árvore contém muitas histórias. Uma vez, tentaram cortá-la porque estava crescendo para dentro da casa.
Mas o baobá continua crescendo.
A sua mãe, Fatou, lembra como, há dez anos, não havia luz no povoado. Ablaye, então, ia para a casa de um vizinho que tinha um gerador para assistir filmes de ação. "Ele gostava muito dos filmes do Rambo", conta Fatou.
"Se ele estivesse vivo hoje, poderia assistir aqui comigo nesta TV."
A sua esposa ainda guarda as ferramentas de carpintaria, que ela mostra sobre um tapete.
Ela guarda os instrumentos caso ele volte, assim "ele poderia trabalhar e nós poderíamos ter a mesma vida de antes."
Estas são pegadas deixadas por um pescador em uma praia próxima ao povoado de Ndiebelene. "Ele cresceu pescando e amava o mar mais do que qualquer outra coisa no mundo", diz a mãe, Faousseuk Fall.
"E o mar o levou para sempre."
Esta é a vista do quarto onde ele costumava dormir com a sua mãe, Ndeye Coumba Fall, quando era criança.
Alguns anos atrás, o mar chegou até a casa deles e destruiu o quarto, obrigando-os a abandoná-la.
Yancoba (dir.) com um amigo na foto, tinha 25 anos quando desapareceu.
Este prédio é tudo que ele deixou para trás. Ele o construiu com as suas próprias mãos e viveu ali com a mulher e o filho.
Hoje a sua mulher voltou a se casar e saiu da pequena casa, que está agora ocupada pela irmã de Yancoba e o filho.