Uma perspectiva de gênero

29 maio 2015
Uma perspectiva de gênero
Uma enfermeira da Missão Médica conversa com uma mulher que segura seu bebê no colo. CC BY-NC-ND / CICV / Christoph Von Toggenburg

Jessica Cadesky é gerente de projetos da Cruz Vermelha Sueca e dirigiu o estudo de que resultou no relatório O acesso à saúde durante conflitos armados e outras emergências: examinando a violência contra a assistência à saúde sob uma perspectiva de gênero. Nesta entrevista, Cadesky conta as conclusões do estudo e o que motivou a sua realização.

Por que a Cruz Vermelha Sueca decidiu estudar a relação entre o projeto Assistência à Saúde em Perigo e o gênero?

Sugerimos fazer esta pesquisa porque queríamos ajudar a comunidade de profissionais do projeto Assistência à Saúde em Perigo e outros a desenvolverem uma compreensão mais sutil do impacto da violência contra a assistência à saúde e para avançar além da questão de quem era mais vulnerável. O estudo também surgiu de um compromisso conjunto, feito entre o governo sueco e Cruz Vermelha Sueca na 31° Conferência Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho de procurar pesquisar sobre gênero e Direito Internacional Humanitário (DIH), o qual, é claro, está muito vinculado com o projeto Assistência à Saúde em Perigo.

Qual a finalidade do estudo?

O objetivo principal é contribuir com exemplos sobre a utilidade de analisar os problemas sob uma perspectiva de gênero, isto é, como que fazendo isso pode nos ajudar a identificar e abordar os desafios que afetam o acesso à assistência à saúde. Decidimos analisar os obstáculos e desafios específicos enfrentados por cada grupo: homens, mulheres, meninos e meninas; também examinamos até que grau as diferenças de gênero foram levadas em consideração e o impacto dessas diferenças na aplicação do DIH que rege a assistência à saúde.

Jessica Cadesky, Gerente de Projetos, Cruz Vermelha Sueca

Quais são as principais constatações?

Em primeiro lugar, constatamos que os dados confiáveis discriminados por sexo e idade não estavam acessíveis, o que dificulta muito a identificação dos riscos específicos que homens, mulheres, meninos e meninas correm. O estudo chama a atenção para as formas em que o gênero pode ter peso na determinação do acesso à assistência à saúde. Por exemplo, no contexto de ambos os casos estudados - o Líbano e a Colômbia - chegar a um estabelecimento de saúde era particularmente complicado para alguns homens adultos (tanto para os que prestam como para os que buscam assistência à saúde), porque se presumia rapidamente que participavam do conflito e portanto eram vulneráveis a ameaças ou ataques. É claro, para discutir plenamente todas as constatações e recomendações, recomendo a leitura do relatório completo!

Quais são as recomendações do estudo e para quem estão dirigidas?

O estudo faz recomendações para cinco grupos básicos: atores armados, atores estatais, ONGs e o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, prestadores de assistência à saúde e membros das comunidades. As recomendações básicas são as seguintes: compilar e compartilhar dados sobre os incidentes discriminados por sexo e idade; empregar uma perspectiva de gênero na hora de implementar recomendações relacionadas com a Assistência à Saúde em Perigo; considerar a forma em que as decisões operacionais poderiam afetar de forma diferente homens, mulheres, meninos e meninas; pesquisar mais sobre cada contexto específico em uma perspectiva de gênero.

Esperamos que este estudo inspire outras partes interessadas a refletirem sobre o fato de que homens, mulheres, meninos e meninas podem vivenciar incidentes de violência contra a assistência à saúde de forma diferente, e sobre o que podemos fazer para garantir que todos os grupos recebam a assistência à saúde que precisam quando estão doentes ou feridos, sem distinções adversas.