Somália: mulheres empreendedoras ganham seu sustento nos campos de deslocados de Mogadíscio

20 março 2018
Somália: mulheres empreendedoras ganham seu sustento nos campos de deslocados de Mogadíscio
Fatuma Ibrahim vende roupas para se sustentar. Em um dia ela pode ganhar até 3 dólares, ajudando na criação dos oito filhos. CC BY-NC-ND / CICV / Anisa Hussein

Todas as manhãs, às 8h, Fatuma Ibrahim se prepara para a sua ronda de casa em casa para vender baati e garbassar - vestidos e véus de algodão, tradicionais da Somália. Esta é a sua rotina diária desde que chegou ao campo de deslocados de Kalkal em Mogadíscio, capital da Somália, há mais de dois anos.

No campo vivem 800 deslocados que fugiram das suas casas em decorrência do conflito e da seca. "Eu era uma agricultora em um povoado chamado Galweyn em Lower Shabelle quando começou uma disputa entre os clãs e não tive outra escolha que fugir com os meus oito filhos", conta Fatuma.

Ao chegar ao campo em Mogadíscio, ela usou as suas economias para abrir um pequeno negócio de venda de roupas aos vizinhos. Em um bom dia, ela chega a ganhar 3 dólares. Às vezes, as suas clientes compram roupas a crédito.
Fatuma é uma das pessoas do campo de Kalkal que receberão 255 dólares do CICV, por um período de três meses, em um esforço para ajudá-las a se sustentar e ampliar os seus pequenos negócios. "Agora posso planejar como usar o dinheiro para comida e para comprar mais roupas para as minhas vendas", explica Fatuma.

A maioria das mulheres que vivem no campo de Kalkal são viúvas ou mães solteiras, segundo a líder do lugar, Shamso Maalim. A extrovertida mulher de 38 anos é responsável pelo campo há 13 anos, bem como pela defesa dos interesses da sua comunidade perante as organizações humanitárias.

Shamso Maalim é lider do campo de deslocados de Kalkal, que abriga 800 pessoas. Ela supervisiona a vida no campo e busca formas de superar os desafios enfrentados pela população do lugar. CC BY-NC-ND / CICV / Anisa Hussein

As transferências monetárias também ajudarão a artista de henna do campo – Sahra Adhan. A empreendedora de 39 anos começou praticando em um pedaço de papel que se transformaram depois em uma coleção de desenhos. "Não tenho dinheiro para comprar equipamento ou para um salão para aplicar a henna e fazer penteados para as minhas clientes", diz.

Sahra mudou-se de Balcad, Middle Shabelle, a Kalkal com os vizinhos, há dois anos, devido ao conflito entre os clãs e o agravamento da estiagem na Somália que causaram a morte dos seus animais de criação e secaram os campos de cultivo. "Nos mudamos correndo e perdi o meu caderno com os desenhos na pressa em chegar a um lugar seguro", conta.

Embora tenha deixado o seu caderno para trás, Sahra – mãe solteira – usa as suas habilidades com a henna para sustentar a si mesma e aos filhos.

Sahra Adhan é uma artista de henna popular no campo de deslocados de Kalkal. O seu negócio possibilitou que ela ganhe dinheiro suficiente para alimentar os seus filhos e mandá-los para a dugsi (madraça ou escola islâmica). CC BY-NC-ND / CICV / Anisa Hussein

"Comecei desenhando nas mãos das minha filhas e amigas delas para aperfeiçoar a minha técnica, mas agora tenho clientes, minhas vizinhas, que vêm até a minha tenda para a aplicação de henna", diz. "A maioria vem quando elas têm um casamento ou só porque querem ficar bonitas."

Embora o conflito e a seca sejam obstáculos constantes para a comunidade dela, Shamso e outros membros do comitê enfrentam agora outro desafio: um fluxo de pessoas que foram expulsas de outras áreas de Mogadíscio e que precisam de um lugar para reassentar. Causadas pelas disputas por terra, as expulsões arrancaram 4 mil pessoas das suas casas, deixando-as desabrigadas, sem acesso à assistência à saúde, água, alimentos e outras necessidades básicas.

Ela calcula que o campo recebe centenas de pessoas por dia, vindas de outras áreas da cidade. "Recebemos grandes quantidades de pessoas que foram expulsas à força dos seus cultivos, chegando ao nosso campo no início do ano", relata Shamso.