Sudão do Sul: perna protética transforma a deficiência em habilidade

Em outubro de 2015, o fotógrafo britânico Giles Duley viajou ao Sudão do Sul com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Giles, com três membros amputados por causa de um artefato explosivo improvisado no Afeganistão, visitou o Centro de Referência em Reabilitação Física, em Juba, que auxilia as pessoas com deficiência física a reconstruir as suas vidas. Conheceu ali Nelson Nyumbe.
É impossível não gostar do Nelson ao conhecê-lo. "Desculpe, senhor", ele pede com um grande sorriso, "posso ver as suas pernas?"
Eu visitava o Centro de Referência em Reabilitação Física, em Juba, Sudão do Sul. Desde que foi construído em 2009, o centro, com 50 leitos, vem oferecendo reabilitação, próteses e aparelhos ortopédicos para uma grande variedade de beneficiários em todo o país. Como se poderia esperar, depois de décadas de guerra, a maioria dos pacientes foram feridos por minas terrestres e outros resíduos de guerra. O Centro atende também as pessoas com deficiências desde o nascimento, as que adquiriram a deficiência por doença e, cada vez mais, por acidentes automobilísticos. Estima-se que no Sudão do Sul já há mais de 40 mil pessoas que precisam desse serviço.
Centro de Reabilitação Física, Juba, Sudão do Sul. Os funcionários ajudam Nelson a dar os primeiros passos com a nova perna. CC BY-NC-ND / CICV / Giles Duley.
O paciente mais recente foi Nelson Nyumbe, 70, que sofreu a amputação da perna em 2015 após complicações associadas com a diabete. Quando o conheci, ele aguardava a fabricação da sua primeira perna protética.
Sendo também um amputado, sei como é difícil esses primeiros meses. Deixar uma vida ativa para repentinamente depender de outros. É um período de muita incerteza, de mudanças inesperadas. Lembro-me de como me senti ao me deparar com a prótese pela primeira vez e compreendi a curiosidade de Nelson.
Sentamos para conversar um pouco enquanto Nelson examinava as minhas pernas e fazia perguntas. Para ele, a principal questão era a dependência dos outros.
"Tantas pessoas são abandonadas quando passam a ter uma deficiência", explica Nelson, "este é um projeto importante para essas pessoas. Não quero ficar dependendo da minha família, quero fazer as coisas da minha maneira, sozinho".
Dez dias depois, voltei ao Centro de Reabilitação e um Nelson radiante me cumprimentou, de pé com a sua nova perna entre as barras paralelas.
"Veja", exclamou, "estou de pé! Quero ter capacidade e não deficiência, e esta nova perna vai me devolver a independência".
Centro de Reabilitação Física, Juba, Sudão do Sul. Um radiante Nelson Nyumbe mostra a perna protética que restabeleceu a sua independência. CC BY-NC-ND / ICRC / Giles Duley.
Foi incrível, em pouco mais de uma semana, Nelson tinha a sua primeira perna protética, dando os seus primeiros passos em direção à independência. Tendo passado pela mesma experiência, sei como este momento é crucial e transformador. Sem o trabalho do CICV no Sudão do Sul, milhares de pessoas como o Nelson nunca recuperariam a sua independência.
Eu sou uma das pessoas agradecidas por esse trabalho.