Sudão do Sul: lançamentos aéreos de comida na região dos pântanos
O CICV realiza atualmente lançamentos aéreos para distribuir alimentos em Toch, Sudão do Sul, uma área remota no Estado de Jonglei – acessível apenas de barco ou avião – onde estão deslocadas 1,5 mil das 3,5 mil famílias registradas pelo CICV para receber assistência.
Durante o último ano, a população da pequena aldeia de Toch triplicou com a chegada de milhares de pessoas que se mudaram a essa região pantanosa, no norte do país, para fugir da violência incessante. Muitas vieram do vizinho Estado de Unity
Estima-se que a operação, que começou em 25 de agosto, dure cerca de 10 dias. Durante este período, dois aviões de carga farão voos diários para levar mais de 400 toneladas de comida para uma população de aproximadamente 22 mil pessoas nessa região. Sorgo, feijão, sal, açúcar, óleo e suplemento nutricional para crianças são alguns dos produtos distribuídos.
"Sem colheita no ano de 2014 e poucas chances de que haja uma neste ano, os moradores estão sobrecarregados ao acolher uma grande quantidade de deslocados internos, já que há escassez de comida, que consiste basicamente de lírios d'água e plantas silvestres", afirmou Aslan Tukhusjev, delegado do CICV que coordena a distribuição no Sudão do Sul.
"Após discussões com as autoridades locais e uma recente avaliação conduzida pelas nossas equipes no terreno, vemos que existe uma real necessidade de assistência aqui", enfatizou.
Em Toch, como em muitos outros lugares em todo o país, o CICV trabalha em estreita parceria com a Cruz Vermelha do Sudão do Sul. David Dak Chak, que trabalha nesta organização no condado de Fangak, ajudando com a distribuição, conta: "os lançamentos aéreos são um grande desafio. Há cobras e outros animais que se escondem nos juncos. Pode ser perigoso, mas não há outra alternativa para levar comida nesta área. Está tudo inundado".
Além dos alimentos distribuídos aos moradores e deslocados, estes últimos considerados ainda mais vulneráveis, também são entregues kits de pesca para ajudá-los a melhorar os seus meios de subsistência.
Algumas das pessoas que recebem ajuda com os lançamentos
Deng Wal (25, esq.) e o irmão Lam Gatkuoth (22) vêm da boma (aldeia) de Kuerdeng, distante quatro horas de caminhada. "Ouvimos falar das distribuições", conta. "Comemos peixe e lírios d'água, mas não é suficiente". Os irmãos compartilharão a comida com 20 outros familiares.
Tut Baab (14) e a mãe Nyajal Kulang, que também são de Kuerdeng, diz: "os sacos e o óleo que recebemos hoje são para a nossa família. Somos 15 pessoas."
Nyakoand Bar (13, centro), que vive perto de Kuerdeng, viajou com o pai Bar Youl (esq.) e o tio Gai Gatpan. "A coisa mais difícil é carregar os sacos, que são pesados", diz. "Caminhamos durante seis horas para chegar a Toch. Que bom que temos comida agora."
Nyajuma Luony (19, esq.) e a prima Nyasunday Gatbel (19) fugiram do Estado de Unity por causa dos combates. Elas vivem agora em Toch com suas famílias, um total de 22 pessoas. "Não é fácil aqui porque está sempre inundado, mas é seguro", afirma Nyajuma.
Magok Yut (32) saiu de Bentiu com a mulher e os três filhos em maio de 2015 por causa dos combates. Ele conta: "peguei uma canoa e vim até aqui. Vivo agora em Old Fanak. Precisamos da comida."
Thong Jal (45), suas duas mulheres e dez filhos vieram de Koch, Estado de Unity, há poucos dias. Levaram cinco dias para chegar até Toch de canoa. "Somos cinco famílias e todos saímos de Koch por causa da violência", explicou. "A minha casa não é longe de Toch. Vi e escutei os aviões do CICV, então vim ver o que estava acontecendo. Só estou olhando".
Toch está localizado em uma área remota, rodeada por pântanos que fazem com que os lançamentos de comida sejam um grande desafio.
Todas as fotos: CC BY-NC-NC / CICV / Yamila Castro