Somália: em busca da autonomia com cooperativas agrícolas
Em um pequeno vilarejo rural próximo a Beletweyne, Somália, as famílias contam com um projeto de cooperativa para semear e colher sorgo e gergelim por meio do uso de equipamentos agrícolas próprios da comunidade. Compartilhar recursos vitais como esse é um estilo de vida no país.
Abdullahi Osman não conseguia um trabalho estável há 20 anos, desde a guerra civil na Somália, em 1992. Hoje, com a assistência do CICV, ele tem uma história diferente para contar. O homem, de 55 anos, entrou para uma cooperativa agrícola que possibilitou que ele pudesse sustentar a própria família.
No vilarejo de Bacaad, onde Abdullahi mora, as tradicionais cabanas de palha estão localizadas nos campos de milho e sorgo. A maioria das famílias que moram ali sobrevivem como agricultores ou pastores. O sol da manhã traz o som dos rebanhos de camelos e cabras misturados indo em direção ao rio.
No entanto, a vida desse homem com três filhos deu uma guinada diferente. Antes da guerra civil, Abdullahi tinha um trabalho estável, administrando uma fazenda na cidade de Jowhaar. A vida piorou quando ele teve de deixar essa estabilidade em Jowhaar e se instalar no vilarejo de Bacaad como consequência do conflito.
Ajuda da família
Sem uma renda estável, Abdullahi recorreu aos tios, que têm pontos de venda no vilarejo, para conseguir ajuda.
"Algumas vezes, eu voltava para casa com alguma coisa, eu não tinha tanta sorte", lembra.
Os tios dele já estavam familiarizados com o contexto de desemprego e ajudaram-no a ter um meio de subsistência. Eles o apresentaram para um grupo de pessoas que planejavam dividir um pedaço de terra cultivável entre si e prometeram que o ajudariam a arrecadar o dinheiro necessário para cadastrar a terra.
"Sou grato aos meus tios. Eles me ajudaram a arrecadar 120 dólares de taxa de cadastro para estar entre os donos de um pedaço de terra", conta.
Desafio cooperativo
As condições climáticas na região favorecem o cultivo, mas a cooperativa de 115 membros enfretou desafios de arar a terra. Não havia tratores disponíveis no vilarejo e alugar um de uma cidade próxima a Beletweyne custaria 50 dólares por hora.
"Não podíamos gastar esse dinheiro e, em vez disso, decidimos arar com as próprias mãos. Isso nos custou tempo e energia. Foi cansativo", explica Abdullahi.
Em abril de 2015, o CICV apoiou 16 cooperativas na Somália com um trator para cada uma.
A cooperativa de Bacaad estava entre as beneficiadas. Além disso, a cooperativa também recebeu treinamento para os agricultores em negócios, planejamento, coleta de dados e estabelecimento de metas.
Hoje, Abdullahi vende sorgo e gergelim e pode levar três refeições por dia à mesa da sua família. A sua última colheita, em janeiro de 2016, produziu 20 bolsas de sorgo e outras 10 de gergelim.
"Recebi muito treinamento. Agora, o meu plano para aumentar a renda é comprar um pouco mais de terreno para cultivar e, se Deus quiser, nos mudaremos para uma cidade para poder mandar o meu filho para a escola", conta.
Dusan Vokotic, responsável pelo programa de apoio aos meios de subsistência na Somália, está otimista quanto à crescente autonomia das comunidades.
"O apoio às cooperativas locais por meio do fornecimento de máquinas e equipamentos para os agricultores permitirá que aumentem a sua produção. Isso ajuda a suavizar as variações sazonais de mantimentos na comunidade como um todo", afirma Vukotic.
Em 2015, o CICV ajudou mais de 38 mil pessoas na Somália com tratores e ferramentas agrícolas.